Enquanto a pandemia do novo coronavírus ainda domina o noticiário, mantendo o segmento de saúde em destaque, nos bastidores o setor passa por grandes transformações, com a chegada de novos players e a continuidade dos movimentos de fusões e aquisições (M&A).
Esse processo começou em 2015, quando a legislação brasileira (lei 13.097/15) passou a permitir investimentos estrangeiros no setor, o que possibilitou a injeção de mais capital nas empresas nacionais – muitas vezes baseadas em negócios familiares.
Nesse cenário, os investidores enxergaram a oportunidade de criar valor por meio da consolidação, utilizando-se de algumas alavancas. Mas, afinal, o que impulsiona esse movimento? A resposta está na expansão da base de clientes, na sinergia de custos, na entrada em novos mercados, entre outros fatores. Porém, esse tipo de processo, apesar de permitir rápidos crescimentos mesmo em tempos de crise, precisa de muito planejamento, foco e atenção na integração das operações para evitar atrasos e falhas.
É curioso notar que, embora a área de tecnologia e soluções seja crítica para ajudar a detectar sinergias (reduzindo a duplicação de serviços, diminuindo custos e melhorando a gestão das equipes), bem como para promover automação e integração clínica, muitas vezes ela é chamada tardiamente a participar de processos de M&A.
Isso acontece porque dentro do setor de saúde, até por características culturais, a TI ainda não está (ou não estava) no topo da lista de prioridades. Com a chegada da pandemia, porém, o segmento acabou sendo compelido a adotar diferentes tecnologias para acelerar processos, inovar ou permitir que algumas práticas fossem feitas a distância. O grande exemplo disso é a telemedicina. De acordo com o Observatório da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), 75% dessas instituições do País já fazem uso de serviços do tipo e 58,3% oferecem atendimento próprio a distância.
Mas, ao falar de tecnologia, não estamos restritos apenas ao atendimento remoto. Há diferentes atividades que precisam ser bem integradas para que processos cotidianos nos hospitais aconteçam de maneira efetiva – e, eventualmente, uma rede consiga operar em sincronia. Um exemplo é o prontuário eletrônico – já que cada um conta com uma tecnologia diferente e é operado por inúmeras equipes.
Essa diversidade de sistemas explica porque, após uma fusão ou aquisição, a gestão de TI se torna ainda mais complexa, tendo como principal desafio a padronização das tecnologias. É preciso integrar o serviço de suporte técnico e as bases de dados – unificando as unidades legadas – para garantir uma estrutura mais segura e estável. Tudo isso reflete, e muito, na eficiência do atendimento aos pacientes e, portanto, no acesso a prontuários, pontos de atendimento mais ágeis, bem como no acesso à rede wi-fi para aqueles que estiverem nas instituições ou a websites e apps para atendimento e agendamento a distância. Além disso, a gestão precisa analisar os KPIs de forma que as métricas sejam comparáveis para evitar tomadas de decisões baseadas em dados não padronizados.
Para este ano, além da aceleração de M&As, o mercado de saúde pode esperar por novas soluções em telemedicina – com uso de wearables, sensores para consultas e tecnologias inovadoras para diagnósticos –, além de melhorias operacionais – maior capacidade de processamento, velocidade de resposta nos processos internos de hospitais, visando sempre ganhos de eficácia. Claro que tudo isso equilibrado com respostas à pandemia, que hoje é a prioridade da agenda do setor e também demanda inovações e investimentos para ser superada.
*Marcello Albuquerque é diretor de consultoria na Logicalis.