Apesar de muitas empresas terem ampliado os cuidados com as equipes na pandemia por meio de ações para a promoção da saúde e do bem-estar físico e mental, o movimento não é amplo. Levantamento obtido com exclusividade pelo Valor revela que 80% das companhias não monitoraram a saúde dos funcionários no último um ano e meio, e que 62% não pretendem implementar iniciativas de “descompressão” ou engajamento na eventual retomada aos escritórios.
O estudo foi realizado pela Ticket, marca de benefícios de alimentação e refeição da Edenred Brasil, entre agosto e setembro de 2021 com 350 representantes de empresas de todos os portes em 18 estados e no Distrito Federal. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais estão na lista. Foram consultados grupos da indústria, serviços, comércio, governo e saúde.
De acordo com o relatório, 71% das companhias já estão atuando de forma presencial ou híbrida. Sobre o investimento em programas permanentes de saúde mental, 65% dos quadros não têm acesso a qualquer iniciativa do tipo e, entre os que são beneficiados, 19% o fazem por meio de plano ou auxílio-saúde e 9% possuem suporte por telefone ou atendimento on-line oferecido pelo empregador. Dezesseis por cento das organizações ouvidas afirmam que o número de afastamentos por questões de saúde aumentou na pandemia.
É grande a quantidade de empresas (80%) que não realizou o monitoramento do bem-estar dos funcionários, analisa José Ricardo Amaro, diretor de recursos humanos da Ticket. “O resultado acende um alerta sobre a falta de iniciativas que possam ‘entender’ a realidade de quem compõe os times e faz o negócio andar”, diz.
Além do apoio que as organizações poderiam oferecer aos funcionários, caso fossem contaminados pela covid-19 ou estivessem passando por adversidades relacionadas à situação física e mental, os insumos coletados no período seriam de grande valor para a estruturação do retorno ao trabalho presencial, explica Amaro.
Entre as empresas que planejam ações voltadas à recepção e engajamento dos times na fase de retomada, 16% devem oferecer espaços e programações de relaxamento, jornada flexível para mães e pais (8%), atendimento com psicólogo de forma presencial (7%) e auxílio pet para a estadia dos bichos em “hotéis” de animais (0,7%).
O regresso aos escritórios será um momento delicado de transição que pode ser comparado ao que ocorreu no início da pandemia, quando os profissionais foram para o home office, diz o executivo. “Houve necessidade de adaptação a uma nova rotina, que poderia interferir no emocional das pessoas e na produtividade”, afirma.
No caso da volta ao expediente presencial, estamos falando da quebra de um vínculo fortalecido com os membros da família, por conta de um convívio mais intenso, destaca.
“A área de RH das empresas terá um grande desafio, de zelar pela integridade física dos funcionários – afinal, a pandemia não acabou – mas também de acolher as pessoas.” Em pesquisa realizada pela Ticket em julho, com 1,5 mil profissionais, 36% se sentiam desmotivados e 30% avaliaram de forma negativa a própria saúde mental.