Gestão do Corpo Clínico em tempos de pandemia
11/03/2022

Após quase trinta meses sob a ditadura imposta pela pandemia causada pelo SARS-COV 2 (ou COVID-19, como ficou mais popularmente conhecida), os hospitais e centros de acolhimento para pacientes com complicações graves da doença, notadamente complicações respiratórias, podem agora refletir sobre tudo o que aconteceu. Não há registro na história da humanidade de nenhum momento em que tanto se fez no combate a uma doença aguda tão devastadora em tão pouco tempo, nem de como, enquanto instituições, os hospitais e centros de acolhimento trabalharam com tanta dedicação e entrega com o objetivo de reduzir as nefastas consequências nos milhares de pacientes atendidos, principalmente aqueles com complicações.
 

Em que pese todo um esforço concentrado de mitigar os efeitos da doença através da disponibilização de insumos, drogas, mobiliário, equipamentos, espaços físicos e capacitação de última hora; as perdas de vidas se multiplicaram e hoje representam um significativo valor em termos de perda força de trabalho para a sociedade. Mas há uma percepção, ainda não racionalizada totalmente através das pesquisas, que o estrago social poderia ser maior não fossem os esforços daqueles que tiveram, não sem medo e muita insegurança, que encarar o vírus mortal, disfarçado de gripe comum, tal qual lobo em pele de cordeiro.

A subversão dos processos de atendimento e acompanhamento dos pacientes internados causada pela pandemia foi muito maior que imaginamos. Orçamentos foram reavaliados e muitas vezes direcionados para outras finalidades, contratações de profissionais de todos os níveis foram feitas sem um processo seletivo mais rigoroso (sem contar o turnover elevado de profissionais), o gerenciamento dos insumos não raro causou angústia e desespero entre os responsáveis, os equipamentos doados ou adquiridos nem sempre atingiam seus objetivos quanto à segurança dos pacientes, a sobrecarga de trabalho sem distinção causou o esgotamento, o adoecimento e o afastamento de muitos em momentos críticos.

E o Gestor do Corpo Clínico, aonde se situou? A resposta é simples: não se situou. Apenas seguiu o fluxo, fazendo os ajustes de trajetória e apontando soluções baseadas quase que exclusivamente na percepção pessoal de que era o melhor caminho a se seguir respeitando as circunstâncias e o legado histórico da instituição que o albergava (lembrar do visceral apoio dos demais segmentos profissionais, principalmente da enfermagem), amparando vez por outra suas decisões através do compartilhamento de ideias e observações com a alta direção e demais membros do Corpo Clínico, sofrendo com expectativas frustradas em relação aos resultados de suas intervenções, e tentando a todo o custo não  deixar de trazer alento e uma carga de entusiasmo, contrariando o cenário de incertezas e dor.

É importante lembrar que os momentos de angústia foram muitos, e ainda não estão totalmente eliminados, nem agora nem no futuro. Mas aquela imagem do Gestor do Corpo Clínico, do alto de suas planilhas e indicadores, com estratégias preconcebidas de ação baseadas em modelagens criadas por outros e para outros, com respostas exatas baseadas em números, em uma certa medida deixou de existir. Na adversidade conhecemos os líderes e fazemos nossas escolhas em boa medida através dos exemplos inspiradores, empatia e envolvimento destes profissionais, ainda que não vejamos de forma tão nítida a luz do Sol.
 

Escritores antigos e modernos têm utilizado a Batalha das Termópilas como um exemplo do poder que um exército patriótico pode exercer defendendo seu próprio solo com um pequeno grupo de combatentes. O comportamento dos defensores na batalha também é usado como um exemplo nas vantagens do treinamento, do equipamento e bom uso da terra como multiplicadores de força de um exército, tornando-se um símbolo de coragem contra as adversidades” (Batalha das Termópilas -Wikipédia).

A pandemia deve ser eliminada. A maneira certa sobre como o Gestor do Corpo Clínico deve agir não.





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