Desde que a cardiologista Jeane Tsutsui assumiu como CEO do Fleury, há quase um ano, a rede de diagnósticos acelerou a agenda de aquisições, com um investimentos de mais de R$ 900 milhões - quase 18% da valor de mercado do grupo - em seis aquisições. A estratégia, que combina a compra de laboratórios e a entrada em novos segmentos, está apenas no começo.
Com estrutura de capital confortável, o Fleury vê um espaço razoável para financiar aquisições alavancando o balanço e com os recursos da própria operação - a companhia gerou mais de R$ 1 bilhão caixa operacional em 2021, um recorde. Em dezembro, o índice de alavancagem estava em 1,3 vez. “Temos espaço, mas nossa ideia é não passar de 2 vezes”, diz o executivo-financeiro José Filippo.
A executiva-chefe do Fleury enfatizou ao “Pipeline”, site de negócios do Valor, o potencial das novas áreas de atuação do grupo, que estreou em oftalmologia, infusões de medicamentos e ortopedia com aquisições de clínicas em 2021. A lista inclui a abertura de um centro de fertilidade. Juntas, as novas áreas - ou “elos”, como Tsutsui designa - contribuíram com 7,5% da receita do quarto trimestre e 5,4% do ano passado, alcançando os R$ 223,3 milhões.
“Quando você olha os novos elos, a receita ainda é pequena, mas há potencial de crescimento”, disse Tsutsui. Uma nova aquisição, é claro, depende das condições de mercado e de um acordo em torno dos preços (o que é mais difícil em um ambiente de juros altos), mas o grupo prospecta ativamente.
Até agora, o Fleury já concluiu cinco das seis aquisições anunciadas em 2021 - os laboratórios Pretti (R$ 193 milhões) e Bioclínico (R$ 122 milhões), a clínica de ortopedia Vita (R$ 91 milhões), a Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha (R$ 30 milhões) e o negócio de infusões CIP (R$ 120 milhões). O laboratório Marcelo Magalhães, segunda maior aquisição da história do Fleury - de R$ 385,4 milhões -, ainda aguarda a aprovação do Cade.
Ao acelerar a agenda de aquisições, o Fleury não abriu mão do crescimento orgânico. Excluindo as compras, a receita da companhia aumentou 24% em 2021. Considerando todas as operações, o grupo reportou receita recorde de R$ 4,2 bilhões, expansão anual de mais de 30%. “Crescer 30% na pandemia é muito robusto. E não crescemos em uma linha, mas em todas”, diz Tsutsui.
Aos poucos, a contribuição dos testes de covid-19 nas vendas também vem se reduzindo. No quarto trimestre, essa fatia foi de apenas 5,7% - nos piores momentos da pandemia, chegou a passar de 15% da receita. Os testes tiveram um repique em janeiro, diante da onda da variante ômicron, mas já voltaram a cair significativamente em março, diz a CEO do Fleury.
Em 2021, a empresa reportou um lucro líquido R$ 349,9 milhões, aumento de 36,2%. O grupo está distribuindo R$ 297 milhões em proventos (parte foi paga em dezembro).
Entre os investidores da bolsa, o Fleury não conseguiu repetir o ritmo do operacional. Os papéis caíram 32,2% em 2021 e recuam mais 6% este ano, com a companhia avaliada em R$ 5,3 bilhões. “Provavelmente, a maior parte das companhias está insatisfeita com o valor de mercado, mas nossa preocupação é sempre ter os fundamentos bem cuidados para o longo prazo”, diz Filippo.