A Dasa deu a partida ontem, dia 5, em seu primeiro programa de aceleração de startups, as health techs e suas mil novidades: o Pulsa. A iniciativa, que será realizada em parceria com a Liga Ventures, faz parte de um extenso programa dentro da companhia para ajudar a desenvolver um ecossistema de inovação no setor que possa efetivamente remediar as dores das grandes corporações.
“Queremos encurtar o caminho entre o que as startups podem oferecer e o que nós precisamos. Por isso, o esforço para estar perto desse ambiente”, afirma Fabiana Salles, diretora da Dasa de engajamento com startups — uma diretoria novinha em folha.
O aquário para a Dasa, uma companhia com mais de R$ 11 bilhões de receita anual, pescar é enorme. A Liga Ventures faz um mapeamento das startups no país, em parceria com a PwC, e só no setor de saúde são 396 empresas, em 36 categorias diferentes. Apenas no último mês, seis novos negócios nasceram.
Ao criar o programa, Fabiana sabia bem o que estava fazendo e quais as razões. Em 2003, ela fundou a Gesto, uma empresa dedicada ao desenvolvimento de sistemas de gestão de planos de saúde e habituada a prestava serviço para grandes companhias do setor. No ano passado, foi adquirida pela Dasa e não demorou para Fabiana entender que sua missão seria tornar mais produtiva a convivência da companhia, uma das maiores do setor, com as startups.
As health techs se tornaram peça vital na revolução do setor de saúde — e também para a Dasa, cujo modelo de negócios é de uma plataforma de saúde. Elas estão em tudo: no relacionamento com cliente, no uso da inteligência artificial a favor do diagnóstico e da prevenção, na gestão dos dados gerados, no acesso às novidades da ciência. São inúmeras as frentes de inovação.
O processo de seleção para o Pulsa vai durar dois meses — as inscrições abriram ontem — e o programa de aceleração terá duração de quatro meses. Serão selecionadas até cinco startups. “A ideia é que elas saiam do programa mais preparadas para fazer negócio conosco. Entendemos que ninguém está 100% pronto e por isso investimos nessa iniciativa”, diz a executiva.
“Ter a chance de se conectar antes com o cliente [a grande empresa] é um oportunidade de ouro para uma startup. A diferença entre dar certo e errado para a maioria dos negócios está em ter um produto que de verdade resolve um problema”, enfatiza Fabiana, com a bagagem de quem sabe os desafios de montar uma empresa do zero. "Quando você tem uma startup não tem como você fazer pesquisa de mercado. Não tem como ir no Aeroporto de Congonhas e ficar procurando executivos para entrevistar e discutir se seu produto faz sentido."
Para serem aceitas, as candidatas terão que, pelo menos, ter um MVP desenvolvido e testado, sigla para ‘mínimo produto viável’. Seis verticais estão na mira da Dasa para esse projeto: digitalização da experiência do atendimento em saúde; inovação assistencial, onde se enquadram ferramentas para monitoramento individual e promoção de hábitos saudáveis; personalização do cuidado do paciente crônico; rastreabilidade de condições clínicas e geração de insights de apoio à conduta médica; e experiência ‘figital’, soluções que tragam melhorias no fluxo de entrada de pacientes em unidades de atendimento e eficiência em processos de gestão.
O primeiro passo, após a escolha das empresas, será a realização de um diagnóstico do que a startup precisa e qual será a melhor forma de desenvolver o negócio. Esse trabalho será realizado em conjunto com a Liga Ventures, que há mais de cinco anos atua na aceleração de novatas. A aceleradora tem mais de 25.000 startups cadastradas e já desenvolveu 250 delas. Mais de 50 grandes empresas estão plugadas na Liga, em busca de oportunidades de negócios.
Fabiana conta que a aceleração é uma das iniciativas desde que a área de engajamento com startups foi criada. “Começamos a trabalhar nisso no começo do ano e a largada mesmo de todos esses movimentos ocorreu no início de março.”
São variadas as formas através das quais a Dasa se estruturou para se relacionar com o ambiente de empreendedorismo e inovação. "Temos agora uma régua mais completa e abrangente de iniciativas", afirma a executiva, lembrando que a Dasa é curadora e mantenedora do Cubo Health desde 2018 e que vem investindo em sua digitalização desde 2017.
A companhia vai criar, por exemplo, o “Selo Dasa”, pensando no desenvolvimento de uma comunidade de novas empresas. Nessa frente, dará suporte com conteúdo, mentorias e eventos. “Tudo que pudermos oferecer sem o compromisso de gerar negócio.” Já o “Pulsa” vem para que essas relações possam alcançar um estágio mais avançado e o objetivo é gerar um engajamento maior.
Também está na lista de novidades um “Fast Pass”, uma espécie de modelos pré-aprovados de contratos para tornar a execução de acordos comerciais mais rápida. “Não é fácil para uma startup se relacionar com grandes corporações.” Além disso, a executiva conta que poderão ser feitas parcerias, que vão além da mera contratação dos serviços. Nesses casos, é possível que exista um modelo de compartilhamento de dados ou até mesmo de receitas.
Levadas ao limite, as relações poderão evoluir para uma simbiose que leve a um investimento minoritário, um aporte de capital pela Dasa, ou até mesmo à aquisição. “Mas esse não é o objetivo principal. É algo que pode acontecer. O que queremos mesmo é um ambiente vasto e rico para fazermos negócios. Não queremos ser donos de todas as empresas.”
Para fazer tudo isso funcionar de verdade, da porta para fora, a Dasa entende que também precisa reforçar a cultura interna nessa direção. Assim, serão realizadas mentorias e treinamentos para as lideranças e as diversas equipes da companhia para que cultivem uma mentalidade aberta às novidades. Dessa forma, a empresa pretende ter nos times atores que trabalhem como promotores da inovação. "Queremos expandir o olhar dos nossos funcionários para as parcerias com as startups, ensinar a fazer negócios com elas, a criar empatia", explica Fabiana.
A busca por eficiência e melhor atendimento é o motor que bombeia as inovações pelo setor. No caso da Dasa, além da integração de sua estrutura física de hospitais e laboratórios, a empresa também aposta cada vez mais na integração da experiência de seus públicos: os médicos e os pacientes.
A plataforma digital da companhia, o aplicativo NAV, já conta com cerca de 2 milhões de usuários únicos (pacientes) e quase 22 mil médicos. Os canais de acesso de profissionais e consumidores são separados: NAV e NAV-PRO. Na teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre, a Dasa destacou que o engajamento para o uso do aplicativo atingiu um ponto de inflexão importante ao fim do ano passado. O caminho, porém, ainda é longo. Passam pela estrutura da Dasa, por ano, cerca de 20 milhões de brasileiros.
O aplicativo tem uma função que vai muito além de deixar médicos e clientes contentes: gerar as oportunidades de ganhos de eficiência. Ele permite um acompanhamento mais próximo do usuário paciente e isso se reflete em economia de custos e satisfação.
É por isso que o universo das startups faz toda diferença. “O objetivo é entregar para o cliente uma experiência que antes era toda fragmentada, de uma forma mais integrada e fluida”, enfatiza a executiva. "Não é só marcar exame e telemedicina. O usuário quer as facilidades e acessos unificados em um só canal para tudo que ele entende como saúde, como bem-estar, hábitos saudáveis, saúde mental."
A Dasa tem números sobre os efeitos dessa proximidade, pois possui um grupo de pacientes acompanhados bem de perto. Mais de 24,5 mil vidas estão cadastradas em atividades de coordenação de cuidados. O resultado foi uma economia da ordem de 30% nos custos médicos dessa base, algo como R$ 970 por paciente, o que levou a uma economia acumulada nesse período de R$ 38,4 milhões.
Historicamente marcado por relações comerciais de alta fricção (corporações que oferecem planos de saúde aos funcionários x seguradoras x hospitais e laboratório), o setor está mudando a lógica comercial perversa entre esses atores por meio da tecnologia. "O setor evoluiu. Temos uma visão madura: é preciso preservar a saúde financeira da fonte pagadora", diz Fabiana. Trocando em miúdos: 'é preciso ser mais eficiente para não esfolar os usuários na ponta' e com isso gerar uma satisfação maior, com estabilidade da base, e perspectivas de crescimento.
Não tem outro caminho: todos esses objetivos passam por tecnologia e inovação. Em 2021, quase 40% do R$ 1 bilhão investido pela Dasa foram destinados para tecnologia da informação e sistemas — 196% a mais do que em 2020. Há exatamente um ano, a Dasa se relançou na bolsa, fez o que o mercado chama de Re-IPO. Na ocasião, captou R$ 3,8 bilhões — R$ 500 milhões vieram do bolso da família controladora, os Godoy Bueno. A companhia vale atualmente R$ 13 bilhões na B3.
O discurso para os investidores, na época, já falava que o objetivo era desenvolver o conceito de plataforma de saúde: mais para Facebook (antes da crise com o metaverso, claro) do que para Rede D'Or.