As operadoras de planos de saúde repassaram, pela primeira vez, mais de R$ 1 bilhão a cada dois dias para pagar pelo atendimento médico de seus beneficiários. O valor foi transferido para cobrir as despesas em hospitais, laboratórios e clínicas, assim como para o pagamento de médicos, dentistas, psicólogos, enfermeiros, técnicos e demais profissionais da saúde.
As despesas das operadoras de saúde deram um salto, passando de R$ 43,357 bilhões, no 1º trimestre de 2020, para R$ 47,116 bilhões, no mesmo período deste ano, um crescimento de 8,7%. Ou seja, as empresas de planos de saúde repassaram, em média, R$ 523,5 milhões a cada dia, ao longo dos primeiros três meses de 2021. Esse dinheiro vem das mensalidades pagas pelos beneficiários e é utilizado para cobrir o atendimento prestado a quem precisa de consultas, exames, tratamentos, internações e cirurgias.
“Esses repasses de valores são fundamentais para garantir o atendimento de qualidade de quem tem plano de saúde, mas também movimentam a economia e geram empregos e renda para os brasileiros”, destaca Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar). O setor responde por 3% do PIB brasileiro e cerca de 3,5 milhões de empregos em todo o país. Por volta de 85% da receita de hospitais privados e laboratórios vem das operadoras de planos de saúde.
Se o recorde histórico de repasses ajuda a pagar salários e tratamentos, ele é também um sintoma do aumento cada vez maior dos custos na saúde. Diferentemente do ano passado – quando vários procedimentos foram suspensos ou adiados com a chegada do coronavírus ao Brasil -, neste ano, além da segunda onda da Covid, os atendimentos a outras doenças atingiram níveis elevados, inclusive maiores do que antes da pandemia, fazendo com que as despesas no 1º trimestre de 2021 fossem as maiores da história.
Um dos custos que subiram foi o da internação em UTIs para o tratamento da Covid-19. Em janeiro, segundo dados da FenaSaúde, o atendimento aos pacientes com a doença consumia, em média, R$ 78,8 mil por paciente internado, para as operadoras. Em abril, o custo saltou para R$ 100,6 mil, o que corresponde a um aumento de 27%.
Já as autorizações para exames e terapias não Covid subiram 94,2% em maio em relação ao mesmo período de 2020, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o que aponta para o retorno dos pacientes aos hospitais em meio à pandemia.
“Essa combinação de tratamento para Covid e internações eletivas terá efeito dramático não só sobre os planos, mas sobre toda a cadeia da saúde privada. Os custos vão aumentar e gerar impacto no valor das mensalidades em 2022”, explica Vera Valente.
Ainda segundo o estudo da FenaSaúde, a Covid-19 puxou fortemente o consumo e os preços de medicamentos do kit intubação usado em pacientes com a doença. Um dos exemplos é o anestésico Rocurônio, cuja utilização cresceu 2.914%, no comparativo entre os 12 meses de 2019 e os primeiros três meses de 2021. Além do aumento no uso, o preço também subiu, e muito: 216%. Com isso, o gasto médio mensal com o produto avançou 9.435%.
Outro vilão dos custos foi o sedativo Midazolam. A quantidade média comprada para atender a amostra cresceu 762%, entre a média mensal de 2019 e a média dos três primeiros meses de 2021. O preço unitário do medicamento saltou 542%, fazendo o gasto médio mensal para os planos disparar 5.275%.
“A qualidade dos serviços está diretamente ligada ao equilíbrio econômico-financeiro do setor. Isso precisa ser preservado para evitar a quebra de operadoras, o que acaba punindo os beneficiários e o sistema de saúde como um todo, inclusive o SUS, que será o destino dos pacientes dessas operadoras”, destaca a diretora executiva da FenaSaúde.