A testagem em massa e o rastreamento de contatos com infectados estão entre as estratégias consideradas essenciais para o controle da pandemia e a reabertura econômica com segurança.
Considerando todos os 110 países monitorados constantemente pela plataforma, o Brasil ocupa a 81ª posição, com apenas 78 testes por 100.000 habitantes. O país está atrás de nações como Cazaquistão (422 por 1.000), Belarus (548 por 1.000) e Iraque (181 por 1.000). Na América do Sul, o Brasil só fica à frente da Bolívia e do Equador no número de testes. A plataforma não possui dados da Venezuela. O país que mais testa no continente é o Chile, com 519 testes por 1.000 habitantes, seguido do Uruguai, com 317 testes por 1.000.
Os números analisados para esta reportagem consideram apenas os testes RT-PCR (os moleculares, considerados padrão ouro para o diagnóstico da doença) feitos pela rede pública de saúde. Não há estimativa de quantos foram feitos na rede privada. Até 13 de março, o Brasil havia feito 16,4 milhões de testes desse tipo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O levantamento também não inclui exames rápidos, como aqueles testes rápidos de farmácia.
Alessandro Farias, coordenador de diagnóstico da força-tarefa contra a covid 19 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor da instituição, afirma que os dados de casos do Brasil "não interessam mais para nada." Ele lembra que 80% dos infectados são assintomáticos ou têm poucos sintomas. "O Brasil escolheu não testar os assintomáticos."
O especialista diz que testar pessoas sintomáticas, com sinais claros de infecção por coronavírus, ajuda apenas na hora de isolar esses pacientes, seja em alas hospitalares, seja em casa. "O governo brasileiro escolheu não fazer testagem em massa. Testar sintomáticos é quase inócuo porque não há um tratamento específico para a covid", pontua Farias.
Ele diz que a falta de testes atrapalha a formulação de uma estratégia para combater a pandemia, enquanto a testagem em massa serve para implementar medidas mais acertadas. "Sem teste, você não consegue saber com antecedência o que vai acontecer. Só sabe quando o colapso chega aos hospitais", diz Farias.
Outro ponto levantado pelo professor é a confiança da população. "Se você tem dados de testagem, consegue informar à população sobre o que está acontecendo. Sabe dizer por que vai fechar o comércio hoje. E a população vê o resultado", destaca.
O Reino Unido é um dos países que adotaram a testagem em massa para definir as estratégias de combate ao coronavírus. O governo montou um programa de testagem em massa nas empresas, que voltam a abrir as portas no dia 12 de abril. A iniciativa prevê a testagem dos empregados duas vezes por semana no próprio local de trabalho, sem custo para a empresa. Empreendedores individuais e empresas com menos de 50 funcionários também têm acesso a testes gratuitos que, nesses casos, devem ser feitos em um centro de testagem de assintomáticos.
Farias acredita que essa é uma boa solução para abrir a economia com mais segurança, mas seria muito difícil implementá-la no Brasil. "A gente não tem essa estrutura. O Brasil não se preocupou em comprar testes." O professor da Unicamp afirma que a falta de uma coordenação nacional impede o país de adotar esse tipo de protocolo.
O governo Jair Bolsonaro abandonou as metas de testagem na pandemia. A ideia era superar 24 milhões de exames RT-PCR até dezembro de 2020, mas menos de 12 milhões de análises foram feitas no SUS durante toda a crise sanitária até o meio de março. Há ainda em um armazém do Ministério da Saúde mais de 3 milhões de exames que vencem entre o fim de abril e o começo de junho. Trata-se do estoque revelado pelo Estadão, que o governo já tentou reduzir com doações ao Haiti e a hospitais brasileiros recusadas justamente pela data de validade.