Estariam as instituições e fontes pagadores da saúde preparadas para lidar com o crescimento massivo da população idosa do País? Afinal, a tendência trará reflexos não só para os resultados econômicos, com a diminuição na oferta da mão de obra disponível, mas também no orçamento dos hospitais e operadoras, uma vez que 80% dos brasileiros com mais de 60 anos já apresenta ao menos uma doença crônica. Como lidar com a questão?
Um debate quente buscando respostas tomou corpo durante o Saúde Business Forum 2014, realizado pela IT Mídia na Ilha de Comandatuba, na Bahia. É unanime a percepção de que a questão deveria ter passado da fase de planejamento e se tornado desde já um impulsionador de soluções concretas. Afinal, o envelhecimento não é um problema pontual para ser encarado no futuro, mas um processo já em evolução.
Um exemplo de como encarar a questão vem do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que investiu, primeiro, na adaptação de sua infraestrutura física para acessibilidade dos idosos – que naquele momento já respondiam por 20% dos atendimentos – e, depois, em promoções de iniciativas de promoção à saúde e envelhecimento saudável. Esta última, aliás, estendida para os próprios funcionários da instituição, ajudou a reduzir reajustes de planos de saúde corporativos nos últimos três anos.
Hoje, a instituição dedica cerca de 1 mil m² em iniciativas de promoção à saúde, voltada especialmente para pacientes idosos, de modo a manter-lhes autonomia e prevenir doenças crônicas. “É uma coisa que dá bastante certo”, ponderou Paulo Bastian, superintendente executivo do Oswaldo Cruz. “Com a qualidade assistencial que a gente passou a ter, garantimos uma série de outras atividades.”
Como resultado, o número de internações de pessoas acima de 60 anos no hospital cresceu, transformando-o em referência na área: em 2014, das 17 mil internações realizadas pelo Oswaldo Cruz, ao menos 7 mil correspondiam a pacientes com mais de 60 anos. “Criamos uma demanda segmentada”, explicou. “O hospital acabou se tornando referência.”
Público
Antônio José Pereira, ou Tom Zé, como é mais conhecido, também participou do debate sobre envelhecimento mostrando um pouco da experiência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), do qual é superintendente médico. Hoje, além de mutirões para o tratamento ou intervenção de doenças crônicas (como a catarata) e das estratégias de envelhecimento saudável, o hospital aposta em um modelo de gestão que amplie o número de leitos de retaguarda.
Atualmente em obras, estão sendo ampliadas as unidades de Suzano e Cotoxó, de modo a abrigar de forma mais humanizada os pacientes de longa permanência, notoriamente idosos, desafogando outros hospitais do complexo. Atualmente, 20% dos leitos do estado de SP são de responsabilidade do HC, o que por si já demonstra o tamanho do desafio de gestão.
“Hoje, um leito de alta complexidade no Hospital das Clínicas custa para o SUS cerca de R$ 1.800 por dia, enquanto um de retaguarda não passa de R$ 450”, disse, ao ressaltar que fazer a gestão dos leitos de urgência, emergência e retaguarda ainda é um problema grande. “A tecnologia na área da saúde ainda está na idade da pedra.”
Diretrizes
Participante ativa, a plateia do debate sobre envelhecimento apontou uma carência de políticas globais claras a respeito do tratamento dos idosos no sistema de saúde, seja público ou privado. “Não temos que reinventar a roda. A saída é apostar em saúde da família”, ponderou o José Renato Schimdt, presidente da Unimed Pindamonhangaba, ao pregar uma mudança no modelo de assistência que ainda privilegia a doença, em detrimento da Saúde.
Duro ao criticar a agência reguladora do setor de saúde suplementar, Schmidt recebeu o apoio de Denise Eloi, presidente da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), para quem a ANS já poderia ter investido mais em “orientar um modelo de assistência no setor de saúde suplementar”. No entanto, disse, o interesse repousa muito mais em medidas reativas de mercado.
A Unidas, aliás, já enfrenta uma questão demográfica de envelhecimento “já há muito tempo”, explica Denise. Atualmente, entre as autogestões associadas, 22,8% da população é formada por idosos, perfil semelhante ao do Brasil de 2050.