Esse é o cenário projetado pela consultoria de saúde Airfinity, cujos dados são utilizados também pela indústria farmacêutica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a nova variante do coronavírus ômicron como uma "variante preocupante", indicando que ela carrega maiores riscos do que outras linhagens de vírus, mas há no momento muitas incertezas.
“Pode haver uma maior transmissibilidade de acordo com os relatórios iniciais e pode haver (uma) quebra de imunidade, mas ainda precisamos de algumas semanas para reunir os detalhes e saber exatamente com o que estamos lidando”, afirmou hoje Christian Lindmeier, porta-voz da OMS, insistindo na prudência. “Enquanto não soubermos o quão bem ou mal as vacinas (contra a nova variante), as vacinas existentes estão funcionando, o tratamento está recuperando”, acrescentou ele, notando que altas taxas de vacinação funcionam.
Por sua vez, o CEO da Moderna, Stéphane Bancel, já se antecipou e afirmou que a eficácia das atuais vacinas da farmacêutica será menor contra a variante ômicron e que pode levar meses para que as empresas produzam novas doses em escala.
Testes preliminares também indicam que o coquetel de anticorpos da Regeneron Pharmaceuticals Inc. perde eficácia contra a ômicron, conforme afirmou a empresa na terça-feira, sinalizando que alguns produtos de uma importante classe de terapias podem precisar ser modificados se a nova cepa se tornar generalizada.
Conforme o “Wall Street Journal”, as indicações são de que outro coquetel autorizado de medicamentos com anticorpos, da Eli Lilly & Co., também não é tão eficaz contra a ômicron. No entanto, a farmacêutica observou que ainda está testando a nova variante contra seu tratamento e não especularia sobre quais poderão ser os resultados.
A projeção da Airfinity sobre produção de novas vacinas alvejando a nova variante dá uma ideia do que pode acontecer, se a situação se agravar. “Mesmo que novas vacinas possam ser configuradas com relativa rapidez, e esperamos ver uma aprovação rápida, não há nenhuma bala mágica para aumentar a produção’’, diz o CEO da Airfinity, Rasmus Bech Hansen.
“Se precisarmos de uma vacina direcionada para ômicron para manter altos níveis de proteção, é provável que no início do próximo ano vejamos uma corrida de aquisição de vacinas, semelhante à que testemunhamos nesta primavera, onde os países estavam lutando e competindo por uma oferta limitada. Nossos dados mostram que a vacinação do mundo inteiro contra a ômicron está muito distante", acrescentou o executivo da consultoria.
Os cálculos da Airfinity consideram os 100 dias que os fabricantes de vacinas dizem que será necessário para iniciar a produção de doses de segunda geração e usam os dados atuais de produção sobre quantas doses poderiam ser produzidas em diferentes cenários.
No melhor cenário, no qual todos os produtores de vacinas adaptam instalações de produção e começam a produzir rapidamente, 6 bilhões de doses poderiam ser produzidas até outubro de 2022.
Estima-se que as vacinas de RNA mensageiro constituirão a maioria das doses, pois podem ser desenvolvidas mais rapidamente do que as vacinas vetoriais virais cultivadas por células.
As mudanças em todas as instalações de produção também significarão uma freada no ritmo atual de produção das vacinas.
A União Europeia (UE) incluiu nos contratos já feitos com laboratórios farmacêuticos uma cláusula estabelecendo que as vacinas contra a covid-19 precisam ser “adaptadas imediatamente” a novas variantes que surgirem.
“A Europa tomou suas precauções”, declarou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, sobre a cláusula que, na prática, garante para os europeus a vacina mais adaptada que aparecer contra novas variantes do coronavírus.