SÃO PAULO — Fundador do maior grupo de hospitais privados do país, a Rede D'Or, o cardiologista Jorge Moll Filho faz um balanço dos impactos de um ano e meio da pandemia nos médicos, nas instituições de saúde do grupo e nele próprio. Defende veemente o uso do passaporte de vacinas e afirma que a obrigatoriedade no uso de máscaras deverá ser afrouxada muito em breve. Aos 75 anos de idade, diz que tem “um longo caminho pela frente”, ao se referir aos novos centros de saúde em construção em São Paulo.
Mudou muita coisa. Alguns se recolheram por medo. Muitos enfrentaram o desconhecido heroicamente. Lembro de um rapaz de 28 anos, recém-formado. Ele foi um dos primeiros a se oferecer para participar dos hospitais de campana. Trabalhou 24 horas por dia com uma dedicação incrível. Morreu da infecção. Não tem como não impactar uma história dessas. O que vimos ao longo desse tempo foi a maior mexida que poderíamos sentir. Me incluo porque sou médico também. Mas posso dizer que saímos mais fortes e melhores. Aprendemos que temos de ser humildes para mudar de opinião. Não faltou leito nos meus hospitais, mas nos mexemos bastante para isso não acontecer. Chegamos a interromper a construção do Hospital Gloria, no Rio, para usar o material em outros lugares. Em outro momento, São Paulo estava em uma fase melhor, enquanto o Rio piorava. Trouxemos gente e equipamentos de uma cidade para outra para enfrentar o problema.
A máscara é um hábito que ficará por muito tempo. Mas o custo-benefício do uso já não é tão grande. Temos em muitos lugares um grande número de pessoas vacinadas. Essa pandemia vai se tornar uma endemia. Claro que os mais idosos ou pessoas com comorbidades devem ter ainda mais cuidado. É só observar o que está acontecendo em outros países. Cheguei há poucos dias de uma viagem à França e Itália, as pessoas não estão usando máscaras nas ruas.