Quando a executiva Adriana Aroulho foi contar aos pais que assumiria a presidência da SAP Brasil, sua mãe a olhou apavorada: “Você vai assumir logo na pandemia? Não tinha momento mais fácil, não?”. À parte dos desafios adicionais que o período demandou para o negócio como um todo, Aroulho também precisou aprender a presidir remotamente e a lidar com o luto familiar, envolvendo uma pessoa querida próxima.
Esta situação, aliás, a sensibilizou ainda mais para garantir que os esforços da empresa em termos de saúde mental fossem ampliados e os funcionários tivessem acesso e utilizassem, de fato, os programas oferecidos pela empresa. “Foi muito duro e difícil essa perda e acredito que o papel das empresas está também em promover conversas para quem esteja passando por essa situação para que se sinta confortável em pedir ajuda”, disse a CEO no novo episódio do CBN Professional, podcast realizado pelo Valor em parceria com a “CBN”.
A executiva diz que fez parte de sua agenda na pandemia participar ativamente das rodas de conversa entre times e ações do programa de saúde mental geral da empresa. “É muito importante como a comunicação dessas ações é feita para a gente desmitificar que nem todo mundo acorda todo dia: ‘uhu!’ Quanto mais falamos disso, mais a gente traz luz sobre assunto, mais estamos fazendo as pessoas conhecerem as ferramentas que disponibilizamos.” Em sua concepção, a empresa precisa discutir saúde mental da mesma forma que precisa discutir plano de desenvolvimento de carreira.
Ela conta que a SAP começou a falar mais ativamente de saúde mental em 2019, quando a empresa era liderada por Cristina Palmaka e ela atuava próxima, como Chief Operation Officer (COO). Naquele ano, a operação brasileira da empresa de software alemã foi piloto de um programa global que envolvia treinamento das lideranças, mindfulness e apoio psicológico por telefone para funcionários e seus familiares. Na pandemia, contudo, diante do luto, isolamento, maior estresse e convívio com o temor da doença, Aroulho diz que a aderência e interesse das pessoas ao programa foi maior. A empresa também passou a “testar” formatos e iniciativas para engajar times remotos, bem como estimular o equilíbrio entre vida pessoal e familiar. “Colocamos intervalo de almoço definidos na agenda, pedimos mais disciplina na gestão do tempo remoto, criamos atividades para trazer a rotina da casa das pessoas para o nosso ambiente, programa de culinária até ‘escape room’ para times de vendas. Foram muitas iniciativas, em várias fases, até porque sabemos que algumas ações vão perdendo o interesse ao longo do tempo.”
Também em nome da saúde mental, a SAP instituiu globalmente o dia 27 de abril como “feriado corporativo” para seus 100 mil funcionários em 100 países. “É para ser um dia onde as pessoas não trabalham e podem ter mais tempo para refletir e se cuidar. A grande maioria parou e aqueles que não conseguiram por estarem envolvidos em uma missão crítica combinaram um dia posterior de folga.” Nesse dia 27 de abril, aliás, ela conta que estava hospedada em um Airbnb e saiu a manhã toda para caminhar perto da natureza. Casada, mãe de dois filhos, Aroulho diz que precisou aprender, ao longo do tempo, como conciliar a rotina em home office e isolamento. Foi fundamental para sua saúde mental, afirma, aprender a reservar tempo para si, definir regras para a dinâmica em casa e, assim, conseguir aproveitar mais a companhia de seus filhos.
“Passamos a almoçar muito juntos e me senti mais próxima da rotina deles, do que estavam aprendendo na escola e quais dificuldades enfrentavam.” Recentemente, voltou a frequentar em alguns dias da semana o escritório, que reabriu em outubro, e aproveita a oportunidade para caminhar pelos corredores e se conectar “olho no olho” com os times. “Tem sido um momento de muitas descobertas.” O episódio está disponível no site do CBN Professional e em plataformas de streaming como Spotify e Apple Podcasts.