O Research Center, núcleo de pesquisa da Afya, apresenta a primeira edição de um censo inédito sobre Panorama Financeiro do Médico. Dos mais de dois mil especialistas entrevistados, 42,6% se queixam do grande volume de trabalho. Entre os aspectos mais desafiadores da profissão, 39% apontam a baixa remuneração de fontes pagadoras e 32,6% dos respondentes destacam as condições inapropriadas para exercer o trabalho.
O estudo avaliou que a renda líquida do médico é de, aproximadamente, R$ 18 mil por mês, e, como esperado, o salário apresenta diferenças a depender do grau de formação. Para 74,5% do grupo, a remuneração atual não é justa e o entendimento de ganho deveria ser, ao menos, 40% maior.
A amostra retrata também que os contratos de trabalho em formato Pessoa Jurídica (PJ) representam 51,5% da dinâmica de atuação dos especialistas e que a despesa mensal de 33,1% dos respondentes flutua entre R$ 5,1 e R$ 10 mil mensais. A organização financeira é um ponto de atenção, uma vez que apenas 29,8% se consideram completamente aptos a administrar o dinheiro. Quando questionados por quanto que conseguiriam se manter sem trabalhar, em caso de emergência, 24,4% apontaram no máximo 6 meses.
Em média, 71% do salário do médico estão comprometidos com gastos fixos. O destino é variado: para 63,6% dos pesquisados, o principal corresponde a despesas médicas (próprias ou de familiares); 47,8% são dívidas de cartão de crédito; 47% com aluguel de casa/apartamento e 36,5% com gastos com filhos. A pesquisa revelou ainda um dado curioso e preocupante: o médico consegue poupar apenas 15% do salário mensal.
“Os achados da pesquisa buscam contribuir para a mudança de percepção da figura do médico, da gestão da rotina e de sua trajetória financeira. Buscamos não apenas informar o médico, na comparação do próprio com outras carreiras, como também revelar as oportunidades de apoio a esse profissional no seu dia a dia, especialmente no que se refere a desafios financeiros”, revela o médico Eduardo Moura, diretor da Research Center da Afya.
O estudo retrata que o início da gestão financeira dos médicos começa no investimento do curso superior. Dos que estudaram em instituições privadas, 35,1% pagaram pelo ensino de forma integral, sem bolsa ou qualquer tipo de auxílio. Os familiares seguem como principais fontes de renda, sendo que 82% dos respondentes indicaram que tiveram o curso pago pelos pais. Chama a atenção o foco em educação continuada: 78,2% dos especialistas apontaram ter realizado algum investimento em novos conhecimentos, com gasto médio de aproximadamente R$ 8 mil.
Um olhar para a rotina médica
No dia a dia das clínicas e consultórios, aproximadamente 95,2% dos pagamentos são realizados em dinheiro, seguido do PIX e transferência bancária, com 84,6% e 62,5%, respectivamente. A relação financeira com fontes pagadoras, como planos de saúde e hospitais, também foi explorada na pesquisa, uma vez que 41,9% dos entrevistados afirmam que seria importante receberem antecipadamente de suas fontes. No ambiente de trabalho, predominam os profissionais de pronto atendimento ou emergência, com 42%, e de consultórios particulares, correspondente a 29% dos pesquisados. A análise revelou que o médico trabalha em média 52 horas por semana levando em consideração todos os ambientes de atuação.
“Uma outra evidência apontada pela pesquisa foi com relação às expectativas de futuro dos médicos. Fatores como qualidade de vida e mais liberdade na rotina foram apontados como pilares do sucesso profissional. A independência financeira e a conquista de bens, como casa e carro, também foram mencionados como metas a serem alcançadas”, afirma Eduardo Moura. Entre os aspectos mais gratificantes do trabalho, o alcance de desfechos clínicos favoráveis, como a cura de um paciente, é apontado como o principal, com 34,7%, acompanhado pela importância de trabalhar com que se gosta, para 23,5%, além do reconhecimento dos pacientes, com 19,4%.
A primeira pesquisa do Research Center da Afya, realizada entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, ouviu cerca de 2.400 participantes, por meio de questionário online com metodologia científica reconhecida, índice de confiança de 95% e margem de erro de até 1,99 pontos percentuais. Sobre o perfil dos entrevistados, os médicos especialistas foram a maioria, com 50,9% do total de respostas. E 63% dos respondentes têm até 10 anos de formação.