Contágio elevado, UTIs lotadas e jovens em risco: a nova face da pandemia
09/06/2021

Por Marcelo Tokarski*

As estatísticas da covid-19 têm dado alguns sinais trocados, mas há no horizonte dados que nos apontam para a iminência de um forte repique da pandemia no Brasil. Apesar de a média móvel de mortes ainda apresentar alguma queda, há dois indicadores que ligam o alerta vermelho: o número de novos casos registrados mostra a doença em um elevado platô (sem aceleração, mas também sem recuo) e a taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pelo país.

Hoje, a média móvel de novos casos registrados está em 62.600 por dia. O número está mais ou menos estabilizado há três semanas, mas é 75% superior ao registrado no início do ano, quando a pandemia começava a reacelerar no Brasil. Com mais de 62.000 brasileiros ficando doentes todos os dias, os hospitais voltaram a ser pressionados.

 

Das 27 unidades da federação, 20 estão com ocupação de UTIs superior a 80%, nível tido como crítico por especialistas. A situação das UTIs é mais grave em 11 estados mais o Distrito Federal, onde a ocupação está acima de 90%: Rio Grande de Norte (99%), Ceará (92%), Pernambuco (98%), Alagoas (92%), Sergipe (96%), Tocantins (91%), Mato Grosso (95%), DF (91%), Mato Grosso do Sul (106%), Paraná (95%) e Santa Catarina (92%). Os dados são da Fiocruz.

Os números mostram ainda que em 22 UFs a ocupação das UTIs segue em tendência de alta, o que permite prever problemas de atendimento no curto prazo.

Perfil dos contaminados

Para entendermos o cenário das UTIs, precisamos considerar as mudanças no perfil dos pacientes com covid-19. À medida que a vacinação avança (lentamente), vemos um claro efeito da imunização sobre o perfil de contaminados e de vítimas do coronavírus. De acordo com dados da Fiocruz, na comparação com a primeira semana de 2021, a média de idade de casos e mortes tem caído sistematicamente. É o chamado “rejuvenescimento” da pandemia.

Metade dos casos de internação já é de pessoas com idade inferior a 60 anos. A média de idade dos que precisam de socorro hospitalar é de 53,2 anos, ante 62,3 anos na primeira semana do ano. No começo de janeiro, 63,1% das pessoas com covid-19 hospitalizadas tinham mais de 60 anos. Hoje, essa faixa etária representa apenas 32,6% das internações, pouco mais da metade do que era.

No caso dos óbitos, a média ainda é superior a 60 anos, mas desde o início de janeiro já recuou de 71,5 para 61,9 anos. Com isso, o grupo idosos, que representava 81,4% das mortes por covid-19 no início de 2021, agora responde por 54,5% dos óbitos, um recuo significativo. O dado mostra claramente que, vacinada, a população idosa, mesmo quando contaminada, resiste melhor ao vírus e tem mais chances de cura. Com isso, o perfil de quem vem a óbito tem mudado. E esse “rejuvenescimento” tem efeitos colaterais significativos no comportamento da pandemia no Brasil.

Alerta

No início do ano, 29,1% das pessoas hospitalizadas devido à covid-19 precisavam de atendimento em UTI. Nesta fase, esse percentual está praticamente estável, em 28,4%. Como o total de hospitalizações por coronavírus vem crescendo, essa estabilidade no indicador percentual de pacientes que precisam de tratamento intensivo pode ser resultado da superlotação das UTIs. “Esse cenário, no limite, poderá impactar no aumento de mortes em longo prazo por desassistência (hospitalar)”, adverte a Fiocruz.

A Fiocruz faz outro alerta: a mudança no perfil das pessoas internadas por covid-19 tem resultado na superlotação das UTIs.  A idade média de quem necessita de tratamento intensivo por causa da covid é de 54,2 anos, ante 64,2 anos no início de 2021. Essa mudança no perfil é fruto da vacinação, que está protegendo melhor os idosos, mas tem impacto direto na ocupação de leitos.

Isso porque o organismo da pessoa jovem é mais resistente. Com isso, mesmo em casos graves, o paciente tende a permanecer mais tempo internado, o que, por mais contraditório que seja, tem ajudado a pressionar o sistema de saúde. Além disso, os infectologistas alertam que muitas vezes as pessoas abaixo dos 60 anos podem ter algum tipo de comorbidade não diagnosticada, o que aumenta e muito o risco em caso de contaminação pelo coronavírus.

Com a suspensão das medidas restritivas em quase todo o país, o vírus tem voltado a circular com mais intensidade. E, ainda sem terem sido vacinadas, as pessoas mais jovens seguem suscetíveis à doença. Sem entender que o momento ainda é muito delicado, quem circula sem os devidos cuidados (uso de máscara e distanciamento social, apenas para falar dos dois mais básicos) está correndo sérios riscos.

Fonte: Exame




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