71,5% dos brasileiros podem ser infectados pelo coronavírus em 2022
20/08/2021

Um novo estudo do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ação Covid-19 desenvolveu possíveis cenários para pandemia em 2022. Os pesquisadores concluíram que a porcentagem de brasileiros infectados pelo Sars-CoV-2 pode chegar a 71,5% da população em áreas com alta densidade populacional e baixa qualidade de vida.

 

Criado em maio de 2020, o Ação Covid-19 reúne cientistas e pesquisadores de diversas áreas para estudar o desenvolvimento da pandemia no Brasil.

A pesquisa avaliou três possíveis variáveis: se a imunidade da vacina vai durar um ano ou um ano e meio, se a região tem alta densidade populacional e qual o Índice de Proteção à Covid-19 (IPC, um medidor de qualidade de vida considerando a infraestrutura urbana). Em relação à imunidade da vacina, os pesquisadores levaram em consideração a vacinação em carrossel, ou seja, à medida que a imunidade na população for diminuindo ela vai sendo reposta por novas doses.

Os pesquisadores encontraram o cenário mais positivo em uma cidade como São Paulo, com densidade populacional baixa e alto IPC, e a vacina garantindo proteção por um ano e meio. Nesse caso, 36,1% da população será infectada pelo vírus causador da Covid-19 no meio de 2022. O número vale para pessoas com diagnósticos positivos desde janeiro de 2020.

O pior cenário seria numa cidade como Olinda (PE), com alta densidade populacional, baixo IPC e proteção conferida pela vacina mais breve, de um ano. Nesta situação, até 71,5% da população pode apresentar diagnóstico positivo ao longo da pandemia já no começo de 2022.

 

Dependendo da duração da imunidade obtida com as vacinas, um novo pico de infecções pode ocorrer já em abril do próximo ano. Embora um eventual novo pico não seria tão alto quanto o último, em abril deste ano, quando atingiu mais de 4 mil mortes diárias, ainda poderia provocar a perda de muitas vidas, passando de 0,25% da população em algumas cidades.

Para a coordenadora do Ação Covid, Patrícia Magalhães, o estudo serve como alerta:

— O objetivo é mostrar que ainda que toda população seja vacinada não há passaporte infinito. O vírus continua circulando e as pessoas vão continuar tendo contato com ele. Pode parecer um cenário catastrófico, e acho que é preocupante, mas serve de alerta sobre o risco de abandonar totalmente o distanciamento social.
 

O estudo não avaliou quantas dessas pessoas infectadas ficariam, de fato, doentes, ou como seria o desenrolar da enfermidade. Mas, segundo Magalhães, quanto mais gente infectada, maior o risco de que surjam novas variantes.

A autora da pesquisa também sublinha o diferente impacto da pandemia na população.

— A questão da desigualdade fica muito evidente. O estudo mostra como as pessoas de IPC baixo precisam de aporte da política pública e continuam sendo as mais infectadas — diz Magalhães.

Para a coordenadora, é necessário também que os governos atuem mais fortemente na vigilância epidemiológica, para atestar, com mais certeza, quando a imunidade das vacinas está caindo na prática.

Fonte: Exame




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