Durante os períodos mais agudos da pandemia, atendimentos médicos ganharam rapidamente uma nova cara: em vez de visitas ao consultório, se multiplicaram as consultas por chamadas de vídeo. Mas agora que as regras de isolamento social foram dispensadas e os pacientes voltam a poder estar frente a frente com seus médicos, uma pergunta que muitos profissionais da área da saúde se fazem é: a telemedicina continuará tendo espaço?
Segundo especialistas que participaram da Live do Valor na sexta-feita, a prática veio para ficar e tem potencial para ampliar o acesso à saúde, principalmente em lugares mais distantes dos grandes centros urbanos, mas não substitui a necessidade de consultas presenciais e precisa ser regulamentada para proteger pacientes.
O deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), presidente da Frente Parlamentar Mista de Medicina, afirmou na live que trabalha em uma lei para regulamentar a atividade no pós-pandemia. Para ele, a telemedicina e seus recursos são bem-vindos, mas que é preciso regular as atividades para não expor os pacientes a profissionais desautorizados ou descomprometidos, além de dar suporte aos médicos.
“Durante a pandemia, nós aprovamos de maneira muito urgente a lei 13.989, ainda frágil e que não estabelece princípios fundamentais que nós estamos aperfeiçoando numa nova lei planejada para vigorar no fim da pandemia”, afirmou o deputado. A dúvida, admite ele, é o quanto a essa revisão da lei terá espaço para avançar no Congresso em um ano de eleições.
Chao Lung Wen, professor e chefe da disciplina de Telemedicina na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, disse que a tecnologia permite mais do que consultas por videoconferências e que pode ajudar a democratizar serviços de saúde.
“Todo mundo acha que telemedicina é só teleassistência, mas ela trabalha com quatro áreas. Uma é a teleassistência, a segunda é a tele-educação interativa, a terceira é a promoção de saúde e prevenção de doenças e a quarta é a teleciência”, disse. A prática, acrescentou, envolve desde a consulta até a possibilidade de que exames fiquem digitalmente à disposição dos pacientes para serem incorporados aos seus históricos.
Jihan Zoghbi, presidente da ABCIS, associação que advoga pelo uso da tecnologia na área de saúde, e fundadora da empresa Dr. TIS, que oferece soluções tecnológicas para médicos e hospitais, defendeu que a evolução do mercado não deve ser travada por eventuais problemas.
“É importante proteger eticamente tanto o médico quanto o paciente. O que a gente não pode fazer é travar o processo pelos problemas. A gente tem que punir as pessoas que fazem coisa errada, mas não tirar essa ferramenta”, disse Zoghbi.