Ao exercer função terapêutica, principalmente com a redução do estresse negativo, os jardins planejados dentro das instalações hospitalares auxiliam no tratamento e na recuperação de pacientes. Incentivar o contato social nesse espaço, oferecer a oportunidade de movimentação física e levar a pessoa a um momento de distração em um ambiente natural tem sido uma prática recomendada em algumas instituições. A simples existência de uma janela que permita ver o jardim contribui para melhorar o ânimo de quem está às voltas com um tratamento de saúde.
"Sentir o vento e o calor do sol estimula sensações", diz Solange Martins Pereira, supervisora do serviço de psicologia do Hospital Santa Catarina, em São Paulo. "A saúde física e mental é influenciada pelo ambiente. O local interfere no comportamento do paciente", diz Solange. O Hospital Santa Catarina conta com um espaço que se assemelha a um paraíso interno de 3.200 metros quadrados dotado de banquinhos, gruta, peixes, árvores e passarinhos. Também tem uma trilha para caminhadas e passeios. A visita ao local requer a liberação do médico e o conhecimento da enfermagem.
Por experiência própria, o arquiteto paisagista Benedito Abbud sentiu que ficar dentro de um quarto fechado enquanto um familiar recuperava-se gerava angústia. Começou a pesquisar a relação entre a natureza e a melhora do estado de saúde dos pacientes. E ficou convencido de que criar um espaço com um banquinho, árvores frutíferas e passarinhos faz bem para o doente e melhora o ânimo da família que o acompanha. "Um jardim ajuda a esquecer a noção da realidade e sair um pouco de uma situação de sofrimento", afirma Abbud. "É possível pensar em passar momentos agradáveis num hospital", diz.
Os novos projetos de hospitais já incluem paisagismo. Mas muitas unidades antigas em atividade não priorizavam esse item na época de sua construção. Para driblar o problema recorrente da falta de espaço, o paisagista recomenda o uso de paredes verdes e a colocação de plantas com um perfume suave "O importante é que seja um lugar gostoso e esteticamente agradável", diz Benedito Abud, arquiteto paisagista que já desenvolveu projetos para os hospitais São Camilo, Edmundo Vasconcelos e Samaritano.
Duas linhas de pesquisa diferentes contribuíram para a elaboração do conceito de ambientes restauradores. A primeira associa a percepção visual e estética proporcionada pela natureza à redução do estresse. A segunda relaciona o tempo de concentração ou de exposição ao estresse da vida cotidiana a uma fadiga no processo de atenção. O cérebro humano necessita de um momento para descansar a fim de retomá-la.
De acordo com artigo publicado por Sandra Cristina Gressler e Isolda de Araújo Gunther, da Universidade de Brasília, pesquisas sobre ambientes restauradores investigam os fatores que auxiliam na promoção do bem-estar humano e reforçam o movimento interdisciplinar entre a psicologia e, por exemplo, a saúde e a prevenção, a educação e o planejamento urbano. A maior parte dos estudos foi realizada no Hemisfério Norte. Segundo as autoras, a partir de 2010 aumentou o número de artigos publicados, o que reforça a atualidade do tema.
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