Intervenções no SUS podem reduzir declínio funcional de idosos
Após apresentar dados mundiais e de estudos realizados com a população idosa no Epivix 2014, pesquisador Pedro Curi Hallal reafirma potencialidade de intervenções para reduzir doenças crônicas na população idosa
16/09/2014 - por Flaviano Quaresma


Quando pensamos em população idosa tendemos a imaginar apenas as pessoas que já são idosas. Mas o pesquisador Pedro Curi Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, ressalta que mais desafiador que isso é pensar nas pessoas que estão sendo criadas na sociedade atual, “como será a vida deles no estágio de envelhecimento?”. 

Sabe-se que os processos de envelhecimento são mais nítidos quando associados a fatores de doenças crônicas. A elas soma-se a incidência da inatividade física. Um terço dos adultos no mundo, cerca de 1,5 bilhão de pessoas possuem inatividade física. Quarto quintos são adolescentes entre 13 e 15 anos. Esses dados sinalizam que não atingem as recomendações de atividades físicas. E um dado alarmante: 5,3 milhões pessoas morrem por ano por inatividade física.

Estudos apresentados por Hallal, realizado em Pelotas (RS), sobre o grau de dependência para as atividades básicas e instrumentais de vida diária em idosos, apontam que três em cada 10 idosos tem algum grau de dificuldade para as atividades básicas (11,3%). A prevalência e fatores associados ao cuidado domiciliar a idosos, 49,5% dos entrevistados responderam que tinha alguém para cuidar deles, com o dado singular de que os homens apresentaram índices maiores do que as mulheres. Hospitalizados no último ano, são 25,8% dos homens contra 23,1% das mulheres. 

Os riscos relacionados à hospitalização são da incapacidade para atividades básicas (27,4%), atividades instrumentais (24,2%), quedas (33,9%) e tabagismo (18,6%). Quanto às quedas e fraturas existentes nas residências de instituições de longa permanência para idosos o dado é de 38,9%. De cada cinco quedas, uma ocasionou fratura (19%), 59,9% são fraturas dos membros inferiores, os mais frequentes. Os fatores de risco para as quedas são a idade avançada e serem residentes em ILPIs públicas.

“Esses estudos levam-nos a observar que são fatores de risco nos quais são passíveis de transformação. É possível agir e mudar a situação. Um exemplo disso é o programa de atividade física para idosos”, enfatizou Hallal. Outros fatores importantes serem citados, como ressalta o pesquisador, são os de institucionalização dos idosos: ser do sexo masculino, a idade avançada, sem escolaridade, inatividade física e incapacidade para atividades básicas. Nesse sentido, ele e vários outros pesquisadores estão elaborando o projeto INCT em envelhecimento e declínio funcional, um estudo de coorte para a aplicação de intervenções no SUS. “Serão testadas intervenções mais eficazes para depois serem implantadas na rede pública de saúde”, pontuou.

Dados quantitativos podem revelar muito de cenários relacionados a possíveis endemias, epidemias e surtos em todo o mundo. Entretanto, somados às análises de pesquisadores envolvidos em investigações por mais de 20 anos, fortalecem essas perspectivas. Esse é o caso de Maria Inês Schmidt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que proferiu a conferência “Diabetes: uma epidemia em câmera lenta?”.

Sob três caminhos que se relacionam no destino final, Maria Inês iniciou sua participação no Epivix 2014, apresentando correntes de estudos que colocavam essa afirmativa de epidemia do diabetes ainda como uma incógnita; outros que sinalizavam e defendiam que esses dados não passavam de um artefato estatístico; e ainda os que afirmavam que realmente estamos vivendo uma epidemia em câmera lenta (expressão essa utilizada por Margareth Chan quando apresentou o problema das doenças crônicas na ONU em 2011).

“Será que estamos vivendo realmente uma epidemia? Se estamos, quais as causas e consequências? E como podemos controla-la?” foram os pilares de sua explanação.

Maria Inês apresentou muitas informações para responder à primeira contestação como os dados disponíveis no site da Federação Internacional de Diabetes, onde há o Atlas de 2013 e o número de 382 milhões de pessoas com a doença, e ainda a informação de que 46% dos casos não são diagnosticados. 

“Esses dados não são para fazer nenhum tipo de advocacia do diabetes, mas apenas para ilustrar esse cenário que defende essa epidemia. Essa porcentagem de 46% também se deve ao fato de que o diabetes tipo 2, como quase todas as doenças crônicas, tem uma fase latente e depois uma fase em que já é chamado de diabetes por atender a alguns critérios diagnósticos, quando permanece assintomático podendo ficar assim por um período de 5 a 10 anos. Depois vem a parte sintomática. É nessa fase que os diagnósticos costumam a ocorrer”, explica.

“Estamos nos alimentando mal, isso é fato. A população está mais obesa. Estamos sedentários. Mas também precisamos refletir sobre como mudar esse cenário porque não são mudanças individuais, mas que as sociedades criaram ao longo dos anos. Não são as pessoas que têm diabetes, mas a sociedade que fica doente”, ressaltou.

Maria Inês enfatizou que é preciso olhar com atenção aos fatores causais, como a cesariana, com a qual tem aumentado o risco de obesidade nas crianças. “O diabetes se manifesta muito em sua morbidade. O diabetes tipo 2 tem complicações crônicas que reduzem substancialmente a qualidade de vida das pessoas. As complicações cardiovasculares são uma causa de morbidade, difícil de retirar dos registros oficiais. 

Ainda assim, pesquisas apontam uma redução desses casos em vários países, devido às intervenções que estamos realizando para reverter essa situação nas últimas décadas. Entretanto há outras complicações, como exemplo, doença cardiovascular periférica e neuropatia que são uma causa muito importante de amputação de membros inferiores”, disse. Outras consequências são as complicações renais, podendo levar o indivíduo ao estágio renal crônico terminal em alguns casos.

E como podemos controla-la? Segundo Maria Inês Schmidt, fazem-se necessárias três estratégias fundamentais: 
1) políticas públicas de promoção da saúde que possibilite a todos, formas mais saudáveis de viver, e com isso estaremos enfrentando várias epidemias de doenças crônicas; 
2) atenção integral a quem tem diabetes (ênfase para terapias custo-efetivas, que aqui é fundamental porque a carga vai crescer e o sistema de saúde vai ficar sobrecarregado; 
3) prevenção primária (mas não daquela de chamar as pessoas nas ruas, nas comunidades, mas para aquelas pessoas que estão no sistema de saúde por outras condições como hipertensos, mulheres grávidas, obesos que apresentam alguma morbidade associada.
 




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