O serviço de telemedicina acaba de ganhar uma importante ferramenta no Brasil: o TytoCare, um kit tecnológico portátil que permite, além da comunicação entre as partes, a realização de exame físico, como otoscopia, oroscopia, exame dermatológico simples e auscultas cardíaca e pulmonar, à distância de qualquer lugar, basta ter sinal de internet. Os resultados são arquivados em uma plataforma digital, que fica à disposição da equipe médica. “A partir da análise dos dados, é possível chegar com mais segurança ao diagnóstico para prescrição do tratamento ou encaminhar para as especialidades, sem a necessidade do atendimento presencial”, afirma o CEO da Tuinda Care, startup distribuidora da TytoCare no Brasil, Renato Lobato Reátegui.
Dois dos maiores e mais respeitados hospitais pediátricos do país – o Pequeno Príncipe em Curitiba e o Sabará em São Paulo – atuam como aceleradores da startup e já utilizam o TytoCare. “Futuramente, as famílias terão este device em suas casas, evitando idas desnecessárias aos hospitais e auxiliando no acompanhamento de pacientes com doenças crônicas, melhorando o engajamento e experiência durante seu tratamento”, afirma o gerente Médico de Novos Negócios e Telemedicina do Sabará Hospital Infantil, Rogerio Carballo Afonso.
A ferramenta pode ser utilizada ainda na internação domiciliar ou para acompanhamento de pessoas que tiveram alta, já que a equipe médica pode analisar alguns parâmetros do paciente remotamente e, se preciso, enviar uma enfermeira para fazer uma visita. “Em um momento crítico como o atual, por causa da pandemia, esse é um recurso valioso para liberar leitos que podem ser utilizados no atendimento da Covid-19, diminuindo a pressão nas UTIs”, salienta Reátegui. Além disso, um estudo da Moving Health Home, uma coalizão norte americana de saúde, constatou que oferecer acompanhamento domiciliar para pessoas recém desospitalizadas resulta em redução de 25% nas reinternações.
O TytoCare é um aliado também na formação de residentes. “O médico preceptor e o futuro especialista têm acesso às mesmas informações, analisam os mesmos parâmetros e podem discutir os casos para a melhor solução diagnóstica”, acrescenta o gerente do núcleo de pesquisa clínica no Hospital Pequeno Príncipe, Fábio Motta, que está conduzindo o maior estudo clínico realizado com a tecnologia no mundo, contemplando 700 participantes. O objetivo é validar o dispositivo no Brasil, em especial na área pediátrica.
O kit tecnológico atende crianças e adultos, nas especialidades de pediatria, clínica geral, otorrinolaringologia, pneumologia, cardiologia e dermatologia, entre outras. É possível realizar exame de otoscopia (para avaliar as estruturas do ouvido, como o canal auditivo e o tímpano); analisar possível infecção da garganta, por meio de um depressor de língua; auscultar pulmão, coração e abdômen; medir a temperatura; e fazer imagens de lesões na pele com alta precisão e acurácia. “O aparelho possui inteligência embarcada que permite a captura fiel das imagens e sons. Todos os estudos clínicos realizados demonstraram a qualidade dos dados, imprescindível para o correto diagnóstico. Além disso, o investimento em alta tecnologia tornou o aparelho 100% amigável, uma vez que sua interface orienta o usuário na condução dos exames. É um recurso que pode tornar os tratamentos mais baratos, com alto índice de acurácia e resolubilidade”, afirma Fábio Motta.
Ele conta que, em diversos países do mundo, o TytoCare é fornecido pelos planos de saúde a seus pacientes, principalmente aos doentes crônicos. Na pediatria, é um aliado importante, já que as infecções das vias áreas superiores são responsáveis por cerca de 60% das internações entre crianças. E 85% dos casos de atendimentos em prontos-socorros nessa faixa etária poderiam ser prevenidos. “E, no caso dos idosos, que muitas vezes têm mobilidade reduzida, permite um diagnóstico precoce, pois como a pessoa tem acesso fácil à consulta, acaba procurando um médico antes que o quadro se agrave, evitando internações”, exemplifica.
O TytoCare pode ser utilizado também em pacientes com doenças mais complexas, que necessitam de acompanhamento frequente. “Alguns pacientes considerados de alta complexidade utilizam os serviços de saúde com maior frequência e, portanto, a inclusão desta tecnologia no controle rotineiro de suas condições clínicas pode diminuir a necessidade de deslocamentos, permite a identificação precoce de possíveis complicações de sua doença ou tratamento, otimizando a utilização dos recursos da saúde”, finaliza Rogerio Carballo Afonso.