Dois meses após sua abertura de capital (IPO), que movimentou R$ 2,7 bilhões, a Oncoclínicas, maior rede de clínicas para tratamento de câncer do país, já anunciou quatro aquisições que somaram cerca de R$ 2 bilhões. A maior parte desse montante vem da compra da Unity, grupo de Brasília que atua no mesmo segmento, por R$ 1,3 bilhão - sendo R$ 558 milhões em dinheiro e o restante em troca de ações.
“Temos um ‘pipeline’ com 30 negócios. Esse é um mercado ainda muito fragmentado, há bastante espaço para crescer”, disse o médico Bruno Ferrari, presidente do conselho de administração da Oncoclínicas. Segundo Ferrari, o setor de oncologia, incluindo diagnóstico, movimenta R$ 50 bilhões no Brasil e a participação de mercado da rede de clínicas é inferior a 10%. De acordo com projeções do Itaú BBA, as receitas provenientes de novas aquisições deverão representar 15% do total em 2025.
O valor das quatro aquisições realizadas pós IPO é maior do que a soma das 17 transações feitas entre 2018 e 2021. Nesse período, o grupo movimentou cerca de R$ 600 milhões em compras.
No entanto, as ações da Oncoclínicas tiveram desvalorização de 27,5% desde o IPO, numa operação em que o papel já foi precificado abaixo do piso indicativo. “Fomos uma das últimas a abrir o capital, num cenário macroeconômico bastante tumultuado. As empresas mais novas, menos conhecidas [entre os investidores] foram as que mais sofreram, como é o nosso caso”, disse Ferrari.
Com a aquisição da Unity, a Oncoclínicas passa a ter cerca de 100 unidades para tratamento de câncer e entra na região Norte do país. Seu maior concorrente é a Rede D’Or, que tem cerca de 50 clínicas distribuídas em oito Estados, além de uma infraestrutura hospitalar oncológica que se tornou referência no tratamento da doença que mais cresce no mundo. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil terá 625 mil novos casos de câncer a cada ano no triênio 2020-2022.
Diante desse cenário, a área de oncologia é alvo de interesse de grupos de saúde. Em julho, a Dasa adquiriu a Amo, uma rede de clínicas oncológicas na Bahia, por R$ 750 milhões. A ideia da Dasa é integrar essa rede aos laboratórios e hospitais que possui em Salvador.
A Oncoclínicas também tem como estratégia investir em unidades de alta complexidade conhecidas como cancer centers - onde o tratamento do câncer é feito de forma integrada com outras especialidades médicas. Na sexta-feira, a companhia adquiriu uma fatia remanescente de 40% que ainda não detinha da Oncobio, complexo para tratamento de câncer localizado na Grande Belo Horizonte, por R$ 42 milhões. Com isso, o grupo passa a deter 100% desse complexo, que conta com 30 consultórios médicos, 37 posições de infusões, 22 leitos de internação, unidade de oncologia pediátrica, estrutura para transplante de medula óssea, radioterapia, hospital dia e pronto socorro oncológico. “Temos cancer center também no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Uberlândia. Vamos abrir outros ou adquirir”, disse.
A receita do grupo cresceu 34% no primeiro semestre para R$ 1,2 bilhão, mas o resultado final é negativo em R$ 195 milhões. Esse desempenho foi atribuído despesas com aquisições e programas de incentivos de longo prazo, resultado operacional de unidades novas, covid, entre outros.