A transformação digital no setor de saúde envolve diferentes tendências, que surgem com o objetivo de ampliar os benefícios aos pacientes e prestadores de serviços no segmento. Com a chegada da pandemia da Covid-19, a necessidade de uma transformação digital completa na área sanitária se mostrou ainda mais evidente.
Hoje, a interoperabilidade, capacidade de um sistema de se comunicar de forma transparente com outro sistema, se apresenta como ponto chave para enfrentar os desafios de saúde que existem na América Latina, desde o acesso universal aos serviços de saúde, à prevenção, detecção e tratamento de doenças crônicas e degenerativas cada vez mais prevalentes.
Trazendo esta tendência para a nossa realidade, vemos no Brasil sinais de que estamos avançando neste sentido. Referência no mundo inteiro, o SUS implantou o Programa Connect SUS. A solução será baseada na informatização da APS (Atenção Primária à Saúde) e integração de unidades de saúde públicas e privadas em todo o país, possibilitando uma análise mais embasada de dados como prontuários e receitas.
A plataforma terá implementação em diferentes pontos da rede por meio da disseminação de dados em uma plataforma de nuvem completa, chamada Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). O projeto, que tinha previsto um piloto em 2020 no Estado de Alagoas, foi reorientado para receber e compartilhar informações que pudessem dar o devido suporte para cidadãos e profissionais de saúde no combate ao novo coronavírus.
Apesar de alguns avanços, a evolução neste sentido ainda é tímida. A chegada da pandemia ressaltou ainda mais a necessidade de acelerar este processo, evidenciando a falta de sinergia entre os diferentes sistemas dos hospitais neste momento de alta demanda. Além de um aumento no número de pacientes, a integração facilita na gestão de indicadores importantes como número de leitos disponíveis, respiradores, oxigênio e histórico dos pacientes.
No comparativo com nossos vizinhos, os resultados individuais mais significativos são do Uruguai, Argentina e Colômbia. Esse êxito se baseia em estratégias assertivas na última década em relação à interoperabilidade em saúde. Destacam-se projetos como o Cadastro Eletrônico Nacional de Saúde do Uruguai, a Rede Nacional de Saúde da Argentina ou o Cadastro Eletrônico Único de Saúde de Bogotá.
A fragmentação de dados como prontuários e receitas é um dos principais problemas enfrentados por diferentes agentes de saúde e resolvê-lo envolve a aplicação de tecnologias capazes de “conversar” com os sistemas atuais para centralizá-las em um único repositório de dados e torná-los disponíveis para melhorar a assistência e otimizar os recursos.
Além disso, a heterogeneidade dos dados e o uso de diferentes sistemas de gestão estão diretamente ligados a estes obstáculos. A eliminação dessas barreiras permitirá ao usuário ser dono de suas informações e obter atendimento personalizado e de qualidade. Ademais, os profissionais do setor podem acessar com mais facilidade o histórico do paciente para um diagnóstico mais rápido e consequentemente melhora no tratamento.
A integração dos processos de gerenciamento de consultas e prescrição eletrônica também traz benefícios importantes: permite aos cidadãos acompanhar seus compromissos através de um portal e melhorar o controle da demanda de agendamentos. Ademais, gerencia todo o processo das receitas médicas, acelerando o acesso dos pacientes aos medicamentos e reduzindo o deslocamento dos pacientes com doenças crônicas.
O acesso em tempo real às informações de relatórios médicos, laudos, testes, medicamentos, antecedentes ou alergias apoia muito a tomada de decisões e os cuidados em relação à saúde, além de fornecer uma visão completa da história do paciente. Com isso, é possível melhorar a assistência prestada, aumentar a produtividade e diminuir os procedimentos administrativos e burocráticos envolvidos em toda a cadeia.
Para isso, é imprescindível transformar o atual papel dos sistemas de informação para um modelo onde o valor dos dados é priorizado, o que os torna centro e motor da transformação de qualquer organização. Com isso, é possível conhecer melhor os usuários do sistema, automatizar processos, prever cenários, reduzir custos operacionais e alcançar a diferenciação na qualidade de um atendimento personalizado.
Por fim, é mandatório planejar e investir cada vez mais em tecnologias, integração e análise de dados para melhorar a assistência ao paciente e fazer as instituições de saúde cada vez mais eficientes.
Sobre o autor
Miguel Rábano, Head de Administração Pública e Saúde da Minsait no Brasil