História da Prevent Senior
A Prevent Senior foi fundada pelos irmãos Fernando e Eduardo Parrillo, que começaram a atuar no setor de saúde no negócio de remoção de pacientes por ambulância.
Fernando Parrillo falou sobre isso em entrevista publicada em 2007 na revista Memória Empresarial:
O passo seguinte dos irmãos foi comprar uma clínica em Santo Amaro e criar um plano de saúde. Em seguida, eles decidiram investir numa estrutura própria, para que a clínica não dependesse mais das empresas de ambulância para fazer a remoção dos pacientes.
O próximo passo, segundo o empresário, foi criar um modelo de negócios focado na prevenção e no público com mais de 60 anos.
"Nessa fase, apareceu a oportunidade da compra de um hospital na Bela Vista [bairro da região central de São Paulo], que foi o grande salto da nossa vida", contou Fernando Parrillo. Esse primeiro hospital foi inaugurado em 1997.
"Outra estratégia fundamental foi investir em publicidade pela televisão. Ainda não existia merchandising de operadora de saúde, e nós fomos os primeiros a entrar. Quando o meu irmão aparecia falando do nosso sistema em um programa vespertino, era uma loucura para atender todas as chamadas telefônicas."
Por que a maioria das operadoras cobra preços exorbitantes dos idosos?
"A Prevent Senior é um caso único em seu segmento, que desafia a lógica do setor", observava a XP Asset Manegment, em relatório de 2020.
"Apresenta majoritariamente beneficiários idosos, que a princípio oneram mais a rede devido à maior frequência de atendimentos, sobretudo dos mais complexos e internações, e ainda assim exibe margens de rentabilidade muito acima da média do setor."
O comentário da gestora de recursos ajuda a entender por que os outros planos cobram preços proibitivos dos idosos - o que fez a Prevent se destacar ao cobrar mensalidades de em média R$ 800.
"O preço tem a ver com risco na área planos de saúde", explica Carlos Suslik, médico, consultor na área de saúde e ex-diretor executivo do Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo.
"A gente costuma dizer na área de saúde que a pessoa gasta 50% de tudo que ela gasta em saúde ao longo da vida no último ano de vida, porque é nesse último ano que em geral vem o 'evento catastrófico', como um câncer, um infarto, um AVC [acidente vascular cerebral]", exemplifica o consultor.
"É muito difícil a gente morrer que nem um passarinho, que dorme, e no dia seguinte está morto. E, quanto mais velho a gente está, mais próximo estamos desse último ano de vida. Isso faz com que o custo da saúde do idoso seja muito maior", justifica.
A questão das faixas etárias para reajuste dos planos
Para Alessandro Acayaba de Toledo, presidente da Anab (Associação Nacional das Administradoras de Benefícios), um outro fator que leva aos altos preços dos planos de saúde para idosos é o fato de, a partir de 2004, com a entrada em vigor do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03), os planos de saúde terem ficado proibidos de fazer reajustes por faixa etária para pessoas acima dos 60 anos.
Até 2004, os planos tinham sete faixas etárias, sendo as últimas 50 a 59 anos, 60 a 69 anos e 70 anos em diante. Depois do Estatuto do Idoso, as faixas passaram a ser dez, mas a última delas é 59 anos ou mais.
A partir dessa idade, portanto, os planos não podem mais fazer reajuste por faixa etária, mas apenas o reajuste anual baseado na variação dos custos médico-hospitalares e na sinistralidade (número de vezes em que o plano de saúde é usado pelos pacientes).
"Por essa regra, o cara de 65 anos paga a mesma coisa que o cara de 85 anos. Isso faz com que o plano tenha que cobrar mais caro de todo mundo na média", argumenta Suslik, que defende a volta das faixas adicionais para os idosos mais velhos.
Matheus Falcão, advogado do programa de Saúde do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), discorda da proposta e diz que a faixa única acima dos 59 anos foi estabelecida para proteger os direitos dos idosos.
"Conhecemos esse argumento, mas não concordamos com essa tese", diz Falcão. "Foi estabelecida uma faixa só porque o Estatuto do Idoso veta a discriminação entre idosos. A proibição de que haja reajustes distintos é uma forma de proteger essa parcela da população", considera.
Segundo o advogado, o mercado de planos de saúde é orientado pelo princípio do mutualismo, em que os setores mais jovens ajudam a financiar os mais velhos. "Você não pode individualizar o risco, isso quebra com a ideia do mutualismo. Se você permitir que as pessoas mais velhas recebam reajustes mais elevados, isso vai expulsando as pessoas nos níveis mais elevados e nada garantiria que as operadoras reduziriam o percentual de reajuste."
O que garante à operadora menores custos do que a concorrência e permite a ela oferecer planos mais baratos aos idosos é a verticalização, jargão do mundo dos negócios para quando uma empresa controla as diversas etapas do seu processo, sem terceirizá-las para outras companhias.
"A empresa conseguiu com muito sucesso implementar uma estrutura muito vertical, centrando grande parte dos atendimentos e exames, dos simples aos complexos, em seus postos de atendimentos e rede própria de hospitais, conhecida como Sancta Maggiore", diz a XP Asset no seu relatório.
Suslik explica que o uso da rede própria permite à empresa um maior controle dos custos.
"Na rede própria, você consegue regular o uso de exames, de laboratórios, de internações, o tempo de internação, porque a rede é sua", diz o consultor, lembrando que outras operadoras também têm redes próprias, como NotreDame Intermédica, Hapvida e Unimed, no Brasil, e a Kaiser Permanente, no mercado americano.
Outro fator que reduz o custo da Prevent, segundo o ex-diretor do HC, é a regionalização.
O problema desse modelo baseado em rede própria e regionalização é a dificuldade de escalar o negócio. Isso explica por que somente em 2020 a Prevent Senior expandiu sua atuação para o Rio de Janeiro, ainda restrita à capital fluminense.
Plano individual ou coletivo?
Outra peculiaridade do modelo de negócios da Prevent é apostar quase que exclusivamente em planos individuais ou familiares, quando a maioria do setor prefere os planos coletivos, que são aqueles oferecidos por empresas ou associações de classe, como os sindicatos.