Em meio às denúncias contra a Prevent Senior, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) solicitou à Hapvida documentos e informações sobre o uso do chamado “kit covid” e cerceamento à autonomia dos médicos que trabalham nos hospitais próprios do grupo.
Representantes da agência reguladora estiveram nas sedes da Hapvida, em Fortaleza, e da São Francisco, operadora de Ribeirão Preto (SP) que pertence ao grupo, na segunda-feira após denúncias. Os fiscais solicitaram documentos e questionaram se os usuários da Hapvida eram informados sobre o uso de medicamentos como hidroxicloroquina, cuja eficácia contra a covid-19 não é comprovada cientificamente.
A visita da ANS na Hapvida foi diferente da realizada na Prevent Senior, que teve documentos recolhidos pelos fiscais da agência.
No começo da pandemia, vários hospitais usaram a hidroxicloroquina nos pacientes acometidos pela doença, porque ainda não havia consenso em torno do melhor tratamento. Em maio de 2020, a Hapvida chegou a anunciar uma distribuição gratuita da hidroxicloroquina a pacientes com prescrição - havia escassez do medicamento no mercado. A empresa informa que a ação foi interrompida com a divulgação de pesquisas.
No fim de julho, um amplo estudo científico mostrou que a hidroxicloroquina não é eficaz e outra pesquisa, publicada em setembro, revelou que a azitromicina também não resultava em melhora clínica dos pacientes. Ambas as pesquisas foram publicadas em revistas científicas internacionais.
A Hapvida também sofreu uma outra pressão. A Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitiu um parecer, na sexta-feira, informando que a fusão com a NotreDame Intermédica é complexa e que é preciso realizar novas diligências para aprofundar a análise.
A Superintendência afirmou no documento que a fusão das duas operadoras resulta em “concentrações elevadas com evidências de rivalidade reduzida e elevadas barreiras à entrada em alguns mercados de planos de saúde médico-hospitalares coletivos, por adesão e empresariais.”
Ainda segundo o órgão antitruste, essas constatações foram observadas considerando a concorrência por cidades e conforme as definições da ANS - a agência reguladora já aprovou a fusão das operadoras. Os mercados atingidos representam cerca de 20% dos beneficiários de planos de saúde por adesão e 10% dos usuários de planos empresariais das duas operadoras.
A Superintendência Geral do Cade mostrou-se preocupada quando à possibilidade de fechamento de mercado, especialmente em localidades com disponibilidade reduzida de leitos hospitalares.
Os concorrentes, clientes e fornecedores consultados pela SG apresentaram questionamentos que giram, principalmente, em torno de quatro pontos: redução no número de concorrentes no mercado de planos de saúde, potencial incremento de barreiras à entrada de outras operadoras devido ao ganho de escala de Hapvida e Intermédica, eventual queda de leitos e possibilidade de descredenciamento de serviços médico-hospitalares.