Pacientes do Norte do país com problemas cardíacos, que chegavam a viajar quatro a cinco dias por rios e estradas para ver um cardiologista, agora são socorridos na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) mais próxima. O clínico geral de plantão faz os exames básicos e encaminha-os ao Hospital do Coração (Hcor) em São Paulo. “Em dez minutos, o cardiologista do Hcor emite um laudo do eletrocardiograma e o envia de volta à UPA”, explica Fernando Torelly, superintendente corporativo e CEO do Hcor.
Em caso de infarto agudo do miocárdio e arritmias complexas, diz, é realizada a discussão do caso clínico com o médico solicitante da ponta, lá no Norte, e após 48 horas do exame, é feita a avaliação do desfecho clínico do paciente.
Como esse paciente, centenas de outros, de diferentes localidades do Norte e Nordeste, estão sendo beneficiados pela Teleconsultoria Cardiológica dentro do programa do Hcor de apoio à implementação das boas práticas em cardiologia e urgências cardiovasculares. A iniciativa, por sua vez, integra o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi/SUS), que abrange uma série de projetos.
Criado em 2009, o Proadi/SUS é uma parceria público-privada que envolve seis hospitais de referência e é bancado por isenções fiscais que beneficiam as instituições. O arranjo faz com que o Ministério da Saúde não desembolse pagamentos, e os hospitais parceiros descontam seus gastos dos impostos que deveriam pagar (PIS, Cofins e a cota patronal do INSS).
De 2009 a 2020, foram executados mais de 700 projetos, somando investimentos de cerca de R$ 7,5 bilhões. Segundo o Ministério da Saúde, entre os projetos estão qualificação de profissionais, pesquisas de interesse da saúde pública e melhoria da gestão de hospitais públicos e filantrópicos em todo o país. Além do Hcor também fazem parte: Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa (BP), Hospital Albert Einstein, Hospital Sírio-Libanês, todos de São Paulo, e Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
Para o atual triênio - de 2021 a 2023 -, o projeto do Hcor consiste em apoio ao diagnóstico e à decisão clínica para 300 UPAs. Também prevê estratégias visando a melhoria dos processos assistenciais para implementação de diretrizes de cardiologia a 30 hospitais e outras 30 UPAs, indicadas pelo Ministério da Saúde.
Um dos indicadores que ilustra os resultados dos projetos é a agilização e qualificação dos serviços. “Houve considerável redução da fila de espera na central de regulação dos Estados em que o projeto foi implementado”, diz Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. O TeleAmes, como é chamado um dos projetos do Einstein, explica, emprega a expertise adquirida pela central de telemedicina do hospital para ampliar o acesso da população da região Norte a especialidades médicas; além de promover capacitação de profissionais no apoio diagnóstico e terapêutico nas emergências.
Entre janeiro de 2021 e fevereiro deste ano, o TeleAmes realizou 18.699 atendimentos, com “alto índice de resolubilidade e evitando o deslocamento de pacientes”, afirma Klajner. A telemecidina, diz, permite acesso a especialistas em sete áreas: endocrinologia, neurologia, neurologia pediátrica, pneumologia, cardiologia, reumatologia e psiquiatria.
Os médicos, por sua vez, podem contar com a assistência remota de colegas especialistas por meio de uma teleinterconsulta, qualificando seu atendimento e capacitando a assistência. O TeleAmes, que é apenas um dos programas do Albert Einstein no âmbito do Proadi, está implementado em 121 ambulatórios de 118 municípios dos sete Estados da região Norte. “O projeto continua aberto para outros municípios da região Norte que tiverem interesse”, diz Klajner.
O Hospital Albert Einstein desenvolve ainda o programa Telemedicina Pará, em parceria com a Secretaria de Saúde daquele Estado, e que já funciona em 35 cidades. O paciente passa primeiro pelo clínico-geral que, dependendo de seu quadro de saúde, será encaminhado a uma consulta virtual com um médico especialista do Einstein.
Um dos projetos do Hospital Moinhos de Vento é o TeleUTI voltado para recém nascidos internados nas UTIs. Seu foco são bebês do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (Isea), de Campina Grande (PB), e do Hospital Pedro Bezerra, de Natal (RN). Em nove meses, resultados parciais revelam uma queda de 50% na mortalidade de bebês internados nas UTIs, segundo os dois hospitais.
Um robô participa do atendimento on-line, quando a equipe visita o paciente na UTI e discute a melhor condução para cada caso. As visitas, ou “telerounds”, têm início com os profissionais locais dirigindo o robô pela UTI neonatal, que é quando recebem a informação clínica do paciente, explica Marôla Flores da Cunha Scheeren, uma das responsáveis pelo atendimento de forma remota.