Pesquisadores brasileiros, médicos e cientistas de dados da plataforma Valor Saúde Brasil da DRG Brasil, da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) e do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC) aumentaram a precisão de definição de prioridades de vacinação utilizando inteligência artificial. Com grande acurácia, a análise constatou que as variáveis mais importantes na determinação de morte por Covid-19 foram, nesta ordem: Idade; Obesidade; Doença renal crônica em diálise, Sexo masculino; Doença renal crônica sem diálise; Doença cardíaca miocárdica, valvular e arritmias; Hipertensão arterial crônica; Diabetes mellitus; Neoplasia; Doença respiratória crônica; Doença cerebrovascular e suas sequelas; Doenças degenerativas do sistema nervoso central; Doenças psiquiátricas; Doenças da tireoide; Anemias; Receptor de transplante; Pacientes com suporte respiratório externo; e Doenças hematológicas hemorrágicas.
Os números apurados demonstraram, por exemplo, que ser idoso impõe um risco 79 vezes maior do que ser transplantado ou ser dependente de uma máquina para respirar. Por sua vez, o risco de morrer por Covid-19 por conta da obesidade é 4,6 vezes menor que a idade, mas 1,8 vezes maior do que para pacientes com doença renal em diálise ou cardiopatia. Além disso, o estudo constatou que um homem de 50 anos possui um risco semelhante ao de uma mulher de 60 anos.
Realização do estudo
Publicado na Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), o estudo analisou 49.197 pacientes com 18 anos ou mais, com Covid-19 confirmada por RT-PCR, internados em um dos 336 hospitais brasileiros avaliados.
O levantamento avaliou os dados registrados em um período de um ano, de março de 2020 a março de 2021. Do total de pacientes avaliados, 65% eram usuários da saúde suplementar e 35% exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). A base de dados analisada possuía 8,91 milhões de informações referentes a 181 variáveis de risco de morte, sendo: idade, sexo e 179 comorbidades crônicas.
Para chegar aos resultados, o algoritmo de inteligência artificial utilizado pelos pesquisadores da plataforma Valor Saúde Brasil analisou de maneira conjunta todos os dados, identificando as características que influenciariam no óbito. Dessa forma, a ferramenta conseguiu criar um algoritmo de predição de morte baseado nas variáveis. Para avaliar a eficácia da análise, foram realizados testes em outra população vítima da mesma doença, mas que não participou do desenvolvimento. Com isso, a qualidade do modelo mostrou-se adequada nos testes estatísticos de desempenho.
Com base nas variáveis escolhidas pela inteligência artificial e sua importância para o risco de morte por Covid-19, os pesquisadores combinaram idade, sexo e as comorbidades. Na sequência, definiram as 18 diferentes categorias de risco. Agora, esses dados podem ser facilmente utilizados pelos gestores dos sistemas de saúde na priorização da vacinação de uma população dentro de um programa contínuo de imunização. Resultado: a definição de grupos prioritários para uso da vacina ganha maior exatidão.
A importância do uso da inteligência artificial na saúde
A inteligência artificial é uma tecnologia capaz de identificar padrões de comportamento de doenças, seus fatores de risco, assim como fatores protetores. Ela permite a transição para uma medicina personalizada, preditiva, preventiva e com a participação ativa dos indivíduos. A IA possibilita ainda que as predições protetoras ocorram em tempo real, ajudando as pessoas a terem uma vida longa e saudável.
Esta tecnologia encontra-se em sua fase incipiente e experimental na medicina moderna. Neste período de uso de novas tecnologias no ramo, em que os profissionais estão dando os primeiros passos na sua aplicação, os resultados são mais lentos do que a necessidade das pessoas. Por isso a importância de estudos como este da plataforma Valor Saúde Brasil, que, além de analisar resultados, indicam a metodologia de uso da inteligência artificial para os problemas de saúde. Estabelecer a metodologia de uso é dizer o caminho certo para determinado tipo de problema.
As pandemias fazem parte da vida da humanidade. Elas sempre representarão um desfio árduo e um grande sofrimento para as pessoas. Porém, será significativamente mais fácil lidar com a próxima pandemia sabendo como utilizar as novas tecnologias para o nosso benefício.
Desenvolvimento de aplicações com inteligência artificial para a medicina
Para criar soluções para a área médica usando inteligência artificial é necessária uma equipe multiprofissional composta por médicos com sólida formação clínica e epidemiológica, além de engenheiros de dados, estatísticos e cientistas de dados.
Partindo de uma necessidade médica identificada pelos pesquisadores, inicia-se a jornada de levantamento das publicações sobre o tema, seguida do desenho epidemiológico do estudo e da organização das bases de dados.
Os algoritmos desenvolvidos pela equipe são posteriormente testados em bases de dados independentes para avaliação da sua reprodutibilidade. Somente a partir daí os algoritmos de machine learning estarão prontos para aplicação na prática clínica e gerencial de saúde.