As empresas brasileiras planejam fazer investimentos em seus negócios em 2015, independentemente do resultado das eleições presidenciais deste ano, mas contam com uma agenda forte de ajustes na economia. O discurso, praticamente unânime, foi revelado nos depoimentos de alguns dos principais empresários do país, que compareceram ontem ao Hotel Unique, em São Paulo, para a cerimônia de premiação do "Valor 1000", que aponta as empresas de melhor desempenho em 26 setores da economia.
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco é um dos que afirmaram acreditar em retomada dos investimentos. "[A retomada] vem de qualquer maneira no ano que vem. O ano de 2015 será de maturação das concessões e terá um fluxo de investimentos maior do que o dos últimos dois anos", disse o executivo. "O agronegócio vai seguir uma locomotiva do país."
A decisão de investimentos da Suzano Papel e Celulose é de longo prazo, disse o presidente da companhia, Walter Schalka. "A empresa acredita no Brasil, que é competitivo no setor de papel e celulose", afirmou. Segundo o executivo, as decisões de investir são tomadas independentemente do candidato que for eleito como presidente da República nas próximas eleições.
Visão parecida tem presidente do grupo Fiat na América Latina, Cledorvino Belini. A montadora, afirmou, tem programado investimentos de R$ 15 bilhões entre 2013 e 2016 e isso não muda de acordo com resultados eleitorais. "A indústria automobilística trabalha no longo prazo, independentemente do governo", disse.
Para João Carlos Brega, vice-presidente para América Latina da fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, as perspectivas para 2015 não são de nenhuma catástrofe na economia. "Não mexemos nem um centavo nos nossos planos para 2015 nem para 2016".
O presidente da Telefônica no Brasil, Antônio Carlos Valente, afirmou que empresa ainda deve definir o valor a ser investido em 2015, mas avalia que não deverá ser muito diferente do registrado neste ano, em torno de R$ 6 bilhões.
A chinesa State Grid também pretende dar continuidade aos investimentos no país, independentemente de quem vença a eleição. O presidente da empresa no Brasil, Cai Hongxian, afirmou que, para 2015, a previsão de aportes é de R$ 1 bilhão.
O presidente do Grupo Andrade Gutierrez, Otavio Marques de Azevedo, disse que em 2015 o valor a ser investido pelo grupo deverá superar R$ 12 bilhões. Mas também trabalha com o cenário de ajustes na economia, independentemente de quem for eleito.
O Pão de Açúcar, maior varejista do país, não fechou o valor que irá investir em 2015, mas Ronaldo Iabrudi, presidente do grupo, já sabe que será um montante superior ao deste ano. O número de lojas a serem abertas também será maior.
A Kroton não vai mudar seus planos de investimentos. O grupo educacional mantém a meta de investir cerca de R$ 500 milhões em 2014. Entre 2015 e 2019, a companhia prevê investimentos de R$ 3 bilhões. "Independentemente de quem seja o novo presidente não vamos mudar nossos planos ", disse Rodrigo Galindo, presidente da empresa.
O presidente da Cielo, Rômulo de Mello Dias, afirmou que a companhia está "otimista, mas com o pé no chão" em relação a 2015. Segundo ele, o cenário para a empresa não deve ser muito diferente do visto neste ano. O vice-presidente do grupo Grazziotin, Marcus Grazziotin, disse que a empresa deve manter os investimentos em 2015 no mesmo volume estimado para 2014. " Não muda nada com o cenário eleitoral, o efeito nos investimentos previstos é zero."
O Grupo Balbo, detentor de três usinas de cana, pretende investir em torno de R$ 30 milhões em 2015, valor inferior à média anual de R$ 78 milhões da década passada. "Poderemos investir um pouco mais, dependendo de quem for eleito à Presidência", disse Clésio Antonio Balbo, presidente da companhia. Já o presidente do conselho de administração do moinho Anaconda, Luiz Martins, foi um dos poucos a afirmar que o resultado das eleições tende a trazer alguma influência na decisão de investimento em 2015. "Apesar de produzirmos um produto básico, a farinha, é lógico que essas questões estão ligadas à política."
Sobre as eleições, a avaliação de grande parte dos empresários é a de que, independentemente de quem seja o presidente do Brasil, o ano que vem demandará uma agenda de ajustes na economia.
Schalka, da Suzano, diz que qualquer um dos presidenciáveis - Dilma, Aécio ou Marina -, terá de fazer ajuste semelhante na economia do país. "Não há jeito. terá de ser um ajuste ortodoxo", disse. Segundo o empresário, o próximo presidente terá de fazer um ajuste tarifário e mexer no câmbio.
Trabuco, presidente do Bradesco, defende para 2015 um ajuste na questão fiscal brasileira, que precisaria ficar mais enxuta e abrir espaço para a "próxima etapa de mudança de taxas de juros".
Para Azevedo, da Andrade Gutierrez, se Dilma for reeleita o ajuste econômico pode começar já em 2014. "Se for Dilma, o ajuste pode começar neste ano mesmo", disse o executivo, dando como exemplo o reajuste do preço da gasolina.
Para Belini, da Fiat, quem vencer a corrida pela Presidência terá "capital político" para realizar as reformas necessárias O executivo acredita que o próximo governo, qualquer seja ele, terá que seguir a política econômica baseada em câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal.
Na avaliação de Brega, da Whirlpool, nenhum dos três candidatos está anunciando medidas diferentes do controle fiscal e a meta de inflação. Isso deve manter o cenário sem grandes mudanças, independentemente de quem ganhe.
Valente, da Telefônica, acredita que o próximo presidente deveria se debruçar sobre um tema que considera urgente: desburocratizar a atividade econômica.
O cenário econômico será mais difícil caso a eleita seja Marina, na opinião de Grazziotin, do grupo Grazziotin. O executivo acredita que a candidata tem menos base de apoio político do que os outros candidatos. "Se for Marina é pior que os outros", disse.
Para Clésio Antonio Balbo, a eleição de Aécio tende a dar "mais entusiasmo aos investimentos". Sobre Marina, Balbo diz que ainda não consegue imaginar como seria seu governo. Martins, do Anaconda, diz esperar cenário "mais tranquilo" na economia caso Aécio vença. Questionado sobre uma possível reeleição de Dilma, Martins afirmou que "essa situação de incerteza" não pode continuar.
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