De acordo com os cientistas, cinco doentes (10,6%) apresentaram o que é conhecido por 'fenótipo fibrótico' - uma condição caracterizada pelo espessamento do septo alveolar, uma estrutura onde ocorrem as trocas gasosas. Por outras palavras, nessas pessoas o tecido normal do pulmão deteriorado pelo coronavírus foi substituído por tecido cicatricial ou fibrose, o que consequentemente dificultou a respiração.
Entretanto, outros dez pacientes (21,2%), apresentavam 'fenótipo trombótico'. Ou seja, nesses casos o tecido pulmonar encontrava-se quase normal.
No entanto, foram ainda assim detectados sinais de coágulos (trombos) em pequenos vasos.
Adicionalmente, os investigadores identificaram um terceiro grupo de 32 pacientes (68,1%) que detinham os dois fenótipos.
Conforme explica a revista Galileu, a idade média dos doentes que integraram a pesquisa foi de 67,8 anos, com uma proporção similar entre homens e mulheres. Todos os pacientes sofriam de doenças preexistentes, sendo as mais comuns hipertensão (55%) e obesidade (36%). Quando foram internados no hospital, 66% experienciavam falta de ar. As complicações durante o internamento incluíram choque séptico (62%), falência renal aguda (51%) e síndrome do desconforto respiratório agudo (45%).
Para efeitos da pesquisa, as amostras pulmonares foram obtidas após o falecimento dos doentes através da realização de autópsias, que de seguida foram conservadas em formol e parafina. Os blocos foram então cortados em lâminas com espessura de 3 micrômetros, que foram coradas e analisadas por microscopia e imuno-histoquímica. O RNA do coronavírus SARS-CoV-2 foi detectado em todas as amostras analisadas.
"Partimos de uma avaliação da morfologia do pulmão para, na sequência, estudar o histórico clínico e os exames radiológicos desses pacientes. E foi possível notar, após a análise estatística, que os dados se correlacionavam", disse à Agência Fapesp o patologista Alexandre Fabro, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e coordenador do estudo.