5 perguntas sobre low-code na Saúde Digital
29/06/2021

Mapear e automatizar processos é um dos caminhos mais indicados para a gestão em Saúde garantir a qualidade assistencial e operacional de seus serviços. Mas falar (ou escrever sobre o tema) é fácil. Na vida real dos negócios, os altos custos de desenvolvimento e implantação de tecnologia ainda afastam muitas organizações da Saúde Digital. A promessa é que esse cenário mude com a expansão das plataformas low-code.

“Essa tecnologia de ‘pouco código’ foi criada em 2014 para permitir a construção de programas sem a presença de um desenvolvedor. Basta que a equipe de TI tenha entendimento básico e técnico da ferramenta”, constata Sócrates Cordeiro, cientista da computação com MBA em ciência de dados e diretor da unidade de negócios de gestão estratégica e qualidade da MV.

Cordeiro, aliás, reforça que existe um erro de conduta a ser revisto com urgência no setor de Saúde. “Um hospital não deveria contratar desenvolvedores para desenhar suas tecnologias de gestão, pois isso gera um custo elevado enquanto já existem várias opções no mercado. O core business de um hospital deve ser sempre a assistência, e nunca o desenvolvimento de software”, defende o diretor.

Para Sócrates, o low-code é o primeiro passo de uma mudança significativa na Saúde Digital. As consultorias ItForum e Gartner traduzem essa afirmação em números: até 2024, mais de 65% das aplicações serão low-code.

E se hoje a ferramenta é usada por humanos - mais especificamente pelas equipes de TI -, essa realidade também está perto de mudar. “Estamos muito próximos de ver a inteligência artificial desenvolvendo programas automaticamente a partir de plataformas low-code”, reconhece Cordeiro, chamando a atenção para o fato de que o conhecimento avançado de lógica de programação de uma inteligência artificial poderá ser potencializado pelas ferramentas que usam pouco código.

 

No bate-papo a seguir, Sócrates Cordeiro responde as cinco principais dúvidas sobre low-code na Saúde Digital:

1- O que são ferramentas low-code?

Sócrates Cordeiro: São ferramentas que com pouco código - e daí vem o nome em inglês, low-code - ajudam as empresas a criarem e/ou customizarem software estruturados para um fluxograma específico na instituição. Como esses programas podem ser executados por pessoas com pouco conhecimento técnico de programação, as equipes de TI internas estarão aptas a criar fluxos que atendam a demanda da gestão em Saúde.

2- Como usar o modelo em organizações de Saúde?

Cordeiro: Existem hoje nas instituições de Saúde setores exclusivamente dedicados à qualidade, cuja principal função é mapear e otimizar todos os processos da organização, principalmente os assistenciais e aqueles ligados diretamente à segurança do paciente. Então, eu sugiro começar a usar o modelo low-code na área da qualidade, em conjunto com as equipes de TI. Juntos, esses profissionais podem desenvolver programas com pouco código para a melhoria de processos internos que ainda estão deficientes, otimizando a qualidade dos serviços oferecidos pela instituição e minimizando riscos assistenciais.

3- Quais são as principais vantagens do uso de ferramentas low-code no contexto da Saúde Digital?

Cordeiro: São várias, mas eu destaco a possibilidade de customização de processos, que podem ser customizações sistêmicas ou a partir de software existentes. Outro ponto é a redução de custos operacionais, pois essas criações a partir do sistema low-code podem ser feitas internamente, sem a necessidade de contratação de uma empresa terceirizada nem de desenvolvedores autônomos, que são profissionais mais custosos. Redução de retrabalho e de desperdícios são vantagens importantes a partir da criação de programas que obrigam que os processos sejam executados da forma como foram desenhados para otimização do fluxo. Análise de gargalo dos processos também costuma aparecer mais facilmente dessa forma sistemática, sem a necessidade de estudos que levavam dias para serem concluídos.

4- E quais são os riscos? É verdade que com o low-code o sistema fica mais exposto a ser hackeado?

Cordeiro: O low-code não é a ferramenta ideal para a construção de sistemas operacionais completos, pois essa tarefa levaria muito tempo para ser concluída e inutilizaria toda a vantagem criada pelo “pouco código”. E o maior risco de exposição dos dados está mesmo no sistema de gestão adotado pela instituição. O que já aconteceu no passado - e ainda acontece - são os sequestros de dados a partir da autorização de criptoativos. É aquela história em que o banco de dados de um determinado hospital foi hackeado e blindado com criptografia para ser liberado apenas após o pagamento de um resgate em criptomoedas, como bitcoins. Mas, embora não sejam recomendadas para esse uso, para os demais as plataformas low-code possuem mecanismos de segurança, como usuário e senha, senha forte e trocas frequentes de senhas. Além disso, a integração das plataformas de low-code com os sistemas de gestão não é feita diretamente, mas, sim, por meio de uma interface chamada API.

5- No contexto de uma crise como a pandemia, qual o papel de ferramentas low-code para acelerar a Saúde Digital?

Cordeiro: Muita gente pensa que os hospitais ganharam muito dinheiro com a pandemia, mas a verdade é que eles tiveram prejuízos porque suas receitas caíram muito com o cancelamento e a diminuição das cirurgias e procedimentos eletivos. Por isso, nesses últimos meses,  muitas instituições fizeram cortes importantes para evitar falência. Entre eles, software, alguns serviços e até mesmo profissionais foram dispensados. Nesse contexto, a plataforma low-code traz a possibilidade de substituir a tecnologia que foi cortada por uma de menor custo. E, para isso, como já falei antes, basta desenhar o processo e programá-lo internamente com ‘pouco código’.

Sobre a autora

Renata Armas, redatora da agência essense





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