O Ministério da Saúde atualizou ontem o número de doses de vacina contra a covid-19 que contratou. São agora 662,9 milhões de doses - mais do que o triplo da população. Embora inclua em sua projeção que receberá todas essas doses até dezembro, há no ministério dúvidas sobre quando e quantas dessas doses serão efetivamente entregues pelos laboratórios.
O novo balanço, feito pelo programa nacional de imunização, conta com mais 100 milhões de doses da farmacêutica americana Pfizer. No início do mês, o ministério formalizou a liberação de R$ 6,6 bilhões para a aquisição desse lote. O ministério já havia adquirido 100 milhões de doses da vacina do laboratório. O ministro Marcelo Queiroga havia afirmado que do novo lote, 35 milhões chegariam ao país este ano e o restante, em 2022. Mas a nova projeção inclui agora as 200 milhões de doses da Pfizer até o fim deste ano.
Entre as vacinas contratadas e que o Ministério da Saúde espera receber este ano estão 20 milhões de doses da indiana Covaxin e outras 10 milhões de doses da russa Sputnik V, ambas pendentes de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Mesmo com atualização do cronograma, o ministério manteve a previsão de distribuir 33 milhões de doses neste mês de maio e, em junho, mais 52,2 milhões - o dobro das 25,9 milhões de doses distribuídas em abril.
Até ontem, a pasta registrou 82 milhões de doses distribuídas em todo país. Foram aplicadas 48 milhões de doses desde janeiro.
Ontem também Queiroga, anunciou a criação da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. “O ministério tem uma estrutura muito grande, o objetivo é centralizar as ações em uma única área”, explicou o ministro, na solenidade de criação da secretaria e lançamento da campanha de conscientização sobre a importância da vacina.
Para comandar a nova secretaria, Queiroga apresentou a médica infectologista Luana Araújo. Ele afirmou que, ao escolher a profissional, seguiu a orientação do presidente Jair Bolsonaro de ocupar os cargos da Pasta com “técnicos qualificados”. Praticamente ao longo de toda a pandemia, os postos-chave do Ministério da Saúde foram ocupados por militares.
Ao lado do ministro, Luana falou de sua formação e dos princípios que guiarão suas decisões à frente da secretaria. Ela disse que fez graduação e residência na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especializou-se em epidemiologia na universidade Johns Hopkins (EUA).
“Minha experiência hoje é trabalhar com preparo e resposta de sistemas de saúde, ao redor do mundo, com relação à pandemia em países com diferentes graus de maturidade técnica e de perfis socioeconômicos. Isso foi o que me trouxe hoje para essa posição”, disse a nova secretária.
Ela ressaltou que, ao integrar a equipe, vai “coordenar a resposta nacional” à pandemia mantendo "diálogo permanente com todos os atores que fazem parte do processo”, citando Estados, municípios e organismos internacionais.
“Minha vocação se alinha aos objetivos traçados para essa secretaria: trabalho duro pautado na tecnicidade, nas evidências científicas, buscando sempre soluções eficientes e adaptadas às nossas vulnerabilidades socioeconômicas”, disse a infectologista.
Ao lançar a campanha de conscientização sobre a vacina, o ministro da Saúde interagiu com toda a família do Zé Gotinha - símbolo das campanhas de imunização no Brasil. Queiroga ressaltou que o compromisso de “imunizar toda a população” é considerado a “base principal” da estratégia de enfrentamento da pandemia. Ele defendeu medidas não farmacológicas como lavar as mãos, máscara e distanciamento.
Para o ministro, a vacinação no país, mesmo em ritmo ainda considerado lento, já produz efeitos positivos, com redução de óbitos e menor pressão sobre o sistema de saúde. “Não podemos relaxar”, advertiu. A fala contrasta com o discurso antivacina assumido por Bolsonaro desde o início da pandemia, que é flagrado constantemente sem máscara e em aglomerações.