A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) não cumprirá o prazo de entrega de 100 milhões de doses da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 ao Programa Nacional de Imunização (PNI) até o final deste mês, mas mantém o compromisso de encerrar o ano com 200 milhões de doses entregues e de enviar mais 180 milhões de doses do imunizante em 2022, disse à Reuters Mauricio Zuma, diretor de Biomanguinhos, unidade produtora de vacinas da Fiocruz.
Até o momento, foram entregues 69,9 milhões de doses da vacina, sendo 65,9 milhões envasadas no Brasil pela Fiocruz e 4 milhões importadas prontas da Índia.
Em entrevista à Reuters na sexta, Zuma disse que a marca de 100 milhões de doses entregues deve ser atingida no fim de agosto, um mês depois do previsto inicialmente. O atraso, acrescentou, é consequência da demora na chegada do insumo farmacêutico ativo (IFA) da vacina, necessário para a Fiocruz envasar o imunizante em suas instalações.
"A expectativa da AstraZeneca de antecipar lotes de IFA não se confirmou, devido à alta demanda pelo produto. O contrato está sendo cumprido, mas o ritmo estabelecido no contrato não permite concluir em julho, possivelmente em fins de agosto", previu.
"Pensávamos que a maior dificuldade seria escalonar nossa capacidade de processamento em Biomanguinhos, mas aconteceu o contrário. Neste momento a AstraZeneca está buscando novamente uma aceleração no fornecimento de IFA a partir de agosto."
Recentemente, foi anunciado um acordo entre Fiocruz e AstraZeneca para viabilizar a disponibilidade de IFA suficiente para produzir 70 milhões de doses.
O início das entregas de doses da vacina feitas com IFA produzido no Brasil pela Fiocruz também deverá atrasar, afirmou Zuma.
Inicialmente, a Fiocruz previa fazer as primeiras entregas da vacina 100% feita no Brasil em outubro, mas trabalhava com a expectativa de uma antecipação. No entanto, o diretor de Biomanguinhos estima agora que a entrega dessas vacinas feitas com IFA produzido localmente fique para novembro. Além disso, o acordo de transferência de tecnologia com a AstraZeneca levou meses para ser finalizado após intensas negociações.
"Está previsto para outubro ou novembro. Difícil prever com precisão. Os lotes precisarão passar por testes longos no exterior, e ainda tem aprovações pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Só mais à frente poderemos refinar mais as previsões", disse.
"A produção dos lotes de pré-validação deverão iniciar ainda este mês. São muitos procedimentos que precisam ser implementados e estamos dentro de nossas expectativas", garantiu.
Apesar do ritmo mais lento de chegada de IFA, o diretor de Biomanguinhos mantém a meta de a Fiocruz entregar neste ano 200 milhões de doses da vacina da AstraZeneca à campanha de vacinação contra a covid-19, doença que matou mais de 533 mil pessoas no Brasil, segundo maior número do mundo atrás apenas dos Estados Unidos.
Zuma assegurou ainda que as entregas de vacinas para o ano que vem também consta do planejamento.
Especialistas têm afirmado que a vacinação contra a Covid-19 deverá ocorrer anualmente, como já acontece, por exemplo, com a campanha de imunização contra a gripe.
Além da vacina da AstraZeneca, a campanha de vacinação contra a Covid-19 tem usado a CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac e que é envasada no Brasil pelo Instituto Butantan, e os imunizantes da Pfizer com a BioNTech e da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson e que, ao contrário das demais vacinas, é aplicada em dose única.
Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 53% da população vacinável recebeu uma dose de uma vacina contra Covid-19 e por volta de 19% receberam as duas doses ou a dose única.
Na entrevista, Zuma também afirmou que testes mostraram que a vacina da AstraZeneca mostrou-se eficaz contra a variante Delta do coronavírus, originada na Índia, e apontada como altamente infecciosa. Já há casos da variante registrados no Brasil, como em pacientes no Rio de Janeiro e em São Paulo.
"Nossa vacina foi testada e se mostrou eficaz para essa variante. Mas é importante que a vacinação avance para a maior parte da população possível, e que seja possível dar a segunda dose também para o maior contingente possível", disse o diretor de Biomanguinhos.
Ele também alertou contra dois movimentos que começam a acontecer na campanha de vacinação no Brasil: a mistura entre vacinas e a antecipação do intervalo de aplicação entre a primeira e a segunda dose. Zuma disse que os dados disponíveis atualmente são insuficientes para garantir a eficácia dessas estratégias.
A cidade do Rio de Janeiro permitiu que grávidas que receberam uma primeira dose da vacina da AstraZeneca e pessoas que tiveram reações graves à vacina possam tomar a segunda dose da vacina da Pifzer. No caso das grávidas, a aplicação do imunizante da AstraZeneca neste grupo foi suspenso após a detecção de um efeito adverso raro em que uma gestante morreu após ser vacinada no Rio.
Já a redução do intervalo de aplicação entre as doses da vacina da AstraZeneca foi adotada, por exemplo, no Distrito Federal.
"A nossa vacina tem testes com aplicações com intervalos de 4, 8 e 12 semanas. Os testes demonstraram que, nesses intervalos, a taxa de imunogenicidade (indução de anticorpos) foi maior quanto maior foi o intervalo", disse Zuma.
"Ou seja, o intervalo de 12 semanas se mostrou o que mais promoveu aumento da taxa de imunidade", explicou.