O ano de 2021 terminou com mais de 75% dos brasileiros imunizados com a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e mais de 65% com as duas doses. Uma luta contra o tempo para interromper um rápido processo de contaminação que resultou na morte de milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, a quantidade de óbitos superou a casa dos 600 mil registros.
A boa notícia é que a pandemia levou a indústria farmacêutica a desenvolver uma nova vacina em tempo recorde. Novas técnicas foram desenvolvidas e utilizadas para a aceleração do processo e redução do tempo exigido para realização de testes. O resultado, no caso do imunizante da Covid-19, tem se apresentado bastante satisfatório e confiável.
E, claro, todo esse desenvolvimento trouxe novos paradigmas ao setor. A maioria deles com vistas a aumentar a confiabilidade e a agilidade no desenvolvimento e na produção de novos medicamentos que possam surgir daqui para frente. Trata-se de um segmento que sempre adotou muita tecnologia, mas os meios digitais certamente estarão bem mais presentes.
Há uma discussão sobre os rumos e as tendências da indústria farmacêutica para 2022. A primeira delas já aconteceu durante o combate ao coronavírus e deve ser adotada para tudo. Estamos falando justamente da aceleração dos ensaios clínicos. Haverá uma rápida implementação de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) que agilizará boa parte do processo, da triagem dos participantes para testes à melhoria da precisão de todas as etapas.
Além da IA, os processos digitais que já estão substituindo os analógicos, baseados em papel, se tornarão ainda mais comuns e ajudarão na condução da conformidade regulatória, pois possibilitam que as empresas farmacêuticas rastreiem com precisão os dados e como eles são mantidos. Tudo com um nível de transparência impossível na forma de trabalho analógica. Podemos dizer que esta é a segunda tendência.
Essa digitalização leva à terceira tendência, que é a popularização de novas formas de tratamento, por exemplo, o uso de wearables, que são dispositivos tecnológicos que podem ser utilizados junto ao corpo. Para facilitar a compreensão, são equipamentos que o paciente “veste” para monitorar o funcionamento dos órgãos. Um relógio capaz de medir a pressão arterial constantemente e gerar relatórios sobre as oscilações, ou os novos equipamentos usados para controle de diabetes, que da mesma forma medem o nível de glicemia de forma constante injetando, automaticamente e com máxima precisão, a dose necessária de insulina sempre que a taxa glicêmica sobe além do limite.
Além do acompanhamento constante, tais dispositivos tornam mais assertivos os diagnósticos e possibilitam que o médico faça o acompanhamento a distância, tornando a telemedicina uma forma de consulta mais relevante. Os tratamentos passarão a ser mais personalizados e as empresas receberão maior impulso por chegar a soluções de tratamento digitalmente orientadas.
A quarta é o uso da tecnologia em nuvem como forma de simplificar parcerias com outras empresas. Isso porque a nuvem funciona como um gigantesco e centralizado banco de dados acessível aos participantes do desenvolvimento de determinado medicamento. Não importa que uma empresa esteja no Brasil, outra nos Estados Unidos e uma terceira na Alemanha. A distância física é suplantada pela tecnologia em nuvem. É uma maneira econômica, precisa e segura de alavancar análises de dados complexos associados a ensaios clínicos.
Por fim, toda essa tecnologia permitirá não só a realização de um tratamento mais personalizado como também a adoção da chamada medicina de precisão. Uma medicação que funciona bem em um paciente pode não ser eficaz ou causar reações adversas em outro. A medicina de precisão procura resolver esse problema desenvolvendo medicamentos com base em um conhecimento mais aprofundado sobre o paciente.
Exemplo disso é o uso de biomarcadores para identificar tumores e desenvolver uma droga específica para o diagnóstico exato, resultando em maior eficácia.
É uma abordagem que está explodindo dentro da indústria farmacêutica.
Como se vê, as expectativas com relação à evolução da indústria farmacêutica são promissoras. A implantação desses novos modelos e tecnologias vai alterar a capacidade de resposta a eventos como a pandemia de coronavírus. Com mais velocidade e precisão, doenças com alta capacidade de propagação serão contidas antes que coloquem em xeque a sociedade e o sistema econômico.
*Paulo Wilges é Sócio e Diretor Executivo da ECS e business partner da InterPlayers.