Por Marcelo Tokarski*
O Brasil está próximo de atingir o patamar de 60% da população com pelo menos a primeira dose de alguma vacina contra o coronavírus. Hoje, temos 16% dos brasileiros totalmente imunizados e 42% que já receberam pelo menos a primeira dose. O avanço, enfim, da vacinação, tem provocado uma consistente queda no número de casos e mortes provocadas pela covid-19. Amanhã, o país completa um mês de redução nos números de novos infectados e de óbitos.
Em 20 de junho, o Brasil registrava uma média móvel de 2.061 mortes por dia. Hoje, o indicador está em 1.247 ao dia, uma queda de 40%. Na comparação com duas semanas atrás, o recuo também é significativo, de 20%. Fenômeno parecido se dá no número de novos casos. A média móvel de novas infecções registradas chegou a 40.948 por dia, um recuo de 44% na comparação com 20 de junho e de 18% em relação há duas semanas.
Com menos casos novos, os hospitais estão bem mais desafogados. De acordo com balanço divulgado no fim da semana passada pela Fiocruz, pela primeira vez desde o início de dezembro nenhuma unidade da Federação está com mais de 90% de ocupação em seus leitos de UTI. E apenas quatro (Goiás, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal) estavam em nível considerado crítico (acima de 80%).
Para muitos especialistas, o Brasil pode ter ingressado em um novo momento da pandemia. Apesar do número ainda elevado de mortes (basta lembrar que a média diária de 1.247 continua superior ao pior momento da primeira onda de covid-19 no país, registrado entre o fim de maio e o fim de agosto), o cenário mostra algum controle, o que tende a se firmar com o avanço da vacinação. Há pouco mais de um mês, desde 15 de junho, o Brasil vem mantendo em acima de 1 milhão por dia a média móvel de doses de vacina aplicadas. Neste domingo, o indicador ficou em 1,2 milhão.
Variantes
O que pode ameaçar esse cenário são as novas variantes do coronavírus, em especial a Delta, que tem maior poder de transmissão e tende a acelerar o contágio no país. A Delta já está presente em alguns estados brasileiros, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo, onde foi comprovada inclusive a transmissão comunitária (quando não é possível identificar onde e de quem a pessoa contraiu o vírus).
O preocupante exemplo vem de alguns países da Europa, onde a vacinação está inclusive mais avançada que no Brasil, mas o número de novos casos voltou a crescer fortemente. Em relatório, o ECDC (Centro Europeu para o Controle e a Prevenção de Doenças, na sigla em inglês) alertou para a “deterioração da situação epidemiológica” em vários países do velho continente, com maior criticidade para Holanda, Espanha, Portugal e Chipre. Fora da Europa, Israel, outro modelo de vacinação, tem visto um crescimento vertiginoso no número de novos casos de covid-19.
Se esse fenômeno tem acontecido na Europa, é difícil imaginar que o cenário não possa se repetir por aqui. Por enquanto, a boa notícia é que “apenas” o número de casos vem crescendo na Europa, e não o de mortes. Sinal de que a vacinação, se não consegue erradicar o contágio, funciona, e bem, para reduzir a gravidade dos casos e o número de óbitos.
Por aqui, nos últimos dias o que temos visto é a flexibilização das regras de distanciamento social. Cenas de bares e restaurantes cheios se espalham pelo Brasil. Dentro de duas ou três semanas, saberemos o real impacto desse comportamento social. A julgar pelo que tem ocorrido na Europa, não será surpreendente um aumento no número de novos casos.
Se essa hipótese for confirmada, resta saber qual será o impacto do aumento do contágio no número de mortes, uma vez que apenas 16% da população brasileira já tomou as duas doses de alguma vacina e está, em tese, completamente imunizada. As próximas semanas serão cruciais para entendermos se seguiremos andando para a frente, ou se voltaremos a dar passos para trás.
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.