Especialização em doenças crônicas e transplantes
16/06/2014 - por Carmen Nery

Especialização em doenças crônicas e transplantes

Por Carmen Nery | Do Rio

Os hospitais brasileiros que têm acreditação pela JCI também se destacam em tratamentos diferenciados, que os transformam em centros de excelência em várias especialidades. Um exemplo é o hospital de excelência Moinhos de Vento, do Rio Grande do Sul, que criou o núcleo de tratamento do enfisema para melhorar a qualidade de vida das pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que inclui bronquite e enfisema.

Segundo Hugo Goulart de Oliveira, um dos coordenadores do núcleo, a DPOC é a 6ª maior causadora de mortes no Brasil e no mundo; passou da 12ª para a 5ª posição em perda de qualidade de vida e, entre as doenças crônicas, é a única cuja incidência está subindo. "O Estudo Platino realizado em 2005 avaliou a quantidade de pessoas acometidas pela doença na América Latina e identificou que, em São Paulo, 10% da população acima de 40 anos têm enfisema, percentual que sobe para 15% entre os que têm acima de 50 e atinge 25% acima de 60 anos", adverte.

Até pouco tempo, as únicas alternativas para as pessoas com esse problema eram a cirurgia de redução do volume pulmonar e o transplante de pulmão, procedimentos com altas morbidade e mortalidade. Em 2001, na Universidade Stanford, foi desenvolvida uma técnica menos invasiva e endoscópica com a implantação de válvulas unidirecionais. Elas impedem que o ar fique preso nas partes do pulmão afetadas pelo enfisema. O Brasil foi um dois seis primeiros países a testar a técnica e Goulart e Amarilio Vieira de Macedo Neto, foram os pioneiros no país.

O núcleo está entre os centros com maior experiência. Já treinou médicos de outros Estados e estabeleceu parcerias com médicos do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Bahia, além de países da América do Sul, como Uruguai, Argentina e Colômbia. Segundo Goulart, já foram realizadas 120 cirurgias. Entre os pacientes está Oscar Taubkin, 76 anos, acometido por enfisema grave que o impedia de andar e respirar, e o obrigava a usar permanentemente oxigênio. Em outubro de 2009, submeteu-se ao tratamento com a implantação de duas válvulas no pulmão direito.

"A cirurgia foi um sucesso. Saí do avião carregado numa maca para me internar no hospital e, cinco dias depois, saí caminhando e respirando sem o auxílio do oxigênio. No ano seguinte, já estava viajando para a Inglaterra e a Irlanda. Passados cinco anos, a doença progrediu no pulmão esquerdo - que não havia sido tratado, então vou me submeter novamente ao tratamento", informa Taubkin.

Já o Hospital Albert Einstein investiu R$ 20 milhões para a instalação de uma sala híbrida de 120 metros quadrados no centro cirúrgico para cirurgias robóticas, associada a aparelhos de hemodinâmica. Segundo Nelson Wolosker, vice-presidente do Einstein, só existem cinco salas semelhantes no mundo.

"Conseguimos operar por robótica ou hemodinâmica para a realização de cateterismo e procedimentos endovasculares e gastroenterológicos. A partir das tomografias simulamos os órgãos e artérias. Já realizamos centenas de cirurgias", explica Wolosker.

Com grande experiência na área cardiovascular, o Hospital São Vicente de Paulo vem aplicando duas técnicas inovadoras no tratamento de cardiopatias. A primeira é a oclusão de auriculeta esquerda, um procedimento ainda raro no Brasil, mas que, nos últimos três anos, vem sendo amplamente adotado em países europeus em pessoas com fibrilação atrial, um tipo de arritmia.

Segundo Cláudio Munhoz da Fontoura Tavares, o procedimento minimiza o risco de formação de coágulos na auriculeta esquerda - uma parte do coração -, que podem gerar problemas como acidente vascular cerebral (AVC) ou obstrução de artérias.

Orlando Pereira Gomes, 63 anos, hipertenso e com problemas cardiovasculares - sofreu infarto em 1999, é dependente de marca-passo e substituiu duas vezes a válvula mitral -, desenvolveu intolerância à medicação anticoagulante. Segundo Munhoz, o quadro clínico de Gomes pedia um tratamento alternativo aos remédios já prescritos.

"O dr Claudio Munhoz havia pesquisado a técnica da oclusão da auriculeta e fez o procedimento. E também sugeriu um marca-passo CDI, mais avançado, que provoca choques no caso de arritmia. Com os dois procedimentos, minha qualidade de vida e segurança aumentaram. Não tenho mais arritmia e tenho uma melhor disposição", conta.

A outra técnica adotada pelo São Vicente de Paulo é a do implante percutâneo de válvula aórtica para tratamento da obstrução da válvula de saída do coração, patologia conhecida como estenose aórtica. Segundo Cyro Rodrigues Vargues, coordenador do setor de hemodinâmica e cardiologia intervencionista do hospital, até então o tratamento era cirurgia de peito aberto que é de alto risco para pacientes acima de 75 anos.

A técnica visa ao implante de outra válvula dentro da válvula danificada por meio de um cateter introduzido por uma artéria da virilha. Embora já aprovado pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o tratamento depende de autorização da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que regula os planos de saúde. "Já foram feitos mais de 800 procedimentos no país, mas todos por meio de liminar", lamenta.



 

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