A Telefônica Brasil, dona da marca Vivo, está tentando transformar a maior operadora de telecomunicações do país em uma empresa de serviços digitais, com vitrines na internet para o consumidor tomar empréstimo, buscar segurança cibernética, acumular pontos em troca de benefícios e obter suporte em tecnologia. Agora, a companhia deu mais um passo, e entrou na área de saúde em parceria com a Teladoc Health, uma multinacional de saúde com sede nos Estados Unidos.
A nova plataforma digital Vida V vai oferecer consultas médicas, programas de bem-estar e saúde e descontos em farmácias. O projeto prevê até consultas presenciais. O público-alvo são consumidores finais e pequenas e médias empresas de todo o país.
“Não é um plano de saúde”, explicou o diretor-presidente da Telefônica, Christian Gebara. “É um ‘marketplace’ [shopping digital]”. Os clientes pagarão uma tarifa mensal, cujo valor ainda não foi definido. O lançamento do serviço está planejado para o segundo semestre. Dependendo dos resultados, a parceria poderá virar uma joint venture. O executivo disse que quer criar um ecossistema de saúde e que a Teladoc não será a única parceira.
Gebara falou ontem em teleconferências com jornalistas e analistas para apresentar os resultados do primeiro trimestre de 2021. O lucro líquido de R$ 942 milhões nesses três meses caiu 18,3% na comparação anual. Parte dessa perda está relacionada à pandemia de covid-19. A receita operacional líquida ficou estável, com ligeiro avanço de 0,2%, para R$ 10,84 bilhões. Novos serviços da operadora ajudaram a manter a receita.
A diversificação no hub digital inclui o Vivo Money, serviço de crédito pessoal inicialmente focado em clientes de celular (dos modelos pós-pago e controle); o cartão de crédito Vivo Itaucard; e o Vivo Pay - conta digital gratuita para transações financeiras.
A dona da Vivo ampliou também a aliança com a Dotz, empresa de fidelidade com 48 milhões de clientes. Os usuários acumulam pontos e recebem benefícios, aumentando a rentabilidade da subsidiária espanhola. O acordo agora foi estendido por cinco anos, com os produtos e serviços da Vivo no marketplace da Dotz.
Com a CDF, outro marketplace voltado para assistência residencial e tecnológica, a Vivo dá força ao projeto de atender o conceito de casa conectada. Tanto na CDF quanto na Dotz, a Telefônica tem participação acionária.
Os serviços digitais fazem parte do negócio principal (“core”) da Telefônica, ao lado do celular, da fibra óptica até a residência (FTTH, na sigla em inglês), TV por internet (IPTV), venda de aparelhos, dados e tecnologia da informação e comunicações. Toda essa linha representou 88,1% da receita operacional líquida de R$ 10,84 bilhões de janeiro a março, 4,7% maior que um ano antes.
Em outra ponta estão os serviços considerados “non-core”. Aí estão tecnologias que ficaram ultrapassadas e perderam importância. É o caso da voz sobre a rede fixa; a internet por rede tradicional de telefonia, inclusive fios de cobre (xDSL); e a TV por assinatura via satélite (DTH). Esse conjunto de serviços, outrora dominante, respondeu por 11,9% da receita do primeiro trimestre, com queda de 24,1% em relação a igual período de 2020.
A fibra desbancou as tecnologias xDSL e DTH, possibilitando o acesso em banda larga veloz e com qualidade, e melhor transmissão de TV paga. A receita de FTTH cresceu mais de 61%, para R$ 1 bilhão. “[Isso] mostra o panorama real de mudança do mix de receita da Vivo”, disse Gebara.
Os 3,7 milhões de acessos de fibra até o domicílio são considerados pelo executivo como um marco, com adição líquida (diferença entre a entrada e saída de clientes) de 368 mil acessos no trimestre.
Em março, a Telefónica da Espanha anunciou a joint venture FiBrasil, que envolve sua subsidiária Telefônica e o grupo canadense de investimentos CDPQ, para formar uma rede neutra de fibra. A operação da nova empresa ainda depende de aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Com FTTH, o objetivo de Gebara é tornar a cobertura disponível a 24 milhões de domicílios até 2024 ante os 16,3 milhões atuais. O investimento de R$ 1,9 bilhão, 18% maior em base anual, teve foco principalmente em fibra e cobertura do serviço móvel.
Em relação ao lucro, David Melcan, diretor de finanças da Telefônica, disse que a queda está associada a três principais fatores - a comparação com o primeiro trimestre de 2020, que foi pré-covid; a venda de torres por com um benefício extraordinário de R$ 75,7 milhões, um ato pontual que não se repetiu neste ano; e maior depreciação de custos financeiros.
Gebara acrescentou que a tendência de recuperação a partir do fim de 2020 se transformou em outra crise e ruptura, com a volta do fechamento de lojas e paralisação da ajuda governamental. Houve impacto sobre o serviço móvel. Mas o executivo destacou que a empresa já estava bem preparada para o novo “lockdown”, com seus canais digitais, e conseguiu superar a crise. Além disso, as pessoas buscaram mais redes de fibra.
O total de clientes cresceu 2,9% de janeiro a março deste ano, chegando a 96 milhões de acessos, informou Luis Plaster, diretor de relação com investidores da Telefônica.