O exame de ultrassom obstétrico é um dos momentos mais importantes durante uma gravidez, pois é através dele que é medido a saúde do bebê, desde as primeiras semanas de formação. Para se ter uma ideia, cada mulher deve fazer, no mínimo, três U.S por gestação. No Brasil, a cada hora nascem 321 bebês. Ou seja, são mais de 2 milhões de bebês que nascem por ano, resultando em cerca de 8 milhões de exames de ultrassom anuais.
E foi a partir de uma experiência pessoal apreensiva e a visibilidade de uma deficiência deste setor de medicina diagnóstica, que o empreendedor Thiago Lima, criou sua empresa. “Quando decidimos ter filhos, minha esposa teve dois abortos espontâneos, uma experiência, completamente, traumática para nós. Na terceira gestação, um diagnóstico equivocado nos gerou muita angústia. Decidimos levar os exames para um outro profissional, para ter um segundo parecer, e para minha surpresa, ele disse que de nada adiantava. Que precisava do vídeo, ou seja, que o exame fosse refeito”, conta ele.
Thiago explica que se questionou no momento o porquê não havia a gravação do exame. “Não fazia sentido para mim, mas aí descobri que as empresas de medicina diagnóstica não capturavam o vídeo por falta de infraestrutura mesmo. Das poucas que gravavam, o faziam em DVD, uma mídia que, atualmente, é completamente obsoleta”, relata.
Nessa época, ele já havia fundado a Eventials, uma empresa de tecnologia de vídeo streaming para o setor corporativo, e resolveu unir seu conhecimento técnico com seu problema pessoal para solucionar o problema. Assim nasceu o V-Baby — um software de gravação de ultrassons obstétricos em nuvem, que pode ser compartilhado ao vivo com familiares e amigos da gestante, bem como com outros profissionais, na intenção de obter uma segunda opinião médica —, o principal produto da V-Lab, healthtech que oferece soluções de tecnologia com foco em saúde diagnóstica e telemedicina.
A solução passou a ganhar atração e Thiago, que é fundador e CEO, passou a entender “que as empresas de medicina diagnóstica por imagem possuem muita dificuldade em lidar com grandes volumes de informações de saúde em vídeo. Por falta de infraestrutura, estamos deixando de coletar centenas de milhões de dados, desperdiçando a chance de trazer esses processos de saúde dinâmicos para a era do machine learning e da Inteligência Artificial”, defende.
Com o avanço da tecnologia na área médica, guardar as análises de pacientes na nuvem já é uma realidade. De acordo com dados do Painel de 2019 da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), entre 50% e 70% dos médicos baseiam suas condutas na análise diagnóstica. Ou seja, esse é um elemento relevante para o sistema de saúde, que define o tratamento clínico a partir dessas informações. No entanto, algumas empresas do setor têm encontrado dificuldades em armazenar esses dados, e isso desencadeia uma série de outros problemas, como arquivamento errado e exclusão do exame, por exemplo.
Para se ter uma ideia, há quatro anos os exames impressos deveriam ser mantidos no sistema do hospital por, no mínimo, 20 anos, enquanto os digitalizados seriam mantidos, permanentemente. Agora, para ambos a premissa é de que se o paciente retirou, deve ser arquivado apenas uma via do laudo, e se não retirou, então deve ser armazenado por, no mínimo, 20 anos, considerando o último registro no prontuário.
Segundo a pesquisa da Technavio, o mercado de armazenamento em nuvem deve crescer US? 25,54 bilhões até 2024, e seu uso oferece vantagens como redução de custos na infraestrutura de depósito desses exames, algo que, consequentemente, resulta em uma maior eficiência operacional. Além disso, aumenta também a segurança dos dados, bem como, dá mais limite para o crescimento e reduz espaço.
Por ter essa visão de futuro bem estruturada, em pouco tempo a V-Lab conquistou o Sabin, o Fleury e a Dasa, três das quatro maiores empresas de medicina diagnóstica do Brasil. Nos últimos dois anos, após movimentar mais de 750 mil exames, a startup passou a atender novos clientes, como Hospital São Luiz, Odontoprev, Unimed Marília, entre outros. Graças a sua tecnologia compatível com qualquer equipamento médico, em quatro anos, já chegou a mais de 185 salas distribuídas entre mais de 40 clientes espalhados pelo país.
“Devemos avançar com nossos clientes e parceiros nas soluções de inteligência artificial que possam fazer proveito do uso de vídeos em exames de ultrassom. Na verdade, coletar os dados é apenas o começo de algo relevante que crescerá muito mais daqui cinco ou seis anos, e estaremos preparados para isso”, finaliza o CEO.