Os hospitais deixaram de ser só um lugar onde se espera encontrar uma equipe médica competente, equipamentos modernos e cuidados com a assepsia do ambiente. A mudança indica um modelo de gestão que associa a recuperação clínica a ambientes mais acolhedores. A atenção amplia-se à área de hotelaria hospitalar, responsável por estabelecer o vínculo entre eficiência e hospitalidade.
Os quartos são decorados com móveis que imitam madeira. A iluminação branca aos poucos cede a vez para um tom amarelado. As cores das paredes e do piso podem variar, desde que contribuam para criar um ambiente agradável. Salas de espera mais amplas, recepções com menos cara de repartição, espaços reservados para a comunicação entre o médico e a família e mais simpatia para amenizar a dura rotina de um tratamento são itens mais do que desejáveis. Até o uniforme branco começa a cair em desuso.
"O ambiente é importante e não há nada de supérfluo nisso", diz Eleonora Zione, consultora e arquiteta hospitalar. "As cores podem gerar medo ou ansiedade e a falta de iluminação natural torna o ambiente mais claustrofóbico". Mudam os quartos e as áreas sociais ganham relevância. Segundo a consultora, em termos de organização do espaço, é como se o conforto de um shopping fosse levado ao hospital.
Podem existir lojas, floriculturas, salões de beleza, casa de chá e restaurantes. Não é raro que um hospital ofereça concertos de música. Palestras de promoção à saúde dividem a programação anual com atividades artísticas como exposições, peças de teatro e apresentação de coral. Pacientes e familiares são estimulados a frequentar os espaços. Atitudes impensadas no passado ilustram o presente. Um grande hospital de São Paulo atendeu ao pedido de um paciente em estado terminal e o levou a um concerto no estádio do Morumbi.
Personalizar está na ordem do dia. Ivana Siqueira, superintendente de atendimento e operações do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, dá alguns exemplos dos serviços personalizados oferecidos pela instituição. A visita do cachorro ao paciente ou o deslocamento de profissionais do hospital até casa dele para cuidar do animal de estimação são autorizados em algumas situações com o objetivo de ajudar na recuperação.
Em casos pontuais, um executivo internado poderá fazer uma teleconferência e participar de uma reunião à distancia para que a interrupção da vida profissional seja mais amena e menos frustrante. "Não há massificação, mas podemos arrumar um esquema para atender os pedidos dos pacientes", diz Siqueira. O processo de trabalho é desenvolvido para criar proximidade e conhecer as reais necessidades dos clientes. A área de hospitalidade do Sírio Libanês trabalha em conjunto com o setor assistencial e acompanha o avanço da tecnologia. Em um dos três andares inaugurados das novas torres, um quarto projetado para o atendimento ao obeso mórbido dispõe de equipamentos que permitem a movimentação do paciente do leito ao banheiro. Na cama não há mais um suporte para o prontuário porque o documento é eletrônico.
As obras do Hospital Copa Star, voltado aos clientes da classe A, já começaram. O planejamento do novo hospital da Rede D'Or foi inspirado no ambiente de um hotel cinco estrelas. Segundo Marcelo Pina, diretor executivo regional, haverá mais tecnologia na interação do paciente com a estrutura e os serviços do hospital. Um equipamento de videoconferência, em processo de desenvolvimento, será disponibilizado ao paciente. Com tela "touch screen", o aparato permitirá o contato remoto até mesmo com o médico. O paciente poderá mudar a iluminação e abrir as cortinas. No caso dos internados em unidades de terapia intensiva (UTI), o equipamento poderá ser operado pelo familiar do paciente.
Outro hospital da rede, o Copa D'Or, investiu na humanização desses espaços. A presença do acompanhante é desejada. Existe banheiro próprio e acomodação nas instalações que se assemelham a um apartamento, mas que são denominadas box.
Os dois últimos andares da nova torre do Hospital Oswaldo Cruz são reservados aos clientes VIP. Entre eles estão executivos, políticos e artistas. As roupa de cama, roupão e chinelos são diferenciados em relação aos artigos disponibilizados para os demais quartos. A louça e os talheres, também. Cesta de boas-vindas nos quartos, máquina de café expresso para os familiares e garçom 24 horas estão entre os serviços exclusivos para esse público.
Outro diferencial: os papéis de internação e os trâmites de tesouraria são preenchidos no próprio quarto. "Não adianta o hospital ter uma estrutura maravilhosa se não tiver um bom atendimento", diz Edson Barreto, supervisor da área do Oswaldo Cruz. "O padrão começa no manobrista, passa pela recepcionista e segue por toda a parte assistencial", afirma ele.
O tratamento dos profissionais encarregados de tocar a rotina de um hospital também mudou. Responsáveis pela limpeza, medicação e alimentação são treinados para serem cordiais e apresentam-se ao entrar no quarto como se estivessem chegando à casa do paciente. Outra mudança significativa: comida de hospital não é mais sinônimo de cozinha sem sabor. Chefes preparam cardápios e pratos personalizados respeitando orientações dos nutricionistas e médicos. Em alguns casos, é possível que um paciente passe um mês no hospital sem repetir um prato. Em outros, três opções são oferecidas a cada refeição. Tudo para estimular a melhora do cliente.
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