A Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI) acaba de concluir um amplo estudo setorial que chega em sua 4ª edição. O anuário “O Ciclo de Fornecimento de Produtos para Saúde no Brasil” da ABRAIDI traz importantes dados sobre o mercado, pela primeira vez, informações consolidadas sobre a pandemia de Covid-19 e impacto dela nas empresas fornecedoras desses produtos.
O estudo constatou queda, em média, de 50,8% no faturamento das empresas de produtos para a saúde, durante o ano de 2020, com redução, também média, de 59,8% no volume cirúrgico nos sistemas público e privado. Em algumas regiões do país, essa baixa nas operações chegou a 90%, com mais de um milhão de cirurgias que foram suspensas somente no SUS. “As pessoas imaginam, falsamente, que não houve crise na saúde. Mas fomos impactados com a pandemia muito mais do que em outros segmentos”, revelou o presidente da ABRAIDI, Sérgio Rocha, com base nos dados levantados no Anuário.
As empresas enfrentaram ainda uma elevação cambial de aproximadamente 45%; aumento de alíquota de ICMS (18%) no Estado de São Paulo, onde estão sediadas 45% das associadas e por onde transitam a maior parte dos produtos; elevação dos valores nos fretes aéreo e marítimo, por interrupção ou redução das malhas; e as distorções históricas do setor que se acentuaram com retenções de faturamento (39,9%), glosas injustificadas (24,7%) e inadimplência (42,7%) praticadas por hospitais e planos de saúde.
“A pesquisa qualitativa mostrou que os executivos acreditam que as cirurgias eletivas só serão retomadas, em sua plenitude, quando a maioria da população estiver vacinada, provavelmente no final deste ano”, previu Sérgio Rocha. Para o presidente da ABRAIDI, o estudo ainda projetou que a recuperação será lenta e pode ser agravada pela explosão de casos de outras doenças, como cardiovasculares, ortopédicas e cânceres. “Os executivos ouvidos pela pesquisa ainda afirmaram dificuldades em negociações com os sistemas de saúde público e privado de saúde, além da instabilidade do cenário político, social e econômico do país, que podem retardar a retomada e torná-la ainda mais lenta”, completou Rocha.
Retomada
A perspectiva de retomada, mesmo que gradual, começará já no segundo semestre para 44% dos pesquisados; 42% acreditam que somente virá em 2022; 10% acham que ainda há possibilidade de retorno às atividades no primeiro semestre; 2% consideram que somente em 2023; e para outros 2% o mercado irá mudar e não voltará a ser como antes.
Mas a pandemia também trouxe aspectos positivos, onde as empresas tiveram que se ajustar para enfrentar a crise, com a adoção de uma gestão mais inovadora e novos modelos de negócios, que contribuam para o crescimento de algumas companhias, mesmo com tantas dificuldades. 59% tiveram que reduzir jornada e salários de colaboradores; 59% renegociaram dívidas; 54% intensificaram a cobrança de valores a receber; 48% cancelaram ou renegociaram contrato com fornecedores; 31% adotaram a suspensão de contrato com colaboradores; 26% demitiram; 8% reduziram a infraestrutura física e outros 8% não fizeram qualquer modificação, ou seja, 92% dos empresários tiveram que fazer algum tipo de ajuste no período.
Home office seguirá depois da Covid-19
Parte das mudanças implementadas durante a crise sanitária deve seguir ou ser ampliada, segundo o levantamento da ABRAIDI. O home office seguirá permanente em algumas áreas das empresas para 21% dos pesquisados. 33% preveem a redução de estruturas físicas e de pessoal; 49% acreditam que irão ampliar atividades e/ou portfólio contra 14% que preveem redução; 49% acham que abrirão novos clientes no setor privado contra 23% no setor público.
“Esses últimos dados revelam a instabilidade de algumas regras que afetam a saúde, como o aumento inesperado de 18% para o ICMS, em São Paulo, além de uma tabela SUS praticamente congelada há quase 20 anos”, exemplificou o diretor executivo da ABRAIDI, Bruno Bezerra. Na pesquisa qualitativa, os executivos afirmaram que: “o maior problema para o setor de dispositivos implantáveis não foi a pandemia, mas o pacote de ajuste fiscal adotado pelo governo de São Paulo e que afeta todo o país”. Segundo Bruno Bezerra, a elevação da carga tributária paulista ameaça a sobrevivência de empresas, além daquelas que deixarão de atender o sistema público de saúde, Santas Casas e hospitais beneficentes por inviabilidade econômica, mesmo a isenção tendo sido mantida para esses prestadores.