Nem mesmo o forte aumento de preços está sendo suficiente para manter o faturamento do setor de alimentação fora de casa. De acordo com o consultor da GS&MD, Sérgio Molinari, o setor deve ter o pior desempenho em mais de 15 anos, com alta de apenas 3% no faturamento em 2014. Trata-se de interrupção abrupta na trajetória de crescimento que, nos últimos anos, foi de 15% ao ano, em média. O mau desempenho não afeta todos os estabelecimento da mesma forma. Há diferenças regionais e por perfil.
Um exemplo de menor rentabilidade esse ano é o empresário Osvaldo Nunes, sócio de seis estabelecimentos no Centro do Rio de Janeiro, que servem refeições a quilo a 450 clientes por dia, em média. No início do ano, ele reajustou seus preços entre 10% e 12% e a demanda permaneceu estável. Só que a rentabilidade dos restaurantes do empresário e seus sócios está sendo consumida pelos sucessivos aumentos de custos com aluguel, mão de obra e alimentos. "No fim, o reajuste de preços que damos aos clientes jamais cobre nosso aumento de custos, nunca é equivalente à alta de alimentos. Não vejo a situação tão ruim desde o início dos anos 90", afirma ele, que há 45 anos trabalha com restaurantes.
De acordo com Molinari, nem a Copa do Mundo foi capaz de reverter essa trajetória. Como o movimento da Copa foi muito localizado em bares e hotéis, a maior parte dos estabelecimentos não teve impacto positivo. "Cerca de 60 milhões de pessoas almoçam durante a semana na rua. É o que mais movimenta o segmento. Se considerar 700 mil visitantes internacionais com a movimentação de um milhão de turistas nacionais, não é suficiente para compensar o que se perdeu com os feriados da Copa", observa.
O consultor utiliza os dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia) e diz que a projeção de crescimento de 3% já considera a expectativa de um segundo semestre melhor do que o primeiro, uma característica do setor. "Se fosse projetar apenas o desempenho do primeiro semestre, seria zero a zero, estável", calcula.
Segundo Molinari, excluindo-se o segmento de bebidas, a redução seria ainda mais drástica. Alguns estabelecimentos registraram queda em junho e julho de 30% no faturamento. "O faturamento das redes de fast-food e o chamado casual dining (redes como Outback) devem crescer a taxas mais próximas de 10% devido à expansão do número de lojas. Já os operadores independentes devem ficar numa média mais baixa", conta, acrescentando que nas cidades médias o desempenho também é melhor. "É a nova fronteira. Está havendo uma desconcentração. Em 2000, 229 municípios do Brasil cobriam 75% do PIB. Em 2020, serão necessários 400 para atingir a mesma fatia do PIB, o que mostra o crescimento mais acelerado das cidades médias."
Para o consultor, não se trata de um problema estrutural e o setor deve melhorar o ritmo de crescimento em breve. "Os fundamentos para que continue crescendo estão todos aí", resume, citando a urbanização e o aumento da renda.
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