A Afya - maior grupo educacional de cursos de medicina, que tem entre seus acionistas a Bertelsmann e o Softbank - criou um braço de prestação de serviços médicos digitais que pretende chegar em 2028 com uma receita líquida de R$ 1,2 bilhão. Paralelamente, a companhia mantém sua estratégia de expandir seu negócio principal por meio de aquisições e crescimento orgânico. A meta é dobrar o atual número de alunos de medicina para 32 mil nesses próximos seis anos. 

 
A nova área, batizada de Afya Digital Health, presta serviços como oferta de plataforma de telemedicina, gestão financeira e administrativa de clínicas, antecipação de recebíveis. Entre seus clientes, além de médicos, há também hospitais e a indústria farmacêutica. “Já temos 23 contratos fechados com farmacêuticas. Oferecemos capacitação médica sobre novas drogas, acesso da indústria aos médicos, novas formas de distribuição de amostras de remédios, entre outros serviços”, disse Lélio Souza, vice-presidente de serviços digitais da Afya. Segundo o executivo, as farmacêuticas revertem 28% das vendas em ações comerciais e de marketing. 

A Afya entrou nesse mercado de serviços digitais há apenas um ano e meio. Desde então, já fez dez aquisições de startups, que demandaram desembolsos de R$ 500 milhões. 




 

O segmento de serviços médicos digitais movimenta R$ 28 bilhões, cifra superior ao faturamento anual do setor de graduação de medicina, que é de R$ 24 bilhões. A meta da companhia é atingir 5% de participação no mercado de serviços digitais e uma alcançar uma fatia de 15% no segmento de cursos em medicina. Hoje, esse percentual é de cerca de 10%. 

Com a entrada na nova área, a companhia dobra seu negócio potencial. “Dobramos nosso mercado endereçavel. Criamos uma Afya dentro da Afya”, disse Virgilio Gibbon, presidente do grupo. Ele observa que em 2020 a companhia registrou uma receita de R$ 1,2 bilhão - mesmo montante esperado para a área de serviços digitais em 2028. A projeção do grupo é encerrar este ano com receita líquida de cerca de R$ 2,3 bilhão. 

Atualmente, a Afya tem um portfólio com 23 faculdades de medicina. Entre elas, estão a carioca Unigranrio, a mineira Uniptan, Uninovafapi, do Piauí, e a UNITPAC, no Tocantins. 

A Afya, cujo nome significa saúde no idioma africano suali, foi idealizada em 2016 pelo economista Paulo Guedes, atual ministro da Economia, e que na época era sócio da gestora Bozano (atual Crescera). A gestora levantou um fundo de R$ 800 milhões, sendo que 40% desses recursos vieram da Berstelsmann. Agora, o grupo alemão está em negociações finais para ficar com 57,5% das ações (do poder de voto) da Afya. “Há seis anos apoiamos a Afya e agora endossamos nossa estratégia”, disse Kay Kraft, CEO da Bertelsmann, durante evento para investidores e analistas, realizado ontem. 

 

Questionado por analistas sobre a concorrência com outros grupos de ensino que também apostam em cursos de medicina, o presidente da Afya explicou que a decisão de entrar na prestação de serviços digitais é uma forma de se diferenciar. Ânima e Yduqs vêm investindo fortemente na graduação de medicina, que é mais rentável e tem evasão menor que as demais. 

A Afya tem como estratégia acompanhar toda a carreira do médico - desde a faculdade, passando pelos cursos de atualização, até a oferta de serviços como gestão administrativa de sua clínica. Essa diversificação está abrindo outras portas, como as parcerias com a indústria farmacêutica. 

Segundo Luis Blanco, diretor financeiro da Afya, entre 2018 e 2028, haverá um acréscimo de 200 mil médicos no mercado, que demandarão cursos de especialização e serviços digitais de saúde. “Há empresas como a americana Doximity e a japonesa M3 que oferecem serviços digitais de saúde com muito sucesso”, disse.