Uma ferramenta lançada semana passada pelo governo federal para auxiliar médicos no atendimento a pacientes com suspeita de covid-19 faz recomendações de uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como cloroquina e hidroxicloroquina.
Testes realizados pelo Valor com a TrateCov Brasil levam à sugestão desses medicamentos mesmo para os sintomas leves, como fraqueza e fadiga. A ferramenta funciona baseada em uma tabela de pontos, a partir dos quais é indicado o tratamento precoce.
Nesta semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negou que estivesse recomendando qualquer medicamento e chegou a se irritar com jornalistas que o questionaram sobre esse assunto.
Poucos dias antes, porém, ele vinha enfatizando a importância do tratamento precoce. Em uma live com o presidente Jair Bolsonaro, disse que o tratamento era fundamental e que “não há outra saída”.
Em visita a Manaus, Pazuello chegou a dizer que iria visitar as unidades de saúde do Amazonas para averiguar se o tratamento precoce estava sendo devidamente oferecido à população local.
Em um teste na ferramenta, a confirmação de ocorrências como fraqueza e fadiga resultam um escore de gravidade nível 6, que sugere tratamento precoce, independentemente de outros sintomas ou comorbidades. Ao assinalar essa opção, o médico recebe a sugestão de prescrever 12 comprimidos diários de hidroxicloroquina.
Para esses mesmos sintomas, o tratamento sugerido também prevê opções como ivermectina, azitromicina e doxiciciclina. Aparentemente, a combinação de mais de um sintoma chega a escore 6, o que resulta nas mesmas recomendações de prescrição aos médicos.
O Ministério da Saúde informou que a TrateCov está em fase de testes no Amazonas e que “orienta opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada e oferece total autonomia para que o profissional médico decida o melhor tratamento para o paciente, de acordo com cada caso”.