Nota técnica divulgada ontem pelo Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta que a difusão de notícias falsas envolvendo a vacinação de crianças tem provocado resistência das famílias sobre a eficácia e segurança dos imunizantes para a faixa etária entre 5 e 11 anos. Como resultado, diz o documento, há uma lentidão na cobertura vacinal da primeira dose nessa faixa de idade, num contexto preocupante de retorno às salas de aula.
O documento apresenta um panorama atual da vacinação contra covid-19 entre as crianças, aponta a grande heterogeneidade no nível subnacional e reforça a necessidade de articulação de todas as esferas de gestão para a expansão da cobertura vacinal no país. “Em um cenário em que apenas este grupo não está imunizado, ele se torna particularmente vulnerável à infecção e à disseminação do vírus, inclusive entre outros grupos etários”, diz a nota.
Os pesquisadores citam que o crescente movimento antivacina possui contorno diferente daquele observado em outros países. “Trata-se aqui de um receio seletivo para a vacina contra a covid-19. Mais do que nunca, cabe o devido esclarecimento à sociedade civil, com linguagem simples e acessível sobre a importância, efetividade e segurança das vacinas, envolvendo a responsabilidade de todos os níveis de gestão da saúde no país”, pontuam os pesquisadores.
O documento frisa que a volta às aulas é necessária, mas com a devida proteção às crianças. A nota destaca que a urgência é por acelerar a distribuição de vacinas para todos os Estados e o fortalecimento de uma rede colaborativa que faça os esclarecimentos necessários junto à população.
Os dados apontam que a heterogeneidade entre Estados e capitais é grande: todos os Estados da região Norte do país encontram-se abaixo da média nacional. Entre as unidades federativas, apenas sete possuem cobertura de primeira dose maior que a média nacional (21%): Rio Grande do Norte (32,6%), Sergipe (23,9%), Espírito Santo (21,9%), São Paulo (28,1%), Paraná (28,6%), Rio Grande do Sul (23,2%) e o Distrito Federal (34,6%).
O pior desempenho está no Amapá, com apenas 5,3% da população na faixa etária entre 5 e 11 anos vacinada. Onze capitais estão abaixo da marca do país: Macapá (1,6%), Boa Vista (20,6%), Rio Branco (6,9%), Porto Velho (16%), Teresina (8,4%), João Pessoa (15,8%), Recife (1,9%), Belo Horizonte (18,4%), Campo Grande (1,6%) e Cuiabá (15,7%).
A nota técnica mostra que a cobertura vacinal de primeira dose é diretamente proporcional e maior nos Estados onde a expectativa de vida ao nascer e o IDH são também maiores. E a cobertura vacinal de primeira dose é menor onde há maior desigualdade de renda, pobreza e internações por condições sensíveis à atenção primária. Além disso, a cobertura vacinal de primeira dose possui relação inversa com a proporção de crianças na faixa etária elegível. Nos locais em que a proporção de crianças de 5 a 11 anos é maior, há menor cobertura vacinal de primeira dose.