O mau resultado da produção industrial e das vendas do varejo afetou o desempenho do setor de serviços destinados às empresas em março e no conjunto do primeiro trimestre deste ano. Os serviços com pior desempenho e maior influência na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram os de tecnologia da informação e comunicação, com alta nominal de 4,4% sobre março de 2013 e de 6,6% no ano. Essas atividades, sozinhas, respondem por 35% do setor. Além disso, o segmento de transporte terrestre (com alta de 7,1% sobre março de 2013 e peso de 17%) também foi afetado pelos demais setores produtivos, especialmente pelo menor escoamento de mercadorias.
No conjunto, a pesquisa mostrou que a receita nominal do setor de serviços subiu 6,8% em março, ritmo bem inferior ao de janeiro (9,2%) e de fevereiro (10,1%), sempre na comparação com o mesmo período ano passado. Assim, nos dois primeiros meses do ano, a receita ainda ganhava da inflação do setor medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que em março chegou a 9,09% no acumulado de 12 meses.
Na média, o resultado foi ajudado pelo segmento de serviços prestados às famílias, cuja receita foi 10% maior que em março de 2013, percentual que acompanhou a inflação da alimentação fora do domicílio. O desempenho desse setor, contudo, também mostrou desaceleração forte em março, pois nos dois meses anteriores o crescimento foi de 13% sobre o ano passado.
Silvio Sales, consultor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), onde responde pela Sondagem de Serviços, observa que dos onze subsetores pesquisados pelo IBGE, sete apresentaram ritmo menor de crescimento no primeiro trimestre deste ano em relação ao ritmo do fim de 2013, indicando desaceleração. "Nos serviços de alimentação e alojamento para famílias se vê aumento, o que está relacionado ao mercado de trabalho, onde ainda se criam empregos, embora em menor número".
Para Roberto Saldanha, técnico da coordenação de serviços e comércio do IBGE, a desaceleração na receita dos serviços às famílias foi afetada pela renda. Em março, o rendimento médio real recuou 0,7% sobre fevereiro e o avanço sobre março de 2013 foi de 3%, inferior ao crescimento dos primeiros dois meses (média de 3,4%).
Na média, "o resultado do primeiro trimestre [de 8,7%] ficou igual ao do último trimestre de 2013, o que confirma a expectativa de um começo de ano bem fraco", diz Sales, que ressaltou ainda o impacto do Carnaval (em março) sobre os números. "Esse resultado está em linha com o que as pesquisas de confiança indicam e com o mau desempenho dos outros setores". A produção industrial de janeiro a março foi 0,4% menor que a do último trimestre de 2013, descontados os fatores sazonais. O varejo caiu 0,2% em igual comparação.
"A indústria e o comércio são grandes consumidores de serviços. Quando essas atividades não vão bem, os serviços também são afetados, já que eles são complementares. Nessa conjuntura, o setor de serviços sofre como um todo, mas o mais atingido é o de transportes, que é mais dependente dessas atividades", diz Saldanha, do IBGE.
O setor de transportes cresceu 8% em março frente a igual mês do ano anterior. A alta foi inferior à observada em fevereiro, de 14,7%, também na comparação interanual. "Foram menos mercadorias e matérias-primas circulando", explica o pesquisador do IBGE.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, calcula que se for considerado o crescimento nominal em 12 meses até março contra o IPCA de serviços desse período, ele aponta uma queda real de 0,3% do segmento, que vinha sendo um setor importante para a criação de empregos.
Ele pondera que a pesquisa de serviços é apenas uma das fontes de informação para o Produto Interno Bruto (PIB) do setor, e que ela é nova e sem uma série de ajuste sazonal. Mesmo assim, Vale avalia que ela reforça a estimativa de um crescimento de apenas 0,1% no PIB do primeiro trimestre em relação ao final de 2014. Além do trimestre que já passou, para Vale a pesquisa sinaliza um período mais fraco nos próximos meses. "Vejo com dificuldade a recuperação desse segmento no curto prazo e isso poderá ser uma dificuldade adicional para o mercado de trabalho, diz ele, lembrando que, desde 1997, 75% dos empregos líquidos gerados e captados pelo Caged foram em serviços, um dos grandes responsáveis pela melhora da taxa de desemprego nos últimos anos.
Sales, da FGV, também não espera uma recuperação do setor de serviços nos próximos meses, apesar da Copa do Mundo. "O calendário informal da atividade joga para baixo porque serão menos dias de produção", pondera ele, em referência aos dias de jogos do Brasil. Além disso, embora alguns setores possam ser beneficiados, como hotéis e restaurantes, as manifestações podem ampliar o quadro de incertezas, junto com outros fatores, como o próprio futuro da indústria e do investimento.
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