A terceira onda de covid-19 entrou desde o final da semana passada em uma fase de aparente transição. Depois de vermos uma desaceleração nas taxas de crescimento do contágio em todo o país, agora vemos uma redução em termos absolutos no número de casos registrados. Atingimos neste domingo uma média móvel de 169.173 novos registros da doença. Foi o terceiro dia consecutivo de queda no indicador, que na quinta-feira da semana passada havia atingido seu pico máximo em toda a pandemia (média de 189.526 casos por dia).
Na comparação com duas semanas atrás, quando tínhamos uma média móvel de 149.085, o patamar atual ainda é 14% superior, mas quando levamos em consideração que as taxas de crescimento em meados de janeiro haviam atingido a casa dos 700%, 800% nessa comparação, vemos uma clara desaceleração do contágio. E, ao que tudo indica, assistiremos a uma rápida queda no número de casos, mesmo comportamento já vivenciado por outros países por onde a ômicron se alastrou.
Se o contágio perde força, o impacto tardio dessa terceira onda sobre pessoas com comorbidades e, principalmente, não vacinados, ainda tem levado a um aumento no número de mortes provocadas pela covid-19. A média móvel de óbitos vem crescendo há exatamente um mês e se aproxima rapidamente do patamar de 800 por dia. No domingo, chegamos à média de 763 mortes diárias, crescimento de 160% na comparação com duas semanas atrás. A média móvel de mortes ainda cresce em 26 das 27 unidades da Federação. A única exceção é o Amapá.
É possível que, apesar da queda no número de casos, as mortes continuem subindo por mais duas ou três semanas, até começarem a recuar. Isso porque ainda temos um número absoluto significativo de casos e em muitos estados do país os hospitais estão sobrecarregados. De acordo com levantamento divulgado pela Fiocruz na sexta-feira, em oito estados (Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco), além do Distrito Federal), o nível de ocupação dos leitos de UTI está acima de 80%, patamar considerado crítico.
Das 25 capitais que divulgaram suas taxas de ocupação, 13 estão com alerta crítico: Manaus (80%), Macapá (82%), Teresina (83%), Fortaleza (80%), Natal (percentual estimado de 89%), Maceió (81%), Belo Horizonte (86%), Vitória (80%), Rio de Janeiro (95%), Campo Grande (109%), Cuiabá (92%), Goiânia (91%) e Brasília (97%).
Ou seja, quem pensa hoje não ser um risco contrair a ômicron está redondamente enganado. Por isso, continuam sendo de extrema importância as medidas preventivas, como uso de máscaras e distanciamento social. A Fiocruz também recomenda que estabelecimentos comerciais, por exemplo, exijam de seus frequentadores a comprovação da vacinação. Sem esquecer de falar, claro, na importância de seguirmos nos vacinando
Vacinação ampla
É justamente a vacina que tem garantido que a situação não seja tão dramática quanto a que tivemos na segunda onda, em 2020, quando a média móvel de casos atingiu o recorde de 77.265 por dia e a de mortes chegou a 3.124 por dia. Hoje, com um contágio duas vezes maior, temos um número de vítimas da covid-19 quatro vezes inferior.
Dentro do público-alvo da vacina, ou seja, pessoas com idade a partir de cinco anos, a ampla maioria está coberta pela vacina: 83,4% já tomaram pelo menos uma dose, enquanto 75,5% estão completamente imunizados. Já a dose de reforço, que é destinada a pessoas a partir de 18 anos, já foi tomada por 31,4% do público.
E a terceira dose tem se mostrado muito importante. De acordo com diversos estudos, a taxa de proteção contra formas graves da covid chega a 95%. Ao longo das próximas duas semanas, saberemos com mais clareza se o pior da ômicron já passou. Até aqui, essa tendência de melhora vem se confirmando. Que siga assim.
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.