Para indústria, inovação ainda parece utopia
Concorrência internacional e burocracia nos processos de registro de produtos são os obstáculos para inovar
07/08/2014 - por Revista Saúde Business

~Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A máxima do químico francês Lavoisier parece valer para a indústria da saúde brasileira - acostumada a melhorar, incrementar e até mesmo copiar o que já existe. As inovações disruptivas – aquelas que propõe novos paradigmas – ainda passam longe das pequenas e médias empresas que compõem (65%) o segmento.

Com um déficit de US$ 4,16 bilhões na balança comercial de produtos para a saúde (*), como é possível sair da rota de sobrevivência e da competição com mercados conhecidos e estabelecidos para arriscar e explorar novas possibilidades? Para o presidente executivo da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios), Paulo Fraccaro, não tem mágica, “o Brasil precisa ter uma reforma política, administrativa e tributária para que possa simplificar a vida das empresas. Não vejo de jeito nenhum uma saída em curto prazo”.

O que empresários e profissionais do setor evidenciam é que a inovação (veja posição do Brasil na tabela), inevitavelmente, depende de políticas estruturais de mercado, e, é neste aspecto que a indústria nacional emperra. Dentre os unânimes entraves citados pelos entrevistados estão: a demora da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para registrar um produto e a desvantagem em competir com importados, que chegam com total isenção de impostos para os hospitais e entidades públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos, que abrangem praticamente 90% do segmento assistencial. “Se eles comprarem no Brasil pagam até 48% de imposto. Isso é um desestímulo para produzir no Brasil. A saída seria deixar os produtos médicos isentos de impostos ou criar uma lei para isentar tanto os produtos médicos nacionais quanto os estrangeiros fornecidos para esses hospitais”, comenta o coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde (Comsaude) da Fiesp, Ruy Baumer, lembrando que essa “briga” já dura sete anos.

Entretanto, o Brasil não está totalmente por fora das características imprescindíveis para inovar - que são, segundo Baumer, ter mercado, fomento, recurso, incentivo à inovação por meio de lei, pessoas especializadas e informação.

Apesar da escassez de mão de obra na área e burocracias atreladas à legislação, o executivo afirma que há um parque instalado de empresas “razoavelmente” capazes de inovar. “Também temos boas ideias, acesso à informação e mecanismos de fomento - com BNDES, editais da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Finep - Inovação e Pesquisa, entre outros”.
As oportunidades hoje são aproveitadas por meio de inovações incrementais, mais acessíveis do que o desenvolvimento de produtos completamente novos. “As empresas brigam por nichos secundários do mercado, que são um estepe provisório. Não são um passo para um grande projeto, o que as deixam muito tempo em um tamanho pouco competitivo”, diz Fraccaro.

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