As despesas dos planos de saúde com o atendimento de seus beneficiários voltaram aos altos níveis anteriores à pandemia de Covid-19. Neste segundo trimestre, 82% do que as operadoras arrecadaram com as mensalidades foi repassado a hospitais, clínicas, laboratórios e profissionais de saúde para cobrir os atendimentos provocados não só pelo coronavírus, mas também por outras doenças. É o mesmo percentual que havia sido registrado no segundo trimestre de 2019, quando a Covid-19 ainda não havia sido registrada em nenhum lugar do mundo. Os dados foram apresentados no mais recente Boletim Covid-19 (junho), divulgado pela ANS.
Segundo o balanço da agência, as despesas das operadoras com o atendimento em abril e maio deste ano estão no maior nível em dois anos e meio. Esse indicador é chamado de sinistralidade e consome a maior parte dos valores pagos com as mensalidades dos beneficiários. As empresas têm ainda outras despesas, como custos administrativos, de comercialização e impostos.
A sinistralidade de caixa em alta é um retrato da retomada de uso do sistema de saúde. Além do aumento na quantidade e na duração das internações por Covid-19, outros tratamentos tiveram forte retomada (os chamados procedimentos eletivos). No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, o setor teve a maior despesa da história com atendimentos aos beneficiários.
Como os custos podem levar mais de dois meses para serem informados às operadoras e então pagos aos prestadores de serviço, os procedimentos realizados em março impactaram nas despesas de abril e maio. Vale lembrar que foi em março que o Brasil viveu seu pior momento na pandemia, com o número de mortos passando de 4.000 por dia.
Para a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), o cenário é preocupante e eleva a pressão sobre os custos dos planos de saúde. “Definitivamente, esses números são muito preocupantes para a sustentabilidade das empresas, sobretudo para as pequenas e médias, que atendem mais de 13 milhões de brasileiros e correspondem a quase 90% do número de operadoras de saúde suplementar. Essa conjunção que eleva os custos das operadoras pode levar muitas delas ao colapso, o que significa devolver milhões de beneficiários ao SUS, que está sobrecarregado”, explica a diretora executiva da FenaSaúde, Vera Valente.
Segundo estudo da FenaSaúde feito com base nos dados de 24% dos beneficiários dos planos de saúde, as internações eletivas sofreram recuo em alguns meses de 2020, mas já no final do ano passado voltaram à normalidade. No primeiro trimestre deste ano, inclusive, foram feitas mais internações eletivas do que no começo de 2020 ou 2019, quando não havia pandemia. Ou seja, a enorme demanda por atendimento médico durante a segunda onda da Covid foi acompanhada por internações que poderiam ter sido adiadas.
“Os próximos meses ainda serão afetados por novos casos de Covid, pelo crescimento dos procedimentos eletivos e também por um efeito que ainda é difícil de mensurar: as sequelas de quem teve Covid. Ou seja, o futuro se mostra ainda mais preocupante para a sustentabilidade financeira do setor”, explica a diretora executiva da FenaSaúde.
Mais beneficiários
Segundo os dados do Boletim Covid-19 da ANS, o número de beneficiários cresceu 0,32% na prévia de maio/2021 em comparação com o mês anterior, mantendo o crescimento iniciado no mês de julho de 2020 e atingindo patamares de agosto de 2016.
Entre maio/2020 e maio/2021, todos os tipos de planos apresentaram crescimento positivo. Os de contratação Individual ou familiar continuam apresentando variação positiva no período (0,06%). A taxa de adesão tem sido superior à taxa de cancelamento nos planos médico-hospitalares. O tipo de contratação responsável por este aumento é o coletivo empresarial que se mantém, desde julho de 2020, com mais entradas do que saídas de beneficiários.
“O crescimento no número de beneficiários provocado pela Covid reforça a preocupação não só dos brasileiros com a saúde, mas também das empresas. A pandemia tornou ainda mais relevante o papel dos planos de saúde nos pacotes para atração e retenção de talentos no setor privado, mesmo num ambiente de queda do emprego”, define Vera Valente.
Portabilidade cresce em comparação a 2020
Os meses de abril e maio, segundo a ANS, apresentaram estabilidade no número de protocolos para a portabilidade. No entanto, os números referentes aos cinco primeiros meses do ano mostram um aumento significativo, em comparação ao mesmo período do ano anterior. O principal motivo, segundo a agência, é a busca por planos mais baratos.
“Os números corroboram para a análise que mostra que os brasileiros não querem perder o plano de saúde. E a portabilidade é uma ferramenta importante para a busca por soluções que se adequem à sua situação financeira, mas de forma a não ficar sem plano”, conclui a diretora executiva da FenaSaúde.