O Hospital Dona Helena anunciou a abertura de um escritório de inovação, que será instalado no Ágora Tech Park. As operações da nova unidade se iniciam entre abril e maio. Com experiência de 14 anos na área da saúde, e formações em Tecnologia e Gestão Empresarial, Chander João Turcatti assume a gestão do projeto, na posição de coordenador de inovação do hospital.
Executivo terá o desafio de implementar um novo modelo de gestão da inovação no hospital de Joinville (SC). Em entrevista, Turcatti revela os cinco eixos de atuação da nova unidade, que pretende ser um elo dos hospitais catarinenses de pequeno e médio porte que não tenham suas próprias áreas de inovação, com foco em objetivos comuns que tragam reflexos positivos para o paciente.
Como vai funcionar o escritório de inovação do Hospital Dona Helena?
Teremos dois ambientes: um deles dentro do hospital e uma área instalada dentro do complexo Ágora Tech Park, fortalecendo o movimento que já existe ali. Atuam no complexo outras organizações da área da saúde, ao passo que o Dona Helena entra como hospital geral, de forma pioneira e desbravadora. Estamos construindo um centro de inovação que respeite os 105 anos do hospital, mas não perca o timing da inovação ofertada pelo mercado e de nossas iniciativas de protagonismo em saúde de alta complexidade. O Dona Helena faz um movimento totalmente diferente do que se verifica em todos os outros hospitais. A partir do momento em que uma instituição de saúde sai dos seus muros para inovar, esse é o primeiro movimento claro – você entra, concretamente, no ambiente tech. Esse movimento já demonstra o que o hospital pensa da inovação e o que quer entregar para a sociedade, a comunidade, o ecossistema de saúde de Santa Catarina e do Brasil.
Quais serão as principais iniciativas referentes à inovação?
Nossas iniciativas de inovação estarão balizadas pelos critérios de impacto assistencial, aderência à estratégia da instituição, ciência avançada e impacto social. Desdobrados esses critérios, criamos os eixos de atuação. O primeiro está vinculado ao protagonismo, ou seja, atuaremos na alta complexidade da instituição e nas demandas do mercado para ações em saúde utilizando práticas de Inteligência Artificial e nanotecnologia para tratamentos e prevenção. Já no eixo mais tradicional da inovação, contaremos muito com os profissionais da nossa instituição, pois atuaremos nas áreas assistenciais e administrativas do Hospital Dona Helena para fomentar a inovação interna, empoderando nossos colegas de trabalho e gerando ainda mais valor para o nosso cliente. Outro eixo de atuação será a Incubadora Dona Helena, que, por meio de nossas qualificações e conhecimentos, deverá se tornar um centro de inovação aberta para startups e parceiros, para desenvolver e validar ideias e soluções, fomentando o ecossistema regional e até nacional de inovação em saúde. Há, também, o eixo do programa de apoiadores, os quais serão instituições de tecnologia e de outros segmentos que queiram utilizar a estrutura do Dona Helena para a realizar POCs (Prova de Conceito) e MVPs)(produtivo viável mínimo) de suas startups. Nesse eixo, estamos construindo iniciativas com empresas de cloud, SAAS, IA, machine learning, indústria farmacêutica, desenvolvimento de software, hardware, arquitetura e engenharia, telecomunicações, monitorização e relacionamento com o paciente. E no quinto eixo, denominado como Saúde Parceira, atuaremos junto à comunidade assistencial de Santa Catarina, recebendo demandas e fomentando a inovação junto a hospitais de pequeno e médio porte, públicos ou privados, sem custos para essas instituições. Dessa forma, atingiremos em maior escala a população em catarinense. Ou seja, todos ganham.
Você vai atuar, fisicamente, dentro do hospital ou no Ágora?
Nossa equipe estará nos dois ambientes. Estamos desenvolvendo o layout do escritório no Ágora, que será uma sala multiuso bastante versátil para que possamos fazer diversos ensaios. O objetivo é a cocriação, basicamente. Mas não nos limitaremos ao físico.
Como você avalia o atual momento do setor hospitalar no Brasil, no que diz respeito à inovação?
Até há não muito tempo, a inovação hospitalar estava vinculada a robótica, equipamentos médicos de ponta e entregas de soluções de automação de processos. As instituições estão buscando cada vez mais eficiência, eficácia, valor agregado e melhores desfechos clínicos, e isso faz com que qualquer tipo de tendência emergente do protagonismo, personalização e foco no paciente se tornem inovação. Sob essa ótica, a inovação hospitalar une o útil ao agradável, ou seja, competitividade de mercado, fidelização dos clientes com atendimentos eficientes. Atualmente, há muita informação, talvez não tão bem estruturada, mas observo que estamos nos preparando com modelos de algoritmos que poderão prever doenças crônicas não transmissíveis e doenças mentais com tal antecedência que a atual medicina da prevenção ficará muito no passado.
Que impacto esse processo de inovação vai trazer para o paciente e para o funcionário em um horizonte de cinco anos?
O que observo de mais concreto é que toda e qualquer inovação estará sempre ligada ao aumento da oferta e/ou redução de custos, na qualificação de pessoas e processos com o paciente no centro de tudo. Ainda sob uma ótica de empoderamento, o paciente estará cada vez mais participando da sua jornada hospitalar, seja desde a escolha da sua refeição, à melhor prática médica baseada em metaverso, por exemplo. Será possível prever patologias com meses de antecedência, ou até mesmo minutos antes, atuando de forma a dar uma qualidade e expectativa de vida melhor ao paciente. No Dona Helena, estamos com duas iniciativas que, uma vez concluídas, poderão prever intercorrências de algumas patologias com minutos de antecedência. Ainda há patologias que um percentual considerável da população não está sendo atendida ou é desconhecida e que poderiam ter outras opções de atendimento. A inovação vai alcançá-las e, nesse viés, nossas equipes deverão estar preparadas. Os impactos serão exponenciais. Algumas iniciativas não assistenciais que deverão ser mais aprofundadas nos próximos anos são as vinculadas a jornadas inteligentes do paciente, hospitais inteligentes e as que terão um viés de sustentabilidade ambiental. O funcionário, empoderado de informações, processos inteligentes, práticas assistenciais e de segurança do paciente, irá para uma outra esfera das cadeias assistencial e de atendimento, o “penso”. Quanto à nossa instituição, estamos prontos para este horizonte e com um posicionamento de mercado muito forte, no qual nossa inovação vai indicar protagonismo, participação do paciente e do nosso colaborador, apoiando a comunidade assistencial catarinense pública e privada.