A estratégia da Dasa para mais do que dobrar seu número de hospitais
23/03/2022

Engenheiro mecânico, Sergio Lazzeri vinha de uma passagem de sete anos na Latam Airlines quando ingressou, em janeiro de 2021, na Dasa, gigante de saúde avaliada em R$ 13,7 bilhões e mais conhecida por sua atuação em diagnósticos, com marcas como Delboni Auriemo, Lavoisier e Salomão Zoppi. 

A contratação, a princípio, sem nenhum paralelo com o setor, poderia soar estranha. Mas é apenas um exemplo de como a empresa comandada por Pedro Bueno está buscando alternativas para impulsionar outro negócio, cada vez mais vital em seu ecossistema: a área de hospitais e oncologia. 

Desde o fim de 2019, quando a Dasa anunciou a fusão com a Ímpar, rede de hospitais que também pertence à família Bueno, essa operação decolou. De 6 para 15 hospitais e de 1,5 mil para 3,5 mil leitos. Com o negócio em alta, a Dasa está atrás apenas da Rede D’Or e quer endurecer ainda mais essa disputa. 

“Para mudar radicalmente o mercado de saúde é fundamental ter um pé em hospitais, que concentram metade dos custos do setor, por lidar com a alta complexidade”, diz Bueno, CEO da Dasa, ao NeoFeed. “E, para isso, no longo prazo, vamos precisar de 30, 40 unidades.” 

 

No mercado, há especulações de que essa expansão pode passar por uma aquisição da Amil. Mas, à parte dos rumores, e antes de qualquer movimento para ampliar sua rede, a Dasa tem outra prioridade para a área no curto prazo. 

Essa agenda mais imediata pode ser resumida em uma palavra: eficiência. E tem como coração um “command center”, criado em 2020, para aprimorar a gestão dos hospitais da companhia. 

Inspirado em estruturas semelhantes de setores como a aviação, o centro, batizado de Núcleo de Operações e Controle (NOC), é tocado justamente por profissionais como Lazzeri, o engenheiro contratado como diretor de operações e estratégia da Dasa. 

Uma das iniciativas pilotadas por esse time é um projeto para melhorar a gestão de leitos nos hospitais do grupo, a partir de uma avalanche de dados coletados e do uso de algoritmos de inteligência artificial. 

“Nós ampliamos em 20% o giro de leitos nos nossos hospitais”, conta Emerson Gasparetto, diretor-geral de negócios hospitalares e oncologia da Dasa. “Ampliamos nossa capacidade sem investir nenhum recurso adicional.” 

Em outro exemplo dessas aplicações, a Dasa reduziu o tempo médio de permanência de pacientes de cirurgias bariátricas em 60%, ao fornecer orientações pré-internação. Essas e outras ações, que também incluem áreas como os prontos-socorros, fazem parte de uma estratégia mais ampla da empresa. 

Com a visão de atacar a fragmentação do setor, o plano da Dasa é fazer com que esse paciente navegue em seu ecossistema. A ideia é oferecer uma saúde de caráter mais preventivo e menos custosa para o sistema, a partir do acompanhamento detalhado de toda essa jornada. 

Gasparetto cita como exemplo o fato de a Dasa ter forte atuação em medicina diagnóstica e ser o primeiro elo da cadeia a identificar que uma pessoa tem câncer. Atualmente, a empresa já consegue alertar o médico responsável para que esse paciente inicie o quanto antes o tratamento. 

“Só em São Paulo, nossos laboratórios fazem 700 diagnósticos de câncer de intestino por mês. E esses pacientes, muitas vezes, se perdem no sistema”, conta Gasparetto. “Tratar um caso desses precocemente tem menor custo e mais chances de um melhor desfecho para essa pessoa.” 

 

Sob essa ótica de criar um maior vínculo com os pacientes e de atendê-los nos canais mais adequados de acordo com a complexidade do caso, os hospitais e clínicas de oncologia do grupo também passam a acessar um público que antes não se tratava nessas unidades. 

“Há uma simbiose entre o nosso negócio hospitalar e o restante do nosso ecossistema”, afirma Bueno. “À medida que capturamos mais pacientes e trazermos para os nossos hospitais quem realmente precisa desse cuidado, geramos mais crescimento orgânico e rentabilidade para essa operação.” 

Balanço positivo 

Com essa proposta, a divisão começa a ganhar peso no balanço da Dasa. De janeiro a setembro de 2021, a receita bruta da unidade foi de R$ 2,97 bilhões, alta de 41,7% sobre igual período de 2020. Nesse mesmo intervalo, o faturamento total do grupo cresceu 50,3%, para R$ 8,33 bilhões. 

Embora não revele os números atualizados – a Dasa divulgará seu balanço referente ao ano de 2021 na segunda-feira, 28 de março, Gasparetto diz que a divisão já representa praticamente a metade da receita bruta total da companhia. 

 
 

Além do crescimento orgânico, essa conta se explica pelo fato de que a Dasa começa a incorporar os números de uma série de aquisições feitas desde o fim de 2020. Levando-se em consideração os acordos cujos valores foram divulgados, o grupo investiu ao menos R$ 3,7 bilhões em sete transações. 

A lista adicionou 1,7 mil leitos à operação e inclui ativos como o grupo Leforte, de São Paulo; o Hospital São Domingos, de São Luís (MA); o Hospital da Bahia, de Salvador; e a Clínica AMO, com unidades no Nordeste. 

“Além do porte dos acordos, chama a atenção a Dasa concentrar seus M&As mais em hospitais e oncologia”, diz Ítalo Miranda, sócio da Ondina Investimentos, consultoria de fusões e aquisições. “A receita desses segmentos tende a ser mais recorrente e resiliente que a de diagnósticos.” 

Segundo um levantamento da Ondina, hospitais e oncologia estiveram por trás, respectivamente, de 32 e 6 aquisições das 150 transações de M&A no mercado brasileiro de saúde em 2021. A Dasa foi a segunda empresa mais ativa, com 9 acordos, contra 10 da Rede D’Or. 

Reforçado o interesse nos dois segmentos, a terceira colocada nesse ranking foi a Oncoclínicas, rede especializada no diagnóstico e tratamento do câncer, que fechou 7 acordos em 2021, ano em que captou R$ 2,6 bilhões em seu IPO. 

Mesmo com seu interesse crescente por hospitais e oncologia, a Dasa, em números, ainda tem um bom chão a percorrer para alcançar a líder Rede D’Or, que tem 63 hospitais e mais de 10 mil leitos. 

Para reduzir essa distância, um dos focos serão os projetos de expansão brown field, com a construção de estruturas adicionais em seus ativos. “Temos 2,5 mil leitos que poderíamos adicionar nessas oportunidades dentro de casa”, diz Bueno. 

Ao mesmo tempo, diante do cenário de intensa consolidação do setor de saúde, com diversos players avançando em elos além de seus negócios tradicionais, Bueno observa que a prioridade da Dasa seguirá sendo os M&As nas áreas de hospitais e oncologia. 

“Nossa ambição é ter uma rede nos principais centros do País”, diz, ressaltando o maior foco em São Paulo, Rio e Brasília, os grandes mercados de saúde privada do Brasil. “Mas vemos oportunidades em outras capitais, especialmente aquelas nas quais já temos presença com nosso ecossistema.” 

Nesse contexto, crescem no mercado os indícios de que a Dasa estaria disposta a fazer uma oferta pela Amil. Fundada por Edson de Godoy Bueno, pai de Pedro, a empresa foi comprada em 2012 pela americana UnitedHealth, que, por sua vez, estaria interessada em se desfazer da operação. 

Uma eventual compra envolveria não apenas os hospitais da Amil, com 2,5 mil leitos. Mas também a operação de planos de saúde, com cerca de 3 milhões de usuários. O apetite para incluir essa última área no negócio teria sido motivada por movimentações recentes de grandes nomes do setor. 

A primeira delas, a compra da SulAmérica pela Rede D’Or, em fevereiro desse ano, por R$ 15 bilhões. A segunda, um mês antes, a aprovação da fusão entre Hapvida e Grupo NotreDame Intermédica. 

“Nossa estratégia base nunca foi atuar no segmento de planos de saúde”, diz Bueno, quando questionado se um acordo nessa direção faria sentido para a Dasa. “Ter uma operadora não é algo fundamental na nossa tese de integração da jornada do paciente.” 

Ele acrescenta que esses anúncios trazem pouco impacto à operação. “No caso da Hapvida e da NotreDame, é quase outro nicho de público, de baixo custo”, afirma. “E a receita com a SulAmérica é uma fatia pequena da nossa receita total. A ideia é seguir atendendo esses pacientes na nossa rede.” 

 

Em relatório divulgado em janeiro, antes do acordo envolvendo a SulAmérica, o Bank of America avaliou a Amil entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões e apontou a Dasa e a Rede D’Or como as empresas para as quais um acordo faria mais sentido, com a primeira sendo a candidata mais provável. 

O banco destacou, entretanto, que um acordo para a dupla faria mais sentido no caso dos hospitais, com o ativo de plano de saúde sendo adquirido por um segundo player, como SulAmérica ou Bradesco. Para o BofA, o formato reduziria o montante de caixa gasto em uma potencial aquisição. 

“Mas também abordaria um possível futuro problema para Dasa e Rede D’Or, que seria competir no mercado de planos de saúde, o que poderia prejudicar as atuais parcerias com algumas operadoras”, escreveram, na época, os analistas Fred Mendes, Gustavo Tiseo e Mirela Oliveira. 

Com a compra da SulAmérica, no enanto, a possibilidade de a Rede D’Or fazer esse movimento fica muito mais restrita. Até mesmo para obter a aprovação dos órgãos regulatórios para um eventual acordo, dada a concentração que uma transação nesse cenário traria. 

No relatório, o trio de analistas recomendou a compra do papel da Dasa, com preço-alvo de R$ 58. Uma cifra bem distante da cotação de R$ 24,60 no pregão da terça-feira, 22 de março. Com esse patamar, as ações da companhia acumulam uma desvalorização de 27,08% em 2022. 












 
Fonte: neofeed




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