Após levantar R$ 3,3 bilhões em sua oferta pública de ações (“re-Ipo”), no começo do mês, o Grupo Dasa está reorganizando seus negócios. Dona da maior rede de medicina diagnóstica do país, a companhia investiu, nos últimos quatro anos, cerca de R$ 7 bilhões em aquisições de hospitais, clínicas de genômica, empresas de gestão de saúde, corretora. Agora, todos esses negócios estão integrados numa nova plataforma, batizada de Nav, e passam a operar sob uma única marca - Dasa.
Além de ter cerca de 1 mil laboratórios de medicina diagnóstica (Dasa), a companhia também tem o segundo maior grupo de hospitais do país (Ímpar) com 3 mil leitos, uma empresa de gestão de saúde (GSG) com 150 mil usuários e uma corretora que administra 500 mil vidas.
Essa plataforma já conta com 7 mil médicos que prestam serviços aos laboratórios e hospitais do grupo e mais de 100 mil pacientes cadastrados. A meta é aumentar gradativamente esse número aproveitando-se do fato de que 250 mil médicos têm algum relacionamento com a Dasa e 20 milhões de pessoas realizam procedimentos, por ano, nos laboratórios e hospitais do grupo. A Nav herda parte das informações da antiga plataforma, a Livia Saúde, e, por isso, já começa com quase 600 mil visitas de usuários.
“Um exemplo prático, que é um caso real, de como essa integração é benéfica: uma senhora de Brasília fez uma consulta de telemedicina pela nossa plataforma. Identificamos um problema, enviamos uma coleta domiciliar, processamos o exame e identificamos que era grave. Sugerimos que ela fosse para o nosso hospital. Ela chegou infartando, fizemos uma intervenção cirúrgica, salvamos a vida dela”, contou Pedro Bueno, presidente do Grupo Dasa.
A meta da companhia com essa integração é ganhar dinheiro cuidando da saúde do paciente e não apenas tratando a doença - modelo predominante hoje no setor. Essa mudança é considerada urgente e irreversível no mercado devido ao crescente custo da saúde. A inflação médica é cerca de cinco vezes superior ao IPCA.
De acordo com o executivo da Dasa, a integração de serviços e informações de saúde já se refletiu em redução de 20% a 30% na sinistralidade das faixas etárias mais elevadas dentro da carteira de 150 mil usuários da divisão de gestão de saúde do grupo. Além disso, a empresa diz que tem sido registrada a redução de indicadores como passagem em pronto-socorro, número de internações e reinternações no pós-alta hospitalar, além de tempo de internação.
A iniciativa da Dasa de trabalhar com outro “modus operandi” não é isolada, mas vem sendo adotada de forma lenta no setor porque gera uma queda de faturamento. Hoje, os prestadores de serviço ganham no volume, ou seja, quanto mais exames e internações maior a receita. Isso ocorre porque é um setor fragmentado com hospitais, clínicas e laboratórios que atuam separadamente.
Na Dasa, o “start” dessa mudança foi a morte repentina do empresário Edson Bueno, fundador da Amil e ex-controlador da rede de medicina diagnóstica, em 2017, provocada por um infarto fulminante. “Ele tinha acesso aos melhores médicos, melhores hospitais. Teve um problema e a gente não conseguiu saber, fazer nada a respeito. Isso fez a gente refletir que o modelo da saúde tem um problema muito grande, é muito fragmentado e descoordenado”, disse o presidente da Dasa. “Foi ali que a gente começou a estudar novos modelos, fora do Brasil, fomos visitar empresas de saúde e tecnologia. Ficou muito claro que havia uma oportunidade enorme de começar a operar, entregar assistência de saúde de forma muito diferente, de resolver esses problemas do setor que é a fragmentação e a descoordenação”, complementou.
A concretização do projeto de ter um ecossistema de saúde demandou ainda muito investimento em tecnologia para que as informações de saúde dos pacientes pudessem ser processadas e integradas de forma ágil. Até então, o exemplo do caso da paciente de Brasília que teve seu caso diagnosticado rapidamente ocorria nos laboratórios premium do grupo que contam com assessoria médica individualizada, feita de forma manual, e não em grande escala. Para escalar esse processo, hoje a companhia conta com 1 mil funcionários somente na área de tecnologia, sendo 80 cientistas de dados.
A integração dos negócios da Dasa não deixa de ser também uma reação às operadoras verticalizadas, que vêm crescendo de forma vertiginosa controlando melhor os custos com uma rede própria e também com muito uso de tecnologia. Há um crescente interesse das operadoras independentes em fazer parcerias com grupos que possuem uma rede completa de prestadores de serviços. Não à toa, a Dasa adquiriu, em dezembro, o Hospital Leforte, em São Paulo, por R$ 1,7 bilhão, e no mês passado comprou o Hospital São Domingos, no Maranhão, por R$ 400 milhões e mais 12,5 milhões de ações. Atualmente, o grupo tem 14 hospitais e cerca de 3 mil leitos.
No ano passado, a receita do grupo somou R$ 7,7 bilhões, uma alta de 64% sobre 2019. (Colaborou Raquel Brandão)