Como o sistema público pode salvar vidas com o apoio da tecnologia?
27/05/2021

Tanto para a saúde privada, como na pública, mas especialmente, nesta última, as ferramentas de gestão e a tecnologia são essenciais. Assim, antes de definir os rumos da gestão, é importante entender a situação atual. Hoje existem inúmeras ferramentas que podem ser empregadas com foco na saúde, para gerar uma análise prévia e depois uma predição de ações do que deve ser feito para a redução de economia de escala e de aumento da qualidade da saúde. A pergunta, que é inclusive bastante recorrente, é porque ainda não fazemos uso de todas essas possibilidades?

Em qualquer tempo, a gestão em saúde é uma tarefa complexa, pois, além de conciliar recursos humanos, financeiros e tecnológicos, os gestores devem garantir a segurança nos processos, bem como o cuidado adequado aos pacientes. Logo, em um cenário de pandemia, a tomada de decisão se torna ainda mais desafiadora, uma vez que exige atitudes assertivas e que demonstrem eficiência e eficácia em um curto espaço de tempo.

No entanto, algumas vezes parece que estamos indo no caminho oposto. Primeiro vamos lembrar o cenário. No Brasil, apenas 8% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado à saúde, sendo que 4,4% vêm de gastos privados e 3,8%, de gastos públicos. Isso é contraditório quando lembramos que vivemos em um país que fornece um sistema universal de saúde para seus cidadãos – aliás um dos poucos com essa abrangência no mundo.

Pois bem, dentro deste contexto todo é muito habitual ouvirmos que reduzir custos e desperdícios, maximizar recursos, fazer mais com menos é mais do que mandatório. E aí temos um ponto importante, pois, embora a telemedicina tenha crescido 316% no Brasil e, no ano passado, mais de 4 milhões de pessoas tenham deixado de ir aos hospitais e clínicas, ainda estão sendo discutidos detalhes da sua definitiva regulamentação no País. Contudo, todos esses pontos podem ser facilmente desbancados quando olhamos para os benefícios e também para os exemplos em outros países do mundo.

Então, por que não podemos aproveitar todo esse aparato tecnológico para fazer mais? A demanda pelo sistema de saúde pública existe e ele já provou, ao longo do tempo, que é capaz de entregar resultados. Concordo com os especialistas econômicos quando dizem que o foco para o SUS tem que ser em resultado, com abordagens múltiplas, para atenção básica, tecnologia, relação público-privado.

A utilização de plataformas para a realização de consultas médicas, por exemplo, deixou de ser novidade há algum tempo. Definida como o exercício da medicina por meio da tecnologia, para troca de informações para fins de assistência, pesquisa, prevenção e promoção de saúde, a telemedicina, na verdade, vai muito além disso, principalmente em um país como o Brasil, com dimensões continentais e tantas desigualdades.

Do ponto de vista social, a prática potencializa a democratização do acesso aos serviços de saúde, ainda mais quando a distância se torna fator crítico. Assim, indivíduos que antes não recebiam qualquer tipo de atendimento por questões geográficas, passam a ser assistidos por profissionais capazes de realizar diagnósticos, prevenir e tratar doenças à distância, bem como levar informações quanto aos cuidados com a saúde.

Outro aspecto a ser observado é que os atendimentos remotos ajudam a reduzir a pressão nos sistemas de saúde públicos, deixando clínicas e hospitais livres para atender quem realmente precisa de cuidado presencial. Além de atender a demanda de forma segura e com qualidade, otimizando o fluxo do atendimento e direcionando de forma rápida os encaminhamentos, é possível reduzir as filas de forma substancial.

Claro que já existem iniciativas espalhadas pelo Brasil, com parcerias públicas privadas. A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo é apenas um dos exemplos. O órgão público implementou em toda a rede municipal (575 unidades de saúde), dentre UBS e Hospitais Municipais, uma plataforma de gestão de telemedicina, além de disponibilizar 30 carts que “levam” a solução ainda mais próxima ao paciente. Assim, são realizadas análises e tratativas dos casos compartilhando informações, as quais permitem priorizar ou mesmo resolver um caso de forma eficiente e eficaz. Entretanto, dá para fazer muito mais, levando em consideração que temos tecnologia, desenvolvida localmente totalmente SUS compliance, para tanto. ?

Assim, cabe aos gestores públicos de saúde, em todas as esferas, um olhar estratégico, direcionado para a possibilidade de ajudar a salvar vidas através de modernas formas de atendimento e inovação. Os recursos tecnológicos, se usados como aliados à saúde, permitem reduzir custos operacionais e ainda garantem um maior controle gerencial e gestão populacional, sendo portanto extremamente vantajosos.

As funcionalidades disponíveis ultrapassam o agendamento, confirmação, cancelamento e a realização de atendimentos via videochamada, chat ou telefone, mas tornam possível gerir equipes, grupos populacionais, estoques e farmácias; possibilitam o armazenamento de dados e a redução do tempo de espera do paciente; otimizam e ampliam retorno em processos de faturamento; centralizam informações com o prontuário eletrônico; possibilitam a prescrição de receitas com a segurança da certificação digital; entre outras funções.

A centralização de dados é fundamental, pois quanto mais informações estiverem disponíveis, melhor será a leitura da situação e a predição de ações que devem ser implementadas visando a redução da economia de escala e aumento da saúde. Isso nos mostra como a transformação digital é fundamental para a sobrevivência e crescimento dos negócios nesse setor.

Ainda é cedo para prevermos o futuro da telemedicina no Brasil, mas devemos reconhecer seu papel como aliada para um atendimento de qualidade e seguros, fazendo jus ao sistema de saúde pública que possuímos.


*Marcelo Fanganiello é diretor da GetConnect, divisão de Telemedicina, Integração e Conectividade da Oxy System.





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