A healthtech curitibana Hilab é uma delas, com um pequeno laboratório “de bolso” como carro-chefe e projetos em parceria com o Instituto Butantan, voltados para o controle e triagem epidemiológica do coronavírus no país.
A colaboração acontece há um ano e já resultou no desenvolvimento de 18 projetos, incluindo auxílio no estudo em Serrana com o imunizante Coronavac, testagens em massa e a criação da plataforma Tainá, que levou o prêmio Case de Sucesso Portal IT4CIO durante a 19ª edição do CIO Brasil GOV, evento nacional que reúne líderes de Tecnologia da Informação (TI) das principais instituições públicas do país.
Conheça a Hilab e saiba mais sobre as principais iniciativas promovidas pela startup em parceria com o Instituto Butantan:
Fundada pelos empreendedores Marcus Figueredo e Sérgio Rogal, respectivamente CEO e CTO, a Hilab quer criar produtos e soluções que ajudem a democratizar o acesso à saúde. “Somos um laboratório de análises clínicas, mas somos uma healthtech. Desenvolvemos ciência básica, mas temos pesquisas”, conta Figueredo em entrevista à EXAME.
O produto principal da startup é um laboratório de "bolso" conectado à internet. “Criamos uma tecnologia que funciona com cápsulas”, disse Figueredo, que explica que, após inserir a amostra na cápsula, uma reação química acontece e é lida pelo equipamento.
Depois, as informações são enviadas para um sistema de inteligência artificial (IA) que opera junto com profissionais de laboratórios. A equipe faz uma análise de dupla verificação e envia os resultados para os pacientes. “A ideia sempre foi essa: usar uma solução de Internet das Coisas para fazer exames de sangue em qualquer lugar.”
No início da pandemia no Brasil, Figueredo relata que a Hilab foi uma das primeiras startups com teste rápido para coronavírus disponível, graças a sua equipe que analisa dados epidemiológicos e data science.
Liderado por Bernardo Almeida, médico infectologista e chief medical officer da Hilab, o time apontou que o vírus respiratório na China poderia chegar ao Brasil e, mesmo sem imaginar quão grave seria, começou a desenvolver o teste ainda em dezembro de 2019.
Hoje com 350 funcionários, a empresa conta com equipes multidisciplinares para operar em diversas áreas da saúde. Em 2020, a base de clientes da Hilab aumentou 50 vezes e as vendas chegaram a aproximadamente 200 milhões de reais.
Em 2021, a Hilab lançará a versão do seu produto para exames moleculares. Os resultados ficam prontos em 40 minutos e Figueredo afirma que o produto tem como alvo os aeroportos. Outro esforço da healthtech é usar os testes rápidos para a realização de eventos, como o evento que aconteceu em Londres em abril.
No início da pandemia, o Instituto Butantan teve o desafio de criar uma plataforma de processamento de exames de covid-19 e monitoramento dos resultados em tempo real. Cláudia Anania, gerente de TI no Butantan, conta que os controles de teste PCR eram todos feitos à mão e através de planilhas. “Isso, além de dar trabalho, pode ter erros”, conta.
Para ajudar na centralização das informações da covid-19 e validação de todos os dados epidemiológicos do Instituto Butantan, a Hilab co-desenvolveu uma plataforma exclusiva chamada Tainá. Na plataforma, são compilados todos os resultados dos exames de covid-19 realizados pelo Butantan, incluindo exames de fornecedores de testes rápidos, PCR e exames Hilab.
A Plataforma Tainá é composta de cinco sistemas de informação que permitem a gestão dos dados, enviados pelos diversos centros no Brasil, e a visualização de informações para o apoio na tomada de decisões. “Você consegue testar o paciente, agendar o atendimento, dar assistência. Tudo isso, no final, são dados”, explica Figueredo.
“Hoje é tudo automatizado, não existe mais planilha e ninguém mais precisa trabalhar para montar os números. O Butantan agora trabalha só analisando esses números, o que é o foco”, conta Anania, que liderou o projeto premiado com outras quatro mulheres: Kilmary Sequeira, do Butantan; Bruna Gelain, Hellen Carvalho e Thaina Watanabe do Hilab.
A plataforma será usada na triagem de voluntários da Butanvac, além de ajudar no acompanhamento do estudo. Atualmente, a Tainá também auxilia nos dados epidemiológicos da Coronavac.
Outra parceria utilizando a plataforma Tainá é o projeto S. O Instituto Butantan fez um ensaio clínico inédito junto com a prefeitura de Serrana, no interior de São Paulo, para avaliar a eficácia da vacina Coronavac em diminuir a cirulação do vírus e o número de mortes.
A cidade de Serrana foi escolhida por reunir os pré-requisitos necessários para o projeto e sua população foi dividida em diversos grupos. Ao todo, 27.160 mil habitantes acima de 18 anos receberam as duas doses da Coronavac até meados de abril.
A plataforma Tainá foi essencial para facilitar os processos de agendamento, cadastro e triagem de cada habitante antes de aplicar o imunizante. “Talvez tenha sido o maior estudo de validação de uma vacina feito no mundo”, avalia Figueredo. “Desenhamos uma ferramenta que rastreou e testou as pessoas para ver se elas tinham covid, estavam grávidas ou coisas assim”.
Segundo dados do Butantan, o número de casos sintomáticos caiu 80% e as internações recuaram 86%. As mortes por covid caíram 95%.
A parceria também realizou testes em massa no estado de São Paulo durante todo o ano de 2020. Entre as ações, estão:
Todas estas ações resultaram em mais de 2,5 milhões de exames para detectar o coronavírus.
"Entendemos que a testagem é uma estratégia muito importante, realizar o rastreio de contatos e fazer o isolamento correto para que as pessoas que testaram positivo não passem o vírus adiante", explica Bernardo Almeida, médico infectologista e chief medical officer da Hilab. "Além disso, temos como missão democratizar o acesso à saúde e gerar impactos positivos no combate à pandemia", finaliza.
Sobre a parceria com o Instituto Butantan, Figueredo avalia: “O Butantan é uma das principais instituições científicas do país e do mundo. Para nós, foi muito importante eles confiarem no nosso trabalho e apostar na tecnologia nacional. Nós temos visto na pandemia a importância do Brasil ter tecnologias próprias e não ser só consumidor. É importante desenvolvermos o ecossistema local de inovação.”