Os relatos vão desde uso de prontuário errado para convencer a família a encaminhá-lo para cuidados paliativos a tentativa de retirá-lo da UTI, mesmo sem autorização. Os senadores chegaram a uma conclusão: caso a Prevent tivesse conseguido manter o protocolo que pretendia, “teria sido assassinato”, disse Rogério Carvalho (PT-SE).
A história começa em 24 de dezembro de 2020, quando Tadeu, aos 65 anos, começou a sentir os primeiros sintomas de covid-19: febre e dor no corpo. Beneficiário da Prevent Senior, ele recorreu ao plano de saúde no dia seguinte, pelo aplicativo de celular, para saber como proceder.
Em uma teleconsulta que durou menos de dez minutos, a médica disse que mandaria medicamentos para a casa dele. Um motoboy entregou, então, o chamado "kit covid", com remédios sem eficácia para a doença, como hidroxicloroquina e ivermectina. "Comecei a tomar. Não tinha o que contestar, eu estava sendo orientado por uma médica", contou Tadeu.
O tratamento duraria cinco dias. Mas, em vez de melhorar, ele piorou. Na noite de 30 de dezembro, Tadeu precisou ir ao pronto-socorro da Prevent Senior, onde fez um segundo teste PCR, que confirmou o diagnóstico de covid-19. Foi só naquele dia que ele ficou sabendo que estava com pneumonia bacteriana avançada.
"Eu acredito que, com um atendimento pronto, imediato, no primeiro dia, talvez minha pneumonia tivesse sido combatida mais eficientemente", disse Tadeu à CPI. Confirmado o diagnóstico, ele foi prontamente internado e intubado.
O argumento era que o caso dele não tinha solução, que ele estava com os rins e pulmões comprometidos e que, eventualmente, se sobrevivesse, seria um paciente com problemas renais crônicos e problemas respiratórios. "No entanto, nos últimos exames que eu fiz, meus pulmões estão ótimos, meus rins estão ótimos", contou Tadeu.
Segundo a médica, o protocolo fora da UTI seria ministrar uma bomba de morfina e desligar todos os equipamentos que garantiam a sobrevivência do paciente. "Inclusive, se eu tivesse alguma parada cardíaca, teria recomendação para não haver reanimação", relatou Tadeu.
"Felizmente, minha filha não concordou por telefone", disse. Mesmo sem autorização da família, três horas depois, a médica inseriu no prontuário o início dos tratamentos paliativos. A recomendação, além da bomba de morfina, era para que não fizessem mais hemodiálise, não ministrassem mais antibióticos e não fizessem a manobra de ressuscitação.
No final do prontuário, a médica colocou que a filha de Tadeu havia concordado com as medidas. "Isso é mentira, minha família não concordou", reforçou o advogado. Pouco depois, as duas filhas e a irmã de Tadeu foram presencialmente a uma reunião com três médicos: Bianca de Carvalho Perri, que se identifica como sendo médica paliativista da Prevent Senior, Fábio, que ficava na UTI, e Gustavo dos Santos.
"Eles tentam convencer a minha família de que, pelo prontuário na mão, que eu tinha marcapasso, que eu tinha sérias comorbidades arteriais e que, enfim, eu tinha uma idade muito avançada. Só que esse prontuário não era meu, era de uma senhora de 75 anos. Eu não tenho marcapasso, a única coisa que eu tenho é pressão alta", relatou Tadeu.
Durante a conversa, a família discordou dos cuidados paliativos e ameaçou ir à Justiça e procurar a mídia para impedir que ele saísse da UTI. "Nesse momento, a Prevent recua e cancela o início do tratamento paliativo”, disse Tadeu. “Ou seja, eu, em poucos dias, estaria vindo a óbito, e hoje estou aqui”, afirma.
Hoje, o caso corre no Ministério Público de São Paulo. Tadeu denunciou a Prevent Senior e contou que o caso já está com a força-tarefa dos promotores. "Lá em São Paulo, formaram uma força-tarefa de cinco ou oito promotores que iniciaram as investigações”, disse.
Em depoimento à CPI da Covid, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou todas as acusações feitas até então. Em nota divulgada no último dia 28, a Prevent disse “nunca ter escondido ou subnotificado óbitos” e que "sempre atuou dentro dos parâmetros éticos e legais”.